O governador Carlos
Moisés da Silva (PSL) entregou nesta terça-feira (29) a defesa referente ao
segundo pedido de impeachment em tramitação na Assembleia Legislativa, que
trata principalmente da compra dos 200 respiradores artificiais não entregues e
da tentativa de contratação do hospital de campanha de Itajaí. Até a quinta-feira
(1º), a vice-governadora Daniela Reinehr (sem partido), que também foi citada
no pedido de impeachment, deverá apresentar a sua defesa.
A representação por crime de responsabilidade que deu origem a esse segundo pedido de impeachment foi apresentada em 10 de agosto por 16 pessoas, entre advogados, empresários e profissionais liberais, e recebida pela Presidência da Alesc no dia 3 de setembro, com base em recomendação da Procuradoria Jurídica da Casa. A denúncia é assinada por Hélio Cesar Bairros, Bruno de Oliveira Carreirão, Beatriz Campos Kowalski, Marcelo Batista de Souza, Carlos Alberto Vieira, Fernando de Mello Vianna, Leonardo Boarchart, Dulcianne Beckhauser Borchardt, Anselmo Cerello, Ivo Borchardt, Gabrielle Beckhauser Rodrigues, Adauto Beckhuser, Josue Ledra Leite, Filipe Henrique Brolese, Sérgio Cunha Cardoso e Nelson Lucera Filho.
A denúncia contra o governador
Os denunciantes
apontam que Moisés teve participação durante todo o processo de aquisição dos
equipamentos. Para isso, citam depoimento do presidente do Tribunal de Contas
do Estado (TCE), conselheiro Adircélio de Moraes Ferreira Júnior, à
investigação da Operação O², no qual o dirigente afirma ter alertado o
governador, em conversa telefônica, sobre as condições necessárias para o
pagamento antecipado em casos de aquisições pelo Estado.
Além disso, o
governador, segundo a representação, encaminhou ao TCE ofício no qual
questionava sobre a viabilidade de compras com pagamento antecipado, depois que
o pagamento à Veigamed havia sido efetuado. Para os denunciantes, Moisés
"não tinha interesse na resposta à consulta formal ao TCE. O governador
não queria saber quais eram as garantias necessárias para o pagamento
antecipado, porque sabia que a empresa não poderia fornecê-las. Seu único
intuito era dar a impressão de ter sido diligente, para tentar dar contornos de
legalidade a seu ato, que sabia ser ilegal."
Segundo o despacho
do presidente da Assembleia, no qual a denúncia foi recebida, os denunciantes
apontam, com fortes indícios, a irregularidade no processo de compra dos
respiradores, feita com uma empresa considerada de fachada, em desacordo com a
Lei de Licitações, que resultou em prejuízo de R$ 33 milhões aos cofres do
Estado, sendo que R$ 11 milhões foram recuperados devido à atuação dos órgãos
de controle e investigação.
Os autores da
denúncia também apontam responsabilidade do governador na destinação de R$ 100
milhões para o combate à Covid-19 e o simultâneo lançamento do edital para a
contratação do hospital de campanha que seria instalado em Itajaí. Para eles,
“há imputação de prática de ordenação de despesas não autorizadas por lei, sem
a observância dos requisitos legais, visando à contratação de empresa Hospital
Mahatma Gandhi”. Os denunciantes consideram que na tentativa de contratação
dessa empresa, o Executivo desconsiderou “graves falhas na proposta vitoriosa,
com a desclassificação dos demais proponentes, para benefício da empresa
contratada.”
Ainda com relação à
contratação do hospital de campanha, os denunciantes alertaram que as
irregularidades do procedimento eram de conhecimento do governador, por ser
Moisés o coautor do mandado de segurança que motivou a reanálise das propostas
apresentadas na licitação do hospital.
O chefe do
Executivo também cometeu crime, segundo a representação, ao prestar depoimento
supostamente falso à CPI dos Respiradores da Alesc, criada para investigar a
compra dos equipamentos. Para os denunciantes, Moisés mentiu aos deputados
sobre o momento em que tomou conhecimento do pagamento antecipado dos R$ 33
milhões. O relatório final da CPI também apontou que o governador mentiu em sua
resposta aos deputados.
