Foto: Tiarajú Goldschmidt/Câmara de Vereadores
A alta demanda por
atendimentos em saúde mental, como psicologia e psiquiatria, e o tempo de fila
de espera para esses atendimentos, foram os principais assuntos debatidos em
audiência pública na Câmara Municipal de São Miguel do Oeste. O evento, proposto
pelos vereadores Paulo Drumm e Marli da Rosa (PSD), foi realizado no plenário
da Câmara nesta segunda-feira (11) e reuniu profissionais da saúde e de
assistência social, representantes do Poder Executivo Municipal e do Ministério
Público, e de cursos de Psicologia da Unoesc e da Uceff. O objetivo foi debater
a Política Municipal de Saúde Mental.
A audiência foi
mediada pelo presidente Paulo Drumm. Inicialmente, a vereadora Marli da Rosa
justificou que há alguns meses, preocupada com o tema da saúde mental, fez um
requerimento de informação sobre o tema à Prefeitura. Com a resposta, disse, se
deparou com a situação de que há poucos profissionais de psicologia atuando no
Município; e que há uma fila de espera de mais de mil atendimentos de
psicólogo.
“As pessoas, as
famílias, estão precisando de ajuda. Estão gritando, pedindo apoio, elas
precisam de atendimento”, alertou, citando que nos últimos 10 anos São Miguel
do Oeste teve 49 suicídios. Marli apontou que a pessoa que sofre por sua saúde
mental muitas vezes não tem dinheiro para pagar por um atendimento particular.
O secretário
municipal de Saúde, Alfredo Spier, apresentou um relatório do Tribunal de
Contas do Estado com dados sobre a saúde mental no Estado, incluindo São Miguel
do Oeste. Os dados mostram um diagnóstico sobre o atendimento em psicologia e
psiquiatria, sobre a estrutura de atendimento, tempo de espera, entre outros.
Destacou que SMO
teve 969 atendimentos em psiquiatria neste ano. Para janeiro já há 135
atendimentos agendados, e 90 para fevereiro. Em psicologia, a média de
pacientes atendidos por mês é de 78 pessoas. Disse que há cerca de 20% de
faltas nos atendimentos, ou seja, de cada 10 pacientes, 2 não comparecem à
consulta.
A promotora de
Justiça da 3ª Promotoria, Karen Damian Pacheco Pinto, falou sobre a internação,
que é a medida mais extrema, a que se recorre quando deu “tudo errado”. Ela
ressaltou que a internação não vai sumir com o problema de saúde mental, ela
tem outros objetivos, como a desintoxicação de álcool e drogas. “É necessário
que a gente pense em novas estratégias, sempre pensando resolver por meio da
interdisciplinaridade, com a saúde, a assistência social. É preciso que tenha
esse trabalho conjunto”, afirmou a promotora, defendendo um trabalho
preventivo. Karen apontou que há uma fila de espera de mais de 1300 pessoas
para atendimentos de psicologia, alguns aguardando desde o ano de 2019. E que
isso se agrava quando os pacientes são crianças e adolescentes.
Maycon Hammes,
promotor de Justiça da 1ª Promotoria, afirmou que “temos um problema real na
saúde mental, e é um problema grave”. Disse que quando estava na 3ª Promotoria
já ouvia sobre pacientes em fila de espera há três ou quatro anos, que é uma
situação que se repete em cada mandato. Afirmou que os municípios têm
dificuldade em conseguir um profissional de psiquiatria, assim como de outras
especialidades da medicina.
Hammes falou sobre
a quantidade de atendimentos de psicologia, e da fila de espera de mais de
1.300 pessoas. Disse que a falta de atendimento afeta toda a família, e que só
há uma solução: o município contratar mais psicólogos. Afirmou que não precisa
propor Termo de Ajustamento de Conduta cobrando a contratação dos profissionais
para um problema que todos reconhecem que existe.
SITUAÇÃO NO
ESTADO
Representando a
Gerência Regional de Saúde do Estado, Sirlei Fávero Cetolin disse que
normalmente a saúde mental é o último item da pauta dos gestores nas reuniões;
que normalmente cobram mais leitos de internação, ou que as cobranças são pela
saúde física, por leitos em hospital. Ela afirmou que entende que internação é
para quando todos os outros setores falharam. Citou que há em torno de 750 mil
pessoas em Santa Catarina precisando de algum tipo de atendimento de saúde
mental.
A vereadora Maria
Tereza Capra, ao fazer uso da palavra, lembrou que em 2019 fez uma audiência
pública sobre o mesmo tema, e que desde então não se teve praticamente nenhum
avanço. Que muitos dos presentes participaram daquela audiência. Ela cobrou a
contratação de mais psicólogos. Disse ainda que desde 2008 se busca a
implantação de um Caps AD (Centro de Atendimento Psicossocial Álcool e Drogas)
no município, e que sugere inclusive a criação desse órgão através de consórcio
com outros municípios.
ATENDIMENTOS NO
MUNICÍPIO
Gabriela Gazito, do
Departamento de Saúde Mental, falou sobre a realidade do atendimento. Afirmou
que hoje as equipes atendem as urgências e emergências, mas também solicitações
de 2019 que foram classificadas como não-graves e eletivas. Ela justificou, também,
o fato de haver tanta demanda. Disse que o paciente é atendido na psicoterapia
tradicional, em que não há data para sair do atendimento (ter alta). Ela
afirmou que a equipe propôs uma capacitação em psicoterapia breve, para dar
suporte; e que estão pensando também em plantões psicológicos nas unidades de
saúde, para situações em que há emergência.
A procuradora do
Município, Bárbara Rodrigues, destacou ações da Administração Municipal para
reduzir a fila. Citou a implantação recente do Centro de Atendimento
Educacional (Caesmo), que prevê atendimento a alunos da rede municipal. Bárbara
disse que a Administração estuda contratar mais 10 profissionais de psicologia,
por um período de dois anos, para ampliar os atendimentos.
Ao final da
audiência, a vereadora Marli da Rosa agradeceu aos participantes pelo debate,
disse que os presentes são comprometidos com esse assunto, e que a audiência é
o início de uma caminhada. “Começamos aqui mexendo numa ferida, num assunto
delicado, mas precisamos mexer para ter resultado ali na frente”,
concluiu.
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