Após resultado
fraco do PIB (Produto Interno Bruto) em 2019, com crescimento de apenas 1,1% no
ano, o presidente da República, Jair Bolsonaro, escalou um humorista para
responder perguntas da imprensa sobre o ritmo da atividade econômica nesta
quarta-feira (4).
“PIB? O que é PIB?
Pergunta para eles (jornalistas) o que é PIB”, disse Bolsonaro ao humorista
Márvio Lúcio, conhecido como Carioca, da TV Record.
Em seguida, um
jornalista reforçou que a pergunta era dirigida para o presidente, e não para o
humorista. “Paulo Guedes, Paulo Guedes”, reagiu Carioca. “Posto Ipiranga”,
sugeriu Bolsonaro ao humorista, rindo.
Vestido como
Bolsonaro, inclusive com uma réplica da faixa presidencial, Carioca usou a
estrutura da Presidência para oferecer bananas aos jornalistas em frente ao
Palácio da Alvorada – nenhum jornalista aceitou.
O humorista também
pediu para ser questionado pelos profissionais como se fosse o presidente, o
que não ocorreu.
Depois, o próprio
Bolsonaro apareceu e quis participar da encenação que foi combinada um pouco
antes. Carioca participou de um café da manhã no Alvorada que reuniu o
presidente, ministros e parlamentares do PSD.
Na conversa com o
humorista, Bolsonaro afirma ser “agredido” pela imprensa e pede que ele “fale
em seu lugar” em frente à residência oficial.
“É impressionante
que eles (imprensa) ficam me agredindo. Todo dia eles estão lá fora. Estou há
duas semanas sem falar com eles. Fala no meu lugar. Vou te dar a palavra”, disse
Bolsonaro.
O vídeo do café da
manhã de Bolsonaro com o humorista foi divulgada pelo site Folha do
Brasil, que publica notícias favoráveis ao governo.
Na conversa, em tom
de piada, Bolsonaro fala sobre política externa e faz piada com o presidente da
Venezuela, Nicolás Maduro. “Quem é o único gordo da Venezuela?”, questiona após
ser questionado se conhece o venezuelano.
Frustração com o PIB
O resultado do PIB
de 2019 é menos da metade do projetado inicialmente pelos economistas.
Em dezembro de
2018, às vésperas da posse do presidente Jair Bolsonaro, analistas do mercado
financeiro renovaram a aposta na retomada e projetaram crescimento de 2,55%.
Foi o terceiro ano
seguido de fraco crescimento da economia brasileira. Em 2017 e em 2018, a
primeira divulgação do PIB mostrou expansão de 1,1%. Posteriormente, os dados
foram revisados para 1,3%. Em 2015 e 2016, houve queda no PIB.
Ministério da Economia vê ‘melhora
substancial’
Em nota informativa
para comentar o resultado do PIB em 2019, o Ministério da Economia destacou que
a composição do PIB indica uma “melhora substancial”, com “aumento consistente
do crescimento do PIB privado e do investimento privado”.
Para a pasta, isso mostra
que a economia passa a mostrar dinamismo independente do setor público.
O ministério também
pontuou ser “fundamental” a continuidade da agenda de reformas para a
consolidação da retomada da economia.
“A agenda de
reformas consolidando o lado fiscal e combatendo a má alocação de recursos
mostra ser a estratégia adequada, e sua continuidade é fundamental para a
consolidação da retomada da economia.”
O comunicado do
ministério comandado por Paulo Guedes aponta também que indicadores do mercado
de trabalho e de crédito do setor privado mostram aquecimento com os “melhores
resultados desde 2013”, e que o segundo semestre de 2019 teve crescimento
anualizado de 2,3%, sendo o melhor segundo semestre desde 2013.
“Após um primeiro
trimestre com crescimento baixo, diante de seguidos choques negativos (tragédia
de Brumadinho, crise na Argentina e intempéries climáticas), o crescimento
voltou a apresentar um ritmo de recuperação consistente”, afirmou o ministério.
Do lado da demanda,
a nota destacou o crescimento dos investimentos (2,2%) e do consumo das
famílias (1,8%), enquanto que o gasto do governo se retraiu em 0,4%.
Já sob a ótica da
oferta, o ministério pontua que o crescimento em 2020 foi puxado principalmente
pelo crescimento dos serviços (1,3%) e da agropecuária (1,3%).
“O aumento do
consumo das famílias e do investimento, e acompanhado pela redução no consumo
do governo reforçam a tendência de crescimento do PIB privado em substituição
do setor público”, disse a pasta.
O ministério coloca
que, embora a formação Bruta de Capital Fixo agregada em 2019 tenha ficado em
patamar inferior ao ocorrido em 2018, “há evidências de que o investimento
privado no ano passado (com os dados acumulados em 12 meses até o 3º trimestre
de 2019) cresceu acima do valor realizado em 2018”.
Para a pasta, os
resultados melhores do setor privado são reflexos da política econômica que
foca no aumento da produtividade, corrigindo a má alocação de recursos e
fortalecendo a consolidação fiscal, afirma.
“O crescimento mais
robusto no segundo semestre já reflete os efeitos, embora parciais, das
mudanças no FGTS e a queda da inflação e dos juros, como consequência de menor
concorrência no setor público na atividade e na poupança nacional”, diz.
Choques
A nota citou ainda
que o ano de 2019 foi marcado por choques adversos na economia, como a guerra
comercial entre EUA e China, que, pontua o ministério, reduziu o crescimento
global no ano passado, “levando a uma menor demanda de bens de exportação
brasileiros e um menor apetite por investimentos no país”.
“A continuidade do
ajuste fiscal, o encaminhamento de reformas estruturais e as medidas adicionais
de correção da má alocação dos recursos na economia foram fundamentais para
pavimentar um caminho de maior crescimento e seus efeitos devem repercutir com
maior intensidade nos próximos anos.”
Orçamento Impositivo
Quando indagado por
jornalistas sobre riscos na negociação com o Parlamento em relação ao Orçamento
impositivo ou sobre o resultado aquém do esperado do PIB, Bolsonaro terceirizou
as respostas ao humorista. Tudo foi transmitido ao vivo na conta oficial do
presidente da República nas redes sociais.
O humorista chegou
em um carro oficial da Presidência e contou com a ajuda do secretário especial
de Comunicação, Fabio Wajngarten, para sair do veículo.
Ele ficou
posicionado no mesmo local que Bolsonaro usa normalmente para responder
perguntas da imprensa. A área é restrita.
Antes da chegada de
Carioca, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, responsável
pela Secom, desceu de outro carro e foi a pé acompanhar todo o ato.
Na terça-feira, o
governo federal divulgou a reedição de uma cartilha sobre a proteção de
jornalistas e comunicadores no Brasil.
Elaborado pelo
Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, chefiado por Damares Alves, o
texto traz uma nova edição do documento, lançado no governo de Michel Temer, e
prevê que “as autoridades públicas têm a obrigação de condenar veementemente
agressões contra jornalistas”.
O manual diz ainda
que “os agentes do Estado não devem adotar discursos públicos que exponham
jornalistas”.
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