As exportações no
agronegócio ultrapassaram a barreira dos US$ 10 bilhões em abril deste ano,
mesmo em meio à pandemia do novo coronavírus. O valor registrado foi 25%
superior ao mesmo período de 2019. O recorde anterior, segundo o Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), ocorreu em 2013, quando o país
arrecadou US$ 9,65 bilhões em vendas para outros países.
O faturamento
inédito foi obtido graças ao incremento da soja. O embarque do grão cresceu
73,4% em um ano, o que representa 16,3 milhões de toneladas. A China foi o
principal comprador brasileiro, com quase 12 milhões de toneladas – 72% do total
exportado. A receita das vendas da soja em grãos saltou de US$ 3,3 bilhões em
abril do ano passado para US$ 5,46 bilhões no mês passado, um crescimento de
mais de US$ 2 bi.
“As vendas têm superado as expectativas, sobretudo com a soja e o setor de carnes bovinas. Temos uma perspectiva de uma boa safra. Então, o setor rural está caminhando para uma importante contribuição nesse momento de crise”, considera o presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF), Cesar Bergo.
Com a crise mundial
na saúde, houve forte demanda pelos grãos, segundo dados do Mapa. Esse
crescimento foi aliado à redução das demandas pelos demais produtos da balança
comercial, o que ajudou a aumentar a participação do agronegócio brasileiro no
mercado internacional.
“Por causa da crise
com os EUA e do fechamento de plantas de abatimento de bovinos, a China tem
buscado no Brasil as suas necessidades. E os números mostraram realmente que o
setor de agrobusiness está indo muito bem. A Europa está com problemas de
abastecimento e o Brasil, com sua produção agroindustrial, vai provendo o mundo
todo e os números da pauta de exportação mostram esse fator importante mesmo
nesse momento de crise”, acredita Bergo.
A pesquisadora de
Macroeconomia do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea)
Andreia Adami confirma que houve redução nas exportações nos primeiros meses do
ano e problemas logísticos na China, com o não descarregamento de mercadorias
no porto causado pela pandemia e o isolamento total (lockdown).
“Em março, começa a
voltar a certa normalidade e, em abril, houve um aumento que pode ter sido para
compensar a redução dos desembarques de janeiro e fevereiro”, comenta. Ela
reforça a importância do país chinês para as exportações brasileiras e lembra
que a União Europeia também contribui para esse aumento do setor.
“A China é um parceiro importante e a UE tem mantido o volume de compras. São duas regiões importantes para o Brasil e que já contam com uma normalização nas atividades. Isso deve favorecer a compra e o recebimento de produtos do agronegócio”, analisa Andreia.
Valor acumulado
Para o professor de
Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Mauro Rochlin, o fato de as
exportações estarem no mesmo nível do ano passado causa “estranheza”. “É uma
surpresa exatamente porque temos uma crise inédita iniciada em março deste ano.
A gente viu que o agronegócio passou a ter uma participação ainda mais
expressiva, com destaque para a soja”, pontua.
Já com as
importações, o país recuou 4,5% nesse acumulado, com US$ 4,57 bilhões. Com
isso, o saldo da balança comercial do agronegócio foi positivo em US$ 26,83
bilhões nesse período.
A carne bovina foi
o principal produto entre os tipos de corte nesses quatro primeiros meses,
sendo responsável por 45,3% do valor exportado. A carne in natura registrou
recorde histórico para o quadrimestre, com quase 470 mil de toneladas
exportadas e um valor de US$ 2,13 bilhões. A China, assim como no mercado de
grãos, também representou quase metade das exportações de carne bovina
brasileira (49,6%).
“O fechamento de
plantas de produção em países como os Estados Unidos abre oportunidade para que
o mercado brasileiro venda mais carne para a China”, projeta Cesar Bergo. É o
que também reforça o professor Mauro Rochlin. “Espera-se que a China continue
sendo, sem dúvida, nosso principal parceiro, ainda mais porque ela é compradora
de produtos agropecuários, que não sofreram impacto maior nesse momento de
crise”, indica.
Os especialistas
concordam que o cenário pós-pandemia é muito favorável para o mercado
brasileiro nesse setor. “Somos, praticamente, os maiores produtores de proteína
animal do mundo. Então, devemos aumentar as exportações, o que será positivo
para a balança comercial, sem haver aquele desabastecimento interno que
aconteceu no ano passado, em função da grande demanda da China”, completa
Bergo.
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