O Brasil é o país que mais altera as leis que deveriam
proteger a Amazônia entre os nove que são cobertos por este bioma. Os dados são
do estudo "The uncertain future of protected lands and waters"
("O futuro incerto das terras e águas protegidas"), conduzido por
pesquisadores liderados pela ONG Conservação Internacional.
Ao todo, os nove países fizeram 115 alterações entre
os anos de 1961 e 2017, sendo que 66 delas (61%) ocorreram no Brasil. Essas
medidas afetaram 18 milhões de hectares da Amazônia – 11 milhões apenas em
território brasileiro.
A pesquisa completa analisou atos legislativos que
diminuíram a área delimitada, ampliaram o uso do solo ou retiraram totalmente a
proteção de áreas protegidas em 78 países ao longo de mais de um século. No
contexto mundial, Brasil e Estados Unidos lideram
as alterações na legislação ambiental.
No recorte da Amazônia,
a pesquisa traz a análise de medidas adotadas em países como Bolívia, Colômbia,
Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela, além do Brasil.
Os dados disponíveis se referem ao período de 1961 a 2017.
Brasil
reduz área protegida
A maior parte das alterações na lei brasileira são para
reduzir a área protegida – é o caso de 45 das 66 leis. Outras 11 são para
ampliar as atividades permitidas de uso do solo e 10, para a retirada total da
proteção.
O estudo cita como exemplo a alteração dos limites de oito unidades de
conservação na região do Tapajós que deram espaço para a construção de cinco
hidrelétricas, abrangendo uma área de 863 km².
Na Colômbia, a ameaça é o Código de Mineração do país,
um conjunto de leis diminuiu a proteção em áreas de floresta para dar lugar à
atividade econômica.
Área da Amazônia no Brasil com status de
proteção alterado
Dados se referem a atos legislativos de 1961 a
2017
Fonte: 'The uncertain future of protected
lands and waters'; revista Science
Alterações
na lei não seguem critérios científicos
O biólogo e
geocientista Bruno Coutinho, coautor do estudo e diretor de Gestão do
Conhecimento da ONG Conservação Internacional, alerta para a necessidade de
haver mais critério quando se trata da alteração da lei vigente.
“Para criar uma área protegida é
preciso muitos critérios técnicos e científicos. Já o processo de alteração da
lei não segue critério nenhum. Não somos contra a revisão na legislação, mas
ela deveria seguir os mesmos critérios de criação das áreas”, afirma o coautor
do estudo. "O estudo deixa claro que as áreas protegidas não garantem a
perpetuidade da conservação dos recursos naturais."
Ele aponta que "o afrouxamento na lei é uma
ameaça". "As alterações afetam o status de proteção da área, seja
reduzindo ou extinguindo."
Perdas
econômicas
Embora o afrouxamento da legislação possa dar a ideia de
maior uso do solo para atividades econômicas, Coutinho afirma que haverá perdas
a médio e longo prazo.
Como exemplo, ele cita outro estudo da ONG Conservação
Internacional, chamado "Quanto vale o verde", em que os autores
indicam as perdas financeiras com a degradação do ambiente.
"Muitos estudos e práticas têm demonstrado que não há dicotomia entre conservação da natureza e desenvolvimento sustentável; muito pelo contrário, cada vez mais setores da produção agropecuária e industrial, bem como extrativistas tradicionais e sociedade em geral têm percebido a necessidade de ampliar a escala de conservação para a garantia de bem-estar para gerações futuras", afirma.
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