O prefeito de Bom Retiro, Vilmar Neckel, e sete servidores, incluindo
secretários municipais, são acusados de pagar irregularmente quase R$ 800 mil
em horas extras a servidores públicos. A Justiça aceitou denúncia do Ministério
Público de Santa Catarina (MPSC) por improbidade administrativa e mandou bloquear
os bens dos réus em R$ 2,7 milhões. O município, localizado na Serra
catarinense, tem 9 mil habitantes.
Na decisão, o juiz Edison de Oliveira Júnior destacou que há provas de
que servidores agiram de forma ordenada para enriquecimento ilícito e determinou
ainda o afastamento deles do comando das secretarias durante o processo.
"Eu vejo de uma questão econômica ao município. Trabalhar com o
quadro mais reduzido, poder pagar melhor o funcionário", disse Neckel.
Segundo a apuração do MPSC, a prefeitura gastou R$ 786.904,11 com horas
extras entre janeiro de 2017 e março de 2019, sem comprovação de que foram
realmente cumpridas, porque o controle regular da jornada de trabalho não é
feito adequadamente.
De alguns documentos consta somente o apelido do funcionário e em
outros, a soma das horas extras não bate. Ainda há documentos com rasuras e
alteração de datas e horários, como mostra o caderno ponto dos funcionários da
Secretaria de Obras.
Em um dos documentos, o funcionário assina o ponto na diagonal para
economizar assinatura. Em outro, a justificativa para a falta ao trabalho é a
ida a um velório. Há ainda um que só mostra as horas extras, sem apontar
horário de entrada e saída.
No total, o MPSC investigou as horas extras recebidas por 171 servidores
e apontou que o pagamento ilegal de horas era comandado pelo prefeito em
conjunto com os responsáveis pelas secretarias municipais.
O gestor nega qualquer irregularidade. "Não significa que não tem
um controle exato, que houve uma má-fé, ou um desvio de uma hora, jamais. A
hora que foi gasta foi paga ao funcionário que prestou o serviço", disse o
prefeito. "Essa preocupação eu não tenho porque jamais existiu uma
comprovação de enriquecimento ilícito. São todas pessoas humildes e de salário
razoável", acrescentou.
Os quase R$ 800 mil com horas extras são mais do que o dobro do que a
prefeitura gastou com merenda escolar em todo o ano passado, R$ 348.283,09. O
prefeito diz que agora vai fazer mudanças. "Todos os setores vão ter
relógio ponto digital com biometria", disse.
Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), Bom Retiro é uma das cidades com menor Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) no estado (0,699), abaixo da média catarinense (0,774).
Legislativo municipal
Os vereadores de Bom Retiro também falaram sobre o assunto. "Nós
precisamos saber o que realmente está acontecendo, para que então possamos
tomar as devidas providências ou precauções para que erros não retornem a
acontecer", disse Erivelton Pereira.
Mas o presidente da Casa acha que ainda não é hora de trazer o assunto pra debate. "Estamos esperando a Justiça né, porque isso aí não foi nem julgado ainda. Foi só denunciado", disse o vereador Alcioni Marinho.
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