Médico apresenta estudo que relaciona doenças diarreicas agudas com quantidade de chuvas

Ricardo Martins relacionou quantidade de chuvas com ocorrência de diarreia | Foto: Tiarajú Goldschmidt/Câmara de Vereadores

Ricardo Martins relacionou quantidade de chuvas com ocorrência de diarreia | Foto: Tiarajú Goldschmidt/Câmara de Vereadores

08/04/2022 - 15h30

O médico Ricardo Martins apresentou na quinta-feira (7), em sessão ordinária da Câmara, o resultado de sua dissertação de Mestrado pela Unoesc em que relaciona a incidência de doenças diarreicas agudas (DDA) com o índice de chuvas no município. Ele ocupou espaço na sessão a pedido do vereador Carlos Agostini (MDB).

Martins ressaltou que desde que trabalha em São Miguel do Oeste, quando atuava no plantão, percebeu que após a ocorrência de fortes chuvas havia surtos de diarreia. Afirma que pensou em uma forma de provar a relação entre essas ocorrências (diarreia e chuvas), ressaltando que a cidade não possui tratamento de esgoto e que muitas pessoas utilizam águas de poços para consumo humano, e que poderia haver relação entre a contaminação dos poços e os surtos de diarreias.

O médico apresentou dados sobre os baixos índices de tratamento de esgoto no Brasil, apontou que São Miguel do Oeste não possui tratamento de esgoto, e que as pessoas fazem uso massivo de sumidouro, conhecido como “poço negro”. Também destacou que há 4.552 unidades habitacionais no município que usam poços para consumo de água, utilizando fontes subterrâneas. Ele explicou que o solo da região dá proteção inadequada ao aquífero, ou seja, permite a penetração dos resíduos da superfície.

RESULTADOS

Na dissertação, sua hipótese era relacionar chuvas com diarreia, ou seja, a de que quando chove de forma intensa ou prolongada, ocorre o transbordamento do esgoto, que contamina o solo e os aquíferos, contaminando a água dos poços. Para comprovar a tese, buscou dados de análises feitas pelo serviço da Vigilância Sanitária e pelo laboratório da Unoesc, no período de 2016 a 2021.

A Vigilância Sanitária, nesse período, realizou 423 análises, das quais 296 da água da Casan e 127 de poços. Dessas análises, 112 eram impróprias, das quais oito da água da Casan e 104 de poços, sendo nove poços urbanos e os demais na área rural. “Somente 18% dos poços eram potáveis (próprios para consumo), enquanto 97% das amostras da Casan eram potáveis”, comparou.

Já em relação aos dados do laboratório da Unoesc, foram realizadas 476 análises em poços, dos quais 85,9% em área urbana. Desse número, 160 poços, ou 33,6%, eram impróprios para consumo.

Em números totais das fontes de água analisadas, foram 899 amostras, das quais 603 de poços. Desses 603 poços, 43% eram impróprios para consumo, e 27% tinham a bactéria E. coli, que indica que há fezes na água. As conclusões dos números eram que a presença de coliformes fecais era significantemente maior em poços, e a prevalência de E. coli era significantemente maior na zona rural.

Ricardo Martins afirmou que há correlação estatisticamente significativa até meados de 2018 entre pluviosidade e diarreia. De determinado período em diante, o mestrando não conseguiu comprovar a relação em razão da falta de medição de chuvas e da diminuição de unidades notificadoras de diarreia, o que caracteriza subnotificação, e finalmente com a chegada da Covid-19 em março de 2020.

CONCLUSÕES

O médico concluiu que a diarreia é endêmica em SMO, ou seja, que há surtos frequentes e que convivemos com a diarreia geralmente nos meses mais quentes do ano. Como causas, não há tratamento de esgoto, há atividade agropecuária intensa, possuímos solo basáltico e grande número de poços.

“Cada dólar investido em esgoto, são 5,50 dólares economizados em saúde. No Brasil há defasagem no tratamento de esgoto. O IDH de São Miguel do Oeste é alto, mas somente da superfície para cima”, aponta Martins. Ele sugere estabelecer uma rotina de coletas de qualidade da água com amostragem significativa, expandir e capacitar unidades notificadoras de DDA (doença diarreica aguda), implantar testagem para diarreias virais, e fazer busca ativa de DDA através dos agentes de saúde.

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