Amostra do pulmão de menino de 13 anos é analisada após conflito de testes para Covid-19

25/05/2020 - 20h54

A morte de Felipe Stefan, de 13 anos, em Dionísio Cerqueira, no Extremo Oeste catarinense, provocou questionamentos sobre o diagnóstico de Covid-19. O menino morreu após um mal súbito e teve a confirmação da infecção pelo novo coronavírus confirmada por um teste rápido.

O impasse entre a prefeitura de Dionísio Cerqueira e a Secretaria de Estado da Saúde aconteceu após a divulgação do morte do adolescente no boletim epidemiológico de Covid-19 de sábado (23). Na lista de óbitos constava a morte de Felipe.

O município do Extremo Oeste não reconheceu o caso como confirmado e disse que aguardaria o resultado do Lacen (Laboratório Central de Saúde Pública). A amostra enviada teve resultado divulgado nesta segunda-feira (25). O exame não detectou a presença do coronavírus, mas destaca que o resultado é inconclusivo.

Mal súbito

Felipe brincava com amigos na comunidade de Linha Weber, interior de Dionísio Cerqueira, quando passou mal e desmaiou. O menino foi socorrido por familiares e encaminhado a uma unidade básica de saúde em Guarujá do Sul, município vizinho.

Segundo a prefeitura de Dionísio Cerqueira, Felipe não resistiu e chegou já sem vida à unidade de saúde. Sem uma causa oficial para a morte, ele foi levado a um IML (Instituto Médico Legal) de referência, em São Miguel do Oeste. O município fica a cerca de 60 km de Dionísio Cerqueira.

Durante a autópsia, foi constatada a presença de coágulos no coração do adolescente, o que levou à suspeita de infecção pela Covid-19. 

Também foram coletadas amostras da mucosa e parte do pulmão do menino. Ambas foram encaminhadas ainda no sábado ao Lacen, em Florianópolis. O material seguiu para Chapecó antes de ser encaminhado à Capital.

Resultado do PCR

Em entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira, o prefeito de Dionísio Cerqueira, Thyago Gnoatto (MDB), disse que recebeu um resultado negativo para o exame PCR, de Covid-19, feito pelo Lacen.

“Tendo em vista que esse teste rápido não tem uma eficácia de 100% […], nós decidimos não divulgar nenhuma informação enquanto não viesse o resultado desse exame definitivo que seria realizado pela Lacen”, disse Gnoatto.

O resultado do PCR apresentado pelo prefeito tem como base de análise uma amostra de naso-orifaringeo, coletada por meio de uma haste que capta amostras da mucosa do paciente. Na amostra recolhida o vírus não foi detectado.

O documento, porém, apresenta observações, afirmando que um único resultado “não detectável não exclui diagnóstico de Covid-19”. De acordo com o documento, uma coleta inadequada, o tipo de amostra e o tempo decorrido entre o recolhimento de amostras e o exame podem influenciar o resultado.

Amostra do pulmão

A Secretaria de Estado da Saúde afirmou que vai manter a morte como confirmada para a Covid-19. Segundo a pasta, o resultado do teste rápido garante o diagnóstico da doença.

No sábado, a secretaria, por meio de nota, afirmou que “testes para detecção do SARS-CoV-2, sejam por biologia molecular ou por técnicas imunológicas, necessitam de adequada interpretação, pois há períodos corretos para sua coleta em relação à exposição, fato que influencia diretamente no resultado obtido nos mesmos”.

Uma amostra do pulmão do paciente está em análise no Lacen. De acordo com a diretora do laboratório, Marlei Pickler Debiasi dos Anjos, até o resultado, o diagnóstico para Covid-19 ainda é tido como inconclusivo.

Para o professor e virologista da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) Daniel Mansur, o teste da amostra do pulmão é o mais adequado para detectar a presença do vírus após o óbito. Assim, os resultados são mais precisos.

Falso positivo e negativo

Os testes rápidos são utilizados pelo Lacen e por prefeituras de municípios catarinenses. Eles detectam a presença de anticorpos para o coronavírus no sangue. Contudo, esses mecanismos de defesa só são detectáveis a partir do sétimo dia do surgimento dos sintomas da infecção.

Segundo o virologista Mansur, pessoas que já têm o vírus, mas não apresentam nenhum tipo de sintoma, vão testar negativo. O mesmo pode acontecer com pessoas que já apresentam sinais físicos da doença.

“O problema é que testes rápidos, feitos em fases de evolução da doença, vão dar resultados incoerentes. Isso representa um risco, pois uma pessoa assintomática pode transmitir a doença”, observa.

O mesmo pode acontecer para casos em que a doença tem resultado positivo. Isso pode acontecer, explica a bioquímica Andréa Goulart de Oliveira, pelo período em que o vírus está circulante no corpo.

Andréa, que conduziu um estudo sobre testes rápidos em Criciúma, comenta que existem momentos adequados para que o PCR ou o teste rápido sejam aplicados.

Durante os primeiros dias de sintomas o teste PCR apresenta resultados mais precisos. No caso do teste rápido, em que são verificados anticorpos, o ideal é que sejam aplicados após os sete dias do início dos sintomas.

Maior efetividade de resultados:

Teste rápido – 7 dias após o início dos sintomas de Covid-19

PCR – até 7 dias desde o início dos sintomas da Covid-19

Morte por causa desconhecida

O corpo de Felipe foi enterrado no jazigo de sua família no sábado, em Guarujá do Sul. Por conta da confirmação da doença respiratória não houve velório, apenas um rápido sepultamento.

A DO (Declaração de Óbito) de Felipe aponta como desconhecida a causa da morte do menino. O documento ainda pode ser alterado antes que se faça a certidão de óbito.

A prefeitura de Dionísio Cerqueira informou que, ao ser notificada da morte, testou a família do menino e todos tiveram resultado negativo para o vírus. Foram utilizados testes rápidos para os diagnósticos e os familiares foram orientados a seguir em isolamento, acompanhados para verificação de sintomas.

A cidade, localizada na tríplice fronteira entre Argentina, Paraná e Santa Catarina, não tem nenhum caso confirmado da doença, de acordo com o boletim mais recente divulgado pela prefeitura nesta segunda-feira. O balanço estadual aponta um caso no município.

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