Na resposta à
comissão parlamentar de inquérito, o governador afirmou que só tomou
conhecimento da compra com pagamento antecipado no dia 22 de abril. No entanto,
para os denunciantes, Moisés já sabia da compra bem antes dessa data, não só
pela apresentação de um projeto de lei, no final de março, que autorizava
compras com pagamento antecipado (projeto esse que foi retirado antes mesmo de
entrar em tramitação na Alesc), mas pela conversa telefônica com o presidente
do TCE.
O governador também é suspeito de ser omisso ao não responsabilizar o ex-chefe da Casa Civil Douglas Borba e o ex-secretário da Saúde Helton Zeferino na compra dos respiradores. Os denunciados entendem como crime de responsabilidade o fato de o governador não ter aberto procedimentos administrativos internos para investigar a conduta de Borba e Zeferino na compra dos 200 respiradores.
A denúncia contra a vice
Os denunciantes,
conforme o despacho do presidente da Alesc, consideraram que Daniela “calou-se
e não procedeu com o dever de ofício” no caso dos respiradores, diferente do
que ocorreu na contratação do hospital de campanha, quando ela se manifestou
publicamente insatisfeita com o procedimento. “Afirmam os denunciantes que o
silêncio da vice-governadora quanto aos fatos narrados demonstra seu
distanciamento expresso do cumprimento das regras atinentes ao orçamento e
planejamento”, relata a procuradoria.
Da mesma forma, Daniela teria negligenciado “a arrecadação das rendas, impostos e taxas, bem como a conservação do patrimônio”, já que, conforme a denúncia, ela “não acompanhou, não fiscalizou e tampouco se responsabilizou pela aquisição emergencial de 200 respiradores junto à Veigamed pelo importe de R$ 33 milhões, evidenciando ato de negligência criminosa perante o contribuinte catarinense.”
Próximos passos
Os deputados da
comissão vão analisar a representação e as defesas dos denunciados. O relator,
deputado Valdir Cobalchini (MDB), terá o prazo de cinco sessões ordinárias,
contados a partir do recebimento das defesas, para elaborar parecer, que
resultará no projeto de decreto legislativo (PDL) sobre o acatamento ou não da
denúncia.
A comissão deverá
deliberar sobre esse parecer antes de enviá-lo para votação em plenário. Após
essa deliberação, o relatório será lido em sessão ordinária, publicado no
Diário Oficial e, 48 horas depois de sua publicação, colocado para discussão e
votação em sessão plenária. A votação será aberta e nominal.
Se o parecer
recomendar o recebimento da denúncia e for aprovado com no mínimo 2/3 dos votos
favoráveis dos deputados (27 votos), será instaurado um novo tribunal composto
por parlamentares e desembargadores para julgar Moisés e Daniela.
Crimes de
responsabilidade supostamente praticados pelo governador e pela vice:
Carlos Moisés
Ordenar
despesas não autorizadas por lei ou sem observância das prescrições legais
relativas às normas (artigo 11, 1, da Lei 1.079/1950)
Omissão
de informações às comissões parlamentares de inquérito, inclusive as que
envolvam sigilo, ou a prestação de informações falsas (artigo 47, parágrafo
quarto, da Constituição do Estado de Santa Catarina)
Não
tornar efetiva a responsabilidade dos seus subordinados, quando manifesta em
delitos funcionais ou na prática de atos contrários à Constituição (artigo 9º,
3, da Lei 1.079/1950)
Daniela Reinehr
Ordenar
despesas não autorizadas por lei ou sem observância das prescrições legais
relativas às normas (artigo 11, 1, da Lei 1.079/1950)
Negligenciar
a arrecadação das rendas impostos e taxas, bem como a conservação do patrimônio
(artigo 11, 5, da Lei 1.079/1950)
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