Tido como um dos
setores mais promissores da economia global, a bioeconomia pode ajudar o Brasil
a reduzir dependência externa e a aumentar a conservação das riquezas naturais.
É o que aponta um estudo realizado pela
Confederação Nacional da Indústria (CNI), que mostra que a tecnologia 4.0 para
fabricação de produtos com recursos da biodiversidade verde e amarela pode ser
uma aliada.
E o Brasil tem uma
vantagem. Segundo informações do Ministério do Meio Ambiente (MMA), temos a
maior biodiversidade do planeta e abrigamos 20% do número total de espécies da
Terra, o que eleva o Brasil ao posto principal de nação entre os 17 países
megadiversos.
O especialista em
meio ambiente Charles Dayler acredita que a bioeconomia pode reduzir perdas e
aumentar ganhos. “Em um processo produtivo tradicional, sempre temos sobras e
perdas. Com a bioeconomia, faríamos uma produção de materiais usando insumos de
origem natural e, como resultado disso, tenho um produto que não degrada ou se
degrada de forma ecologicamente correta e não tenho perda de energia, não tenho
sobra, não tenho materiais que não são biodegradáveis”, detalha.
A bioeconomia é
conhecida como um modelo de produção industrial baseado no uso de recursos
biológicos. A ideia é oferecer soluções para a sustentabilidade dos sistemas de
produção com vistas à substituição de recursos fósseis e não renováveis. “A
bioeconomia prega que se produza com insumos de origem natural, sem perda de
energia e com eliminação de rejeitos tóxicos, ou seja, tudo na cadeia de
produção seria aproveitado”, reforça Dayler.
Ainda segundo o
estudo da CNI, a bioeconomia pode valorizar a biodiversidade brasileira e,
consequentemente, contribuir para melhorar a imagem do País no exterior. Esses
fatores contribuem ainda para facilitar o ingresso do país na Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o andamento do acordo Mercosul
e União Europeia.
“A bioeconomia é um
setor que está crescendo no mundo e o Brasil tem a oportunidade de não ficar
para trás e ser um dos principais protagonistas do setor”, destaca o deputado
federal Paulo Ganime (Novo-RJ), membro da Frente Parlamentar Mista de
Bioeconomia.
Ganime acredita que
a legislação sobre o tema precisa ser melhorada e que o País precisa ter mais
liberdade para investir em bioeconomia. “E não estamos falando só da legislação
ligada ao tema, mas das que impeçam qualquer um de investir no Brasil, como
reforma tributária. Estamos falando também em desburocratizar e mudar
legislações para atrair investimento estrangeiro e garantir segurança
jurídica”, reforça.
O deputado lembra
ainda que o Protocolo de Nagoya, aprovado recentemente no Congresso Nacional, é
um primeiro passo para isso. “Se o Brasil continuar simplificando,
desburocratizando, garantindo leis que não só facilitem quem quer investir, mas
deixem de criar riscos para quem quer investir, vai atrair muitos
investimentos”, acredita Ganime.
Investimento e pesquisa
Uma das apostas
para a indústria é o investimento em pesquisa, desenvolvimento e inovação em
cadeias já consolidadas no Brasil, como a de produtos a partir da
cana-de-açúcar (etanol, por exemplo), e os de base florestal, como o papel e
celulose, em que o país é um dos maiores produtores mundiais. O deputado Enrico
Misasi (PV-SP) defende alguns pontos principais para a expansão da bioeconomia
no País.
“Primeiro,
precisamos ter marcos regulatórios claros, que lancem as bases para uma
segurança jurídica em investimentos corretos, com foco em bioeconomia. Outro
ponto é ter um investimento estratégico em tecnologia. Bioeconomia é
tecnologia, precisa ter pesquisa científica, precisa ter dinheiro,
investimento. Além disso, é preciso uma consciência generalizada e transversal
de que essa é a nossa grande oportunidade, precisa haver uma priorização do
tema no País”, elenca o parlamentar.
Para que o Brasil
consiga expandir e ser uma potência na área de bioeconomia, na opinião de
Charles Dayler, especialista em Meio Ambiente, é preciso um trabalho de
viabilização de processos bioeconômicos ou de novas tendências no setor e fazer
a inserção desses processos fora dos grandes meios de produção.
“Temos que explorar
a bioeconomia levando-a para o pequeno produtor e pequeno comerciante. Temos
que pensar em desenvolvimento de cadeias, de produção e em logística porque uma
vez que a gente consiga fazer com que produtos gerados por pequenos produtores
acessem grandes mercados, a gente consegue gerar valor agregado para essas pessoas.
E, ao longo da cadeia de distribuição, fazendo um arranjo inteligente, faremos
com que a pegada de carbono desses produtos também seja menor”, aposta
Dayler.
O diretor de
Pesquisa e Desenvolvimento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),
Guy de Capdeville, lembra que indústrias como a farmacêutica, de alimentos e de
cosméticos também podem ser alcançadas pela bioeconomia.
“São indústrias que
já vêm sendo beneficiadas nesse contexto e que já exploram a bandeira de
sustentabilidade. Uma grande oportunidade que nós temos é que somos grandes
dependentes da importação de moléculas para antibióticos, então o que queremos
é fazer um movimento de busca dessas moléculas na biodiversidade que possam ter
efeito antibiótico e, assim, nos tornamos independentes na produção desses
medicamentos e, eventualmente, até um exportador”, projeta o diretor.
Ele lembra que a agricultura também poderia ser beneficiada com essas moléculas, que auxiliaram na produção de controle de pragas e aditivos para nutrição animal e humana. “Existe uma perspectiva enorme de potenciais ativos que podem ser explorados dentro desse ambiente e desse contexto de bioeconomia. O que precisamos é criar as bases para que as empresas se estabeleçam no setor”, completa Capdeville.
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