Praticamente metade
da população brasileira solicitou o Auxílio Emergencial de R$ 600 oferecido
pelo governo federal durante a pandemia e pouco mais de um quarto recebeu o
benefício. A verba não só foi fundamental para a sobrevivência de milhões de
pessoas como ajudou a baixar a taxa de pobreza extrema no país a um nível que
não se via há 40 anos. O registro foi feito por um levantamento do Instituto
Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
A partir das
pesquisas de Amostras Domiciliares do IBGE, em especial a PNAD Covid-19, foi
possível mensurar que de maio para junho, o número de brasileiros vivendo
abaixo da linha da pobreza caiu de 4,2% para 3,3%, ou sete milhões de pessoas.
Desde a década de 1980, quando os levantamentos ficaram mais precisos e a taxa
de pobreza extrema superava os 15%, não se via algo assim.
As pessoas que
vivem abaixo da linha da pobreza, segundo critérios da Organização das Nações
Unidas (ONU), são aquelas que vivem com menos de 1,90 dólares por dia, por
pessoa na família, o que dá algo em torno de R$ 290 por mês.
Com a chegada do
Auxílio Emergencial aos lares dos brasileiros, principalmente nas regiões mais
vulneráveis, como Norte e Nordeste, a renda aumentou cerca de 11,7% em média
segundo o levantamento, o que impacta positivamente na economia que sofre neste
momento de pandemia. No Nordeste, a ampliação foi superior a 23% e no Norte o
incremento registrado foi de aproximadamente 26%.
O ministro da
Cidadania, Onyx Lorenzoni, explica que o objetivo do benefício neste momento
foi atingido pelo governo e mostrou que é possível fazer mais por aqueles que
mais necessitam.
“O Auxílio
Emergencial atingiu mais de 80% dos domicílios das duas primeiras faixas de
renda. Isso mostra que o benefício alcança o objetivo de dar condições de
sobrevivência aos mais pobres e que, em pouco tempo, o governo federal foi
capaz de retirar o maior contingente de pessoas da extrema pobreza da história
recente do Brasil”, afirmou o ministro.
Reflexo
Daniel Duque,
pesquisador da área de Economia Aplicada da FGV e responsável pelo
levantamento, explica que o Auxílio Emergencial não é um programa que foi
desenhado para combater a pobreza, e sim para repor rendimentos de
trabalhadores informais ou daqueles que perderam o emprego durante a pandemia.
No entanto, dois fatores da iniciativa, da maneira que foi desenhada,
impactaram indiretamente na questão, principalmente porque a pobreza está
concentrada em grande parte do público-alvo do Auxílio Emergencial.
“O primeiro é que
ele está destinado a trabalhadores informais e desempregados, que é onde se
concentra a pobreza do país. Os trabalhadores informais têm uma taxa de pobreza
maior que os trabalhadores formais. O outro fator que influenciou é que o
benefício é duplo para mães solteiras, que indiretamente foca em famílias mais
pobres”, destaca o pesquisador.
Segundo Rafael
Paschoarelli, professor de Finanças nas faculdades de Economia e Administração
da USP, a queda nos índices de pobreza mostra que o país pode, efetivamente,
fazer algo para auxiliar os mais necessitados de maneira contínua e contribuir
para diminuir as enormes diferenças sociais. Ele explica que o auxílio é finito
quanto ao tempo, já que acaba junto com a pandemia, mas não em montante de
recursos, que existem e podem servir para esse fim se houver uma melhor
destinação.
“O Brasil tem
dinheiro para isso. A questão é que o dinheiro é mal gasto. Não é uma questão
de ter ou não ter dinheiro. Veja quanto custa o Congresso, quanto custa o
Supremo e as prefeituras que não são viáveis economicamente, mas vivem às
custas do governo federal. Dinheiro há, o que falta é priorização do gasto
público”, analisa.
Rafael acredita que
a pandemia desnudou um problema que conseguimos resolver e muitos parlamentares
estão atentos aos reflexos dessa questão. Agora que os índices ficaram
melhores, há toda uma preocupação de que todo o progresso vai voltar à estaca
zero assim que o auxílio acabar. A expectativa é de que se faça algo para
evitar isso.
“A gente não está
falando de pobreza, estamos falando de pobreza extrema. De pessoas que têm
dificuldade de conseguir o alimento do dia. Isso é sério. Muitos políticos
estão vendo isso e vão querer tornar permanente esse programa, talvez com outro
nome e roupagem”, aponta.
Segundo a Dataprev,
mais de 148 milhões de CPFs foram analisados para o recebimento do Auxílio
Emergencial, com quase 70 milhões de pessoas sendo consideradas elegíveis. A
estimativa do Governo Federal é de que o benefício chegue de forma direta ou
indireta a mais de 126 milhões de cidadãos. Até o momento, os investimentos
ultrapassaram os R$ 141 bilhões.
Com o fim do
Auxílio Emergencial é possível que a situação fique ainda pior que a registrada
nos últimos 40 anos. No mesmo período do ano passado, o contingente de
brasileiros vivendo abaixo da linha de pobreza era de 6,9%, o que representa 14
milhões de pessoas.
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