Ricardo Martins relacionou quantidade de chuvas com ocorrência de diarreia | Foto: Tiarajú Goldschmidt/Câmara de Vereadores
O médico Ricardo
Martins apresentou na quinta-feira (7), em sessão ordinária da Câmara, o
resultado de sua dissertação de Mestrado pela Unoesc em que relaciona a
incidência de doenças diarreicas agudas (DDA) com o índice de chuvas no
município. Ele ocupou espaço na sessão a pedido do vereador Carlos Agostini
(MDB).
Martins ressaltou
que desde que trabalha em São Miguel do Oeste, quando atuava no plantão,
percebeu que após a ocorrência de fortes chuvas havia surtos de diarreia.
Afirma que pensou em uma forma de provar a relação entre essas ocorrências
(diarreia e chuvas), ressaltando que a cidade não possui tratamento de esgoto e
que muitas pessoas utilizam águas de poços para consumo humano, e que poderia
haver relação entre a contaminação dos poços e os surtos de diarreias.
O médico apresentou
dados sobre os baixos índices de tratamento de esgoto no Brasil, apontou que
São Miguel do Oeste não possui tratamento de esgoto, e que as pessoas fazem uso
massivo de sumidouro, conhecido como “poço negro”. Também destacou que há 4.552
unidades habitacionais no município que usam poços para consumo de água,
utilizando fontes subterrâneas. Ele explicou que o solo da região dá proteção
inadequada ao aquífero, ou seja, permite a penetração dos resíduos da superfície.
RESULTADOS
Na dissertação, sua
hipótese era relacionar chuvas com diarreia, ou seja, a de que quando chove de
forma intensa ou prolongada, ocorre o transbordamento do esgoto, que contamina
o solo e os aquíferos, contaminando a água dos poços. Para comprovar a tese, buscou
dados de análises feitas pelo serviço da Vigilância Sanitária e pelo
laboratório da Unoesc, no período de 2016 a 2021.
A Vigilância
Sanitária, nesse período, realizou 423 análises, das quais 296 da água da Casan
e 127 de poços. Dessas análises, 112 eram impróprias, das quais oito da água da
Casan e 104 de poços, sendo nove poços urbanos e os demais na área rural.
“Somente 18% dos poços eram potáveis (próprios para consumo), enquanto 97% das
amostras da Casan eram potáveis”, comparou.
Já em relação aos
dados do laboratório da Unoesc, foram realizadas 476 análises em poços, dos
quais 85,9% em área urbana. Desse número, 160 poços, ou 33,6%, eram impróprios
para consumo.
Em números totais
das fontes de água analisadas, foram 899 amostras, das quais 603 de poços.
Desses 603 poços, 43% eram impróprios para consumo, e 27% tinham a
bactéria E. coli, que indica que há fezes na água. As conclusões
dos números eram que a presença de coliformes fecais era significantemente
maior em poços, e a prevalência de E. coli era
significantemente maior na zona rural.
Ricardo Martins
afirmou que há correlação estatisticamente significativa até meados de 2018
entre pluviosidade e diarreia. De determinado período em diante, o mestrando
não conseguiu comprovar a relação em razão da falta de medição de chuvas e da
diminuição de unidades notificadoras de diarreia, o que caracteriza
subnotificação, e finalmente com a chegada da Covid-19 em março de 2020.
CONCLUSÕES
O médico concluiu
que a diarreia é endêmica em SMO, ou seja, que há surtos frequentes e que
convivemos com a diarreia geralmente nos meses mais quentes do ano. Como
causas, não há tratamento de esgoto, há atividade agropecuária intensa,
possuímos solo basáltico e grande número de poços.
“Cada dólar
investido em esgoto, são 5,50 dólares economizados em saúde. No Brasil há
defasagem no tratamento de esgoto. O IDH de São Miguel do Oeste é alto, mas
somente da superfície para cima”, aponta Martins. Ele sugere estabelecer uma
rotina de coletas de qualidade da água com amostragem significativa, expandir e
capacitar unidades notificadoras de DDA (doença diarreica aguda), implantar
testagem para diarreias virais, e fazer busca ativa de DDA através dos agentes
de saúde.
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