A 1ª Vara Federal
de Ponta Grossa determinou o afastamento de 39 fiscais investigados na 4ª fase da Operação Carne Fraca, deflagrada nesta
terça-feira (1º).
A determinação atende a um pedido do Ministério Público Federal (MPF),
que afirma que auditores fiscais ligados ao Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (Mapa) e órgãos municipais conveniados receberam vantagens
indevidas da BRF.
De acordo com a Polícia Federal (PF), 60 servidores são investigados
nesta fase da operação. O afastamento se refere a todos os fiscais investigados
que ainda estão na ativa.
Entre os servidores afastados, estão:
31 fiscais do Ministério da
Agricultura;
1 fiscal do Ministério da Saúde;
2 fiscais da Secretaria Estadual de
Agricultura de Santa Catarina;
3 fiscais da Prefeitura de Mineiros
(GO), em convênio com o Mapa;
1 fiscal da Prefeitura de Jataí
(GO) em convênio com o Mapa;
1 fiscal da Prefeitura de Capinzal
(SC).
Segundo a PF, a BRF colaborou espontaneamente com as investigações e
passou a relação de fiscais que foram favorecidos. Segundo a própria empresa,
cerca de R$ 19 milhões foram pagos em vantagens indevidas aos fiscais em um
esquema que durou até 2017.
Os pagamentos aos servidores, de acordo com o MPF, foram feitos em
espécie ou de forma indireta, com o pagamento de planos de saúde aos fiscais e
seus dependentes, ou na promoção de familiares destes servidores que
trabalhavam para a BRF.
"A empresa queria ter um certo conforto no sentido de não ser
incomodada pela fiscalização", afirmou o delegado da PF, Mauricio Moscardi
Grillo
Empresas que intermediavam estes pagamentos aos fiscais também são
investigadas nesta fase da operação.
O MPF justificou o pedido dos afastamentos para que os servidores
"não tumultuem as investigações, nem possam permanecer exercendo
atividades que se mostram ilegais".
Carne Fraca
A 1ª fase da Operação Carne Fraca foi deflagrada em 2017 para
apurar o envolvimento de fiscais do Ministério da Agricultura em um esquema de
liberação de licenças e fiscalização irregular de frigoríficos.
Desde então foram investigadas a venda de produtos vencidos, uso de
produtos químicos nas carnes e até a presença de papelão nos alimentos.
Segundo a PF, a fase atual da Carne Fraca foi deflagrada a partir de
informações colhidas na 3ª fase da operação, em que executivos da BRF foram presos.
Na oportunidade, foram investigados a produção de laudos fraudulentos
relacionados à presença de salmonela em alimentos para exportação.
O que dizem os citados
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento informou que a
operação diz respeito a fatos ocorridos até 2017 e que tem colaborado, desde a
primeira fase, com as autoridades policiais e judiciárias.
O Mapa informou que as informações sobre os servidores alvos desta etapa
da operação foram enviadas hoje ao ministério, "que já tomou e continuará
tomando todas as providências e sanções legais cabíveis"
"O Ministério reafirma a plena confiança em sua área de
fiscalização agropecuária, já reestruturada, e entende que essa situação é uma
exceção à regra e não compromete a efetiva atuação de seus 2.500 fiscais",
afirmou.
A BRF informou que nenhum de seus escritórios ou instalações ou de seus
administradores foi alvo de mandados nesta fase da operação, e que "as
atividades seguem em plena normalidade".
A empresa afirmou que tem colaborado com as autoridades para o
esclarecimento dos fatos apurados nas investigações conduzidas pela Polícia
Federal e Ministério Público.
"A BRF reitera o compromisso de sua administração com a adoção de
um sistema eficaz, eficiente e integrado de compliance, que continue
assegurando a conformidade de sua atuação com as normas vigentes" afirmou
a empresa.
A Secretaria de Estado da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento
Rural de Santa Catarina disse que foi surpreendida pelas denúncias envolvendo
os dois agentes de serviços gerais ligados ao quadro funcional.
No entanto, segundo a secretaria, os suspeitos estavam oficialmente
cedidos para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA),
desde 4 de dezembro de 2018, não cumprindo nenhuma atividade na Secretaria da
Agricultura ou suas empresas vinculadas.
"Cabe ainda ressaltar que um dos servidores aposentou-se em junho
de 2019. E o outro encontra-se em gozo de licença prêmio desde 01 de abril de
2019, com retorno previsto para 13 de fevereiro de 2020", disse, em nota.
A secretaria afirmou que "permanece à disposição de todos os órgãos para colaborar com as investigações".
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