Abril bate recorde de exportações no agronegócio e ultrapassa US$ 10 bilhões

19/05/2020 - 11h39

As exportações no agronegócio ultrapassaram a barreira dos US$ 10 bilhões em abril deste ano, mesmo em meio à pandemia do novo coronavírus. O valor registrado foi 25% superior ao mesmo período de 2019. O recorde anterior, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), ocorreu em 2013, quando o país arrecadou US$ 9,65 bilhões em vendas para outros países. 

O faturamento inédito foi obtido graças ao incremento da soja. O embarque do grão cresceu 73,4% em um ano, o que representa 16,3 milhões de toneladas. A China foi o principal comprador brasileiro, com quase 12 milhões de toneladas – 72% do total exportado. A receita das vendas da soja em grãos saltou de US$ 3,3 bilhões em abril do ano passado para US$ 5,46 bilhões no mês passado, um crescimento de mais de US$ 2 bi. 

“As vendas têm superado as expectativas, sobretudo com a soja e o setor de carnes bovinas. Temos uma perspectiva de uma boa safra. Então, o setor rural está caminhando para uma importante contribuição nesse momento de crise”, considera o presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF), Cesar Bergo. 


Com a crise mundial na saúde, houve forte demanda pelos grãos, segundo dados do Mapa. Esse crescimento foi aliado à redução das demandas pelos demais produtos da balança comercial, o que ajudou a aumentar a participação do agronegócio brasileiro no mercado internacional. 

“Por causa da crise com os EUA e do fechamento de plantas de abatimento de bovinos, a China tem buscado no Brasil as suas necessidades. E os números mostraram realmente que o setor de agrobusiness está indo muito bem. A Europa está com problemas de abastecimento e o Brasil, com sua produção agroindustrial, vai provendo o mundo todo e os números da pauta de exportação mostram esse fator importante mesmo nesse momento de crise”, acredita Bergo. 

A pesquisadora de Macroeconomia do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) Andreia Adami confirma que houve redução nas exportações nos primeiros meses do ano e problemas logísticos na China, com o não descarregamento de mercadorias no porto causado pela pandemia e o isolamento total (lockdown).

“Em março, começa a voltar a certa normalidade e, em abril, houve um aumento que pode ter sido para compensar a redução dos desembarques de janeiro e fevereiro”, comenta. Ela reforça a importância do país chinês para as exportações brasileiras e lembra que a União Europeia também contribui para esse aumento do setor. 

“A China é um parceiro importante e a UE tem mantido o volume de compras. São duas regiões importantes para o Brasil e que já contam com uma normalização nas atividades. Isso deve favorecer a compra e o recebimento de produtos do agronegócio”, analisa Andreia.

Valor acumulado 

Nos quatro primeiros meses de 2020, as exportações brasileiras somaram uma alta de 5,9% em relação ao mesmo período do ano anterior. Isso significa um incremento de R$ 31,4 bilhões. O Mapa considerou essas vendas externas como o melhor resultado acumulado entre janeiro e abril na série histórica - quase metade das exportações totais brasileiras (46,6%). 

Para o professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Mauro Rochlin, o fato de as exportações estarem no mesmo nível do ano passado causa “estranheza”. “É uma surpresa exatamente porque temos uma crise inédita iniciada em março deste ano. A gente viu que o agronegócio passou a ter uma participação ainda mais expressiva, com destaque para a soja”, pontua. 

Já com as importações, o país recuou 4,5% nesse acumulado, com US$ 4,57 bilhões. Com isso, o saldo da balança comercial do agronegócio foi positivo em US$ 26,83 bilhões nesse período.

A carne bovina foi o principal produto entre os tipos de corte nesses quatro primeiros meses, sendo responsável por 45,3% do valor exportado. A carne in natura registrou recorde histórico para o quadrimestre, com quase 470 mil de toneladas exportadas e um valor de US$ 2,13 bilhões. A China, assim como no mercado de grãos, também representou quase metade das exportações de carne bovina brasileira (49,6%). 

“O fechamento de plantas de produção em países como os Estados Unidos abre oportunidade para que o mercado brasileiro venda mais carne para a China”, projeta Cesar Bergo. É o que também reforça o professor Mauro Rochlin. “Espera-se que a China continue sendo, sem dúvida, nosso principal parceiro, ainda mais porque ela é compradora de produtos agropecuários, que não sofreram impacto maior nesse momento de crise”, indica. 

Os especialistas concordam que o cenário pós-pandemia é muito favorável para o mercado brasileiro nesse setor. “Somos, praticamente, os maiores produtores de proteína animal do mundo. Então, devemos aumentar as exportações, o que será positivo para a balança comercial, sem haver aquele desabastecimento interno que aconteceu no ano passado, em função da grande demanda da China”, completa Bergo.  

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