A Alesc (Assembleia Legislativa de Santa Catarina) deu início na manhã desta quinta-feira (30) ao processo de impeachment contra Carlos Moisés (PSL). Além do governador, o pedido se estende a vice-governadora Daniela Reinehr (sem partido) ao secretário de Estado da Administração, Jorge Eduardo Tasca.
O processo para a saída de Moisés foi instaurado com base numa representação feita pelo defensor público Ralf Zimmer Junior. Na denúncia, Zimmer acusou o governador, a vice e o secretário de terem infringido a lei ao conceder um reajuste salarial aos procuradores do Estado. O valor foi equiparado ao salário pago no legislativo catarinense.
A leitura da denúncia durou cerca de 2 horas e foi feita pelo 1º secretário
Laércio Schuster Junior (PSB). “Depois de mais de 20 anos, infelizmente Santa
Catarina revive uma história de impedimento, tanto do seu governador quanto da
sua vice-governadora”, afirmou.
No texto foram destacadas
legislações, decisões do STF e TJSC (Tribunal de Justiça de Santa
Catarina).
Segundo a denúncia lida por
Schuster, a ilegalidade do aumento salarial foi “iniciada sob os auspícios da
gestão de Moisés e encampada por Daniela, que estava a frente do gabinete”,
quando o assunto veio à público.
A inclusão do
assunto na pauta foi feita pelo presidente da Alesc, Julio Garcia (PSD), minutos
antes. O início do rito de impeachment
foi uma surpresa, já que não estava na pauta da casa.
Ao sinalizar ao assunto no
plenário, Garcia afirmou estar “agindo no estrito cumprimento das
responsabilidades inerentes ao honroso cargo de presidente”, disse. O chefe
da casa também afirmou ter recebido críticas e disse que irá responder no
“momento e foro adequados”.
Leitura foi adiada dois dias antes
Na última terça-feira (28), a
leitura da representação de impeachment foi adiada após um pedido da defesa do
governador. Apresentado pelo advogado que defende Carlos Moisés, a solicitação
de Marcos Fey Probst levantou a suspeita sobre a legitimidade do autor da
denúncia.
Segundo a defesa, Zimmer não
estaria em pleno gozo dos direitos políticos, em função de uma ação criminal
que corre contra ele na Justiça Estadual.
Entenda o pedido
Segundo a denúncia lida no
plenário da Alesc desta manhã, o governo de Santa Catarina concedeu aumento
salarial para os procuradores do Estado incluídos na folha de pagamentos desde
outubro de 2019.
A chamada verba de equivalência equiparou o salário dos procuradores do Estado
com os da Alesc, em média de R$ 35 mil mensais. Segundo a denúncia, o reajuste
não tem amparo legal.
O ato administrativo assinado
por Moisés foi baseado em uma decisão de dezembro de 2019 do TJSC (Tribunal de
Justiça de Santa Catarina), mas desde outubro o governo já tinha iniciado os
reajustes.
Em janeiro deste ano, o nd+ revelou com exclusividade a ação do executivo,
que terá impacto de cerca de R$ 7 milhões aos cofres do Estado.
Após a matéria, em 9 de
janeiro Zimmer entrou com pedido de impeachment. O requerimento foi
arquivado em fevereiro pela Alesc após a procuradoria não reconhecer o pedido.
No entanto, em maio o defensor público entrou com um recurso e incluiu novos
documentos.
A partir disso, a procuradoria aceitou o pedido, assim como o presidente da
Alesc, Julio Garcia (PSD), na última quarta-feira (22). Além do processo
aceito nesta quinta, três processos parecidos já foram arquivados contra o
governador. A Alesc ainda analisa um quinto.
Próximos passos
Com a leitura em plenário, o
rito de impeachment passa ser oficial e os prazos de defesa começam a
correr. Uma comissão especial será formada com nove deputados indicados
pelos partidos. Eles têm a responsabilidade de analisar a denúncia e dar
prosseguimento ao processo.
Após a sessão, a Alesc
informou que irá notificar os citados no processo. O prazo para a defesa é de
10 sessões. “Vamos fazer isso tudo o mais breve possível”, confirmou Julio
Garcia no fim de sua fala.
Caso o pedido de impeachment e
for aprovado por 2/3 dos 40 deputados (27 votos), o governador e os demais
citados são afastados dos cargos e o substituto constitucional assume a chefia
do Poder Executivo Estadual. Nos demais casos, a representação é arquivada.
Contraponto
A governo do Estado ainda não
se pronunciou. Procurado na manhã desta quinta, a defesa de Moisés disse deve
se manifestar no início da tarde. O advogado Marcos Fey Probst Probst afirmou
ainda que ainda não teve acesso à íntegra do processo.
Na última terça-feira, após o
pedido de impeachment ter sido aceito, a vice-governadora se manifestou pelas
redes sociais. Ela disse que “tem confiança de que a Assembleia vai tratar o
caso da melhor forma”.
A reportagem também tentou
contato com a vice-governadora. Até a última atualização do texto, não houve
retorno.
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