A morte de Felipe Stefan, de 13 anos, em Dionísio
Cerqueira, no Extremo Oeste catarinense, provocou questionamentos sobre
o diagnóstico de Covid-19. O menino morreu após um mal súbito e teve a
confirmação da infecção pelo novo coronavírus confirmada por um teste rápido.
O impasse entre a prefeitura de Dionísio
Cerqueira e a Secretaria de Estado da Saúde aconteceu após a divulgação do
morte do adolescente no boletim epidemiológico de Covid-19 de sábado (23). Na
lista de óbitos constava a morte de Felipe.
O município do Extremo Oeste não reconheceu o caso
como confirmado e disse que aguardaria o resultado do Lacen (Laboratório
Central de Saúde Pública). A amostra enviada teve resultado divulgado nesta
segunda-feira (25). O exame não detectou a presença do coronavírus, mas destaca
que o resultado é inconclusivo.
Mal súbito
Felipe brincava com amigos na comunidade de
Linha Weber, interior de Dionísio Cerqueira, quando passou mal e desmaiou. O
menino foi socorrido por familiares e encaminhado a uma unidade básica de saúde
em Guarujá do Sul, município vizinho.
Segundo a prefeitura de Dionísio Cerqueira,
Felipe não resistiu e chegou já sem vida à unidade de saúde. Sem uma causa
oficial para a morte, ele foi levado a um IML (Instituto Médico Legal) de
referência, em São Miguel do Oeste. O município fica a cerca de 60 km de
Dionísio Cerqueira.
Durante a autópsia, foi constatada a presença
de coágulos no coração do adolescente, o que levou à suspeita de infecção pela
Covid-19.
Também foram coletadas amostras da mucosa e
parte do pulmão do menino. Ambas foram encaminhadas ainda no sábado ao Lacen,
em Florianópolis. O material seguiu para Chapecó antes de ser encaminhado à
Capital.
Resultado do PCR
Em entrevista coletiva na manhã desta
segunda-feira, o prefeito de Dionísio Cerqueira, Thyago Gnoatto (MDB), disse
que recebeu um resultado negativo para o exame PCR, de Covid-19, feito pelo
Lacen.
“Tendo em vista que esse teste rápido não
tem uma eficácia de 100% […], nós decidimos não divulgar nenhuma informação
enquanto não viesse o resultado desse exame definitivo que seria realizado pela
Lacen”, disse Gnoatto.
O resultado do PCR apresentado pelo
prefeito tem como base de análise uma amostra de naso-orifaringeo, coletada por
meio de uma haste que capta amostras da mucosa do paciente. Na amostra
recolhida o vírus não foi detectado.
O documento, porém, apresenta observações,
afirmando que um único resultado “não detectável não exclui diagnóstico de
Covid-19”. De acordo com o documento, uma coleta inadequada, o tipo de amostra
e o tempo decorrido entre o recolhimento de amostras e o exame podem
influenciar o resultado.
Amostra do pulmão
A Secretaria de Estado da Saúde
afirmou que vai manter a morte como confirmada para a Covid-19. Segundo a
pasta, o resultado do teste rápido garante o diagnóstico da doença.
No sábado, a secretaria, por meio de nota,
afirmou que “testes para detecção do SARS-CoV-2, sejam por biologia molecular
ou por técnicas imunológicas, necessitam de adequada interpretação, pois há
períodos corretos para sua coleta em relação à exposição, fato que influencia
diretamente no resultado obtido nos mesmos”.
Uma amostra do pulmão do paciente está em
análise no Lacen. De acordo com a diretora do laboratório, Marlei Pickler
Debiasi dos Anjos, até o resultado, o diagnóstico para Covid-19 ainda é tido
como inconclusivo.
Para o professor e virologista da UFSC
(Universidade Federal de Santa Catarina) Daniel Mansur, o teste da amostra do
pulmão é o mais adequado para detectar a presença do vírus após o óbito. Assim,
os resultados são mais precisos.
Falso positivo e negativo
Os testes rápidos são utilizados pelo Lacen
e por prefeituras de municípios catarinenses. Eles detectam a presença de
anticorpos para o coronavírus no sangue. Contudo, esses mecanismos de defesa só
são detectáveis a partir do sétimo dia do surgimento dos sintomas da infecção.
Segundo o virologista Mansur, pessoas que
já têm o vírus, mas não apresentam nenhum tipo de sintoma, vão testar negativo.
O mesmo pode acontecer com pessoas que já apresentam sinais físicos da doença.
“O problema é que testes rápidos, feitos em
fases de evolução da doença, vão dar resultados incoerentes. Isso representa um
risco, pois uma pessoa assintomática pode transmitir a doença”, observa.
O mesmo pode acontecer para casos em que a
doença tem resultado positivo. Isso pode acontecer, explica a bioquímica Andréa
Goulart de Oliveira, pelo período em que o vírus está circulante no corpo.
Andréa, que conduziu um estudo sobre testes
rápidos em Criciúma, comenta que existem momentos adequados para que o PCR ou o
teste rápido sejam aplicados.
Durante os primeiros dias de sintomas o
teste PCR apresenta resultados mais precisos. No caso do teste rápido, em que
são verificados anticorpos, o ideal é que sejam aplicados após os sete dias do
início dos sintomas.
Maior efetividade de resultados:
Teste rápido – 7 dias após o início dos sintomas de Covid-19
PCR – até 7 dias desde o início dos sintomas da Covid-19
Morte por causa desconhecida
O corpo de Felipe foi enterrado no jazigo
de sua família no sábado, em Guarujá do Sul. Por conta da confirmação da doença
respiratória não houve velório, apenas um rápido sepultamento.
A DO (Declaração de Óbito) de Felipe aponta
como desconhecida a causa da morte do menino. O documento ainda pode ser
alterado antes que se faça a certidão de óbito.
A prefeitura de Dionísio Cerqueira informou
que, ao ser notificada da morte, testou a família do menino e todos tiveram
resultado negativo para o vírus. Foram utilizados testes rápidos para os
diagnósticos e os familiares foram orientados a seguir em isolamento,
acompanhados para verificação de sintomas.
A cidade, localizada na tríplice fronteira
entre Argentina, Paraná e Santa Catarina, não tem nenhum caso confirmado da
doença, de acordo com o boletim mais recente divulgado pela prefeitura nesta
segunda-feira. O balanço estadual aponta um caso no município.
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