A atual crise econômica causada pela pandemia do novo coronavírus tende a ganhar
contornos ainda mais preocupantes nos próximos meses com o aumento do
desemprego. Caso seja confirmado, a movimentação deve resultar em uma fuga de
beneficiários dos planos de saúde e pode agravar ainda mais a situação do SUS (Sistema Único de
Saúde).
A divulgação mais recente da
PNS (Pesquisa Nacional de Saúde), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), aponta que pouco mais de um quarto (27,6%) da população
brasileira é beneficiária de algum plano de saúde. Entre os desempregados, o
percentual é 10 pontos inferior, de apenas 17%.
A ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) mostra que há no país cerca de 47
milhões de beneficiário de convênios médicos privados. Para Marcelo Neri,
diretor do FGV Social, é “preocupante” o que pode vir a acontecer com o setor e
as consequências no SUS ao longo dos próximos meses.
“O que ainda salva um pouco o
brasileiro é a existência de um serviço público de saúde. O problema é que esse
serviço foi sucateado ao longo dos anos por conta da crise econômica. Agora,
com a chegada da pandemia, esse efeito tende a ser muito mais agudo”, observa
Neri.
A afirmação pode ser
confirmada pelos dados do IESS (Instituto de Estudos de Saúde Suplementar), que
apontam para o aumento do número de beneficiários dos planos de saúde sempre
que há queda no percentual de desempregados. Há de se destacar ainda que os
convênios empresariais correspondem a quase 70% das contratações.
Para o diretor do FGV Social,
mesmo quem consegue manter o plano após ficar desempregado não sustenta a mesma
qualidade do serviço. "Eles têm que fazer uso do sistema público e, em uma
situação como a atual, a qualidade é ainda pior por conta da superlotação
causada pela pandemia”, lamenta.
Durante sua posse como
ministro da Saúde, Nelson Teich defendeu a necessidade
de tratar o coronavírus e a manutenção do emprego paralelamente.
"Se tivermos mais desemprego, com menos gente com plano de saúde, vai
impactar o SUS", alertou.
Segundo o IBGE, o Brasil fechou o primeiro
trimestre de 2020 com 12,9 milhões de desempregados. Apesar
de ainda não refletir totalmente os efeitos da pandemia, o valor corresponde a
12,2% da população e já é 1,2 ponto percentual superior ao número registrado no
trimestre finalizado em dezembro.
Na avaliação de Neri, o corte
do convênio médico surge na vida dos brasileiros como uma conquista. “Isso já
foi perdido ao longo dos anos por conta da crise que começou a ser revertida
lentamente a partir de 2017. Se você pegar a recessão entre 2014 e 2018, a
renda média dos brasileiros caiu 2%, mas a renda dos 5% mais pobres caiu 39%”,
explica ele.
João Sobreira Neto, diretor de
defesa da APM (Associação Paulista de Medicina), afirma que o congestionamento
dos leitos é uma realidade atual tanto na saúde pública quanto nos hospitais
particulares.
“O problema é que 60% da
população do Brasil depende do SUS. Com isso, a gente vê que o SUS vai sofrer a
cada dia uma sobrecarga maior por conta de um volume que é maior, mas o sistema
de saúde privado também está sobrecarregado”, destaca Neto.
O diretor da APM vê ainda uma
situação preocupante dos serviços terceirizados de saúde em meio à pandemia.
"O SUS eu acredito que não vá sofrer muito, mas na área particular já está
ocorrendo isso, com uma diminuição nos atendimentos de rotina, fora da
emergência, e já resultou em demissões”, diz.
Neto avalia que uma possível
“catástrofe” no sistema vai depender das políticas governamentais adotadas.
"É provável que o pico seja agora em maio. A parti daí, deve haver uma
diminuição no número de casos e a liberação de leitos. O que se espera é que
exista um controle para não haver um colapso”, afirma ele ao defender o
isolamento social.
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