Brasil tem ao menos 23 mil testes de coronavírus à espera do resultado

02/04/2020 - 10h05

O Brasil tem ao menos 23,6 mil testes do novo coronavírus (Sars-CoV-2) ainda à espera do resultado. Esse número é 3,4 vezes maior que o total de casos confirmados (6,9 mil) no balanço das Secretarias de Saúde, atualizado às 7h40 desta quinta-feira (2). Para especialistas, tal discrepância indica que pode haver muito mais gente com a doença Covid-19 no país.

Pesquisadores explicam que esse cenário – quantidade de kits insuficiente e gargalo na hora de analisar as amostras coletadas – dificulta a realização de cálculos que mostrem o real avanço do surto por aqui. E fazem um alerta: como o Ministério da Saúde recomenda que sejam testados apenas pacientes graves, existe a chance de ser considerável o percentual de “positivos” nesse universo de pessoas já submetidas ao exame.

As Secretarias de Saúde de todos os Estados e do Distrito Federal para saber quantos testes estão na fila. Apenas nove responderam: Acre, Alagoas, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e São Paulo (veja os números na tabela abaixo).

O RJ, segundo estado com mais casos e mais mortes, não informou os números até a última atualização desta reportagem.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou mais de dez tipos diferentes de testes para detectar o coronavírus. Eles podem levar de 15 minutos (com uma picada no dedo para tirar o sangue) ou até sete dias (com uma coleta de material do nariz e da faringe por meio de cotonete). Clique aqui para ler mais sobre os testes.

Modelos que projetam o volume de casos para os próximos dias sugerem que o ritmo da pandemia está mais lento — apesar do recorde de confirmações em um só dia (1.138) nesta terça-feira (31) e do acréscimo considerável (outros 1.119 casos) nesta quarta-feira (dia 1º), segundo o Ministério da Saúde.

Pesquisadores de três grupos de monitoramento da pandemia no país — cada um com uma metodologia distinta — admitiram que a possível tendência de queda de contágio pode não retratar a realidade, tamanha a subnotificação.

Testes e subnotificação

Em entrevista coletiva nesta quarta, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou: “Prestem atenção que o número de casos confirmados – a partir desta semana, eles vão começar a ter um aumento. O que significa esse aumento? A testagem que está represada, (…) estamos começando a fazer algumas máquinas em automático, vai chegar um momento [em] que vamos ter megamáquinas automatizadas, e esses números vão crescer muito”.

Ele acrescentou: “O número de casos está muito menor que o número de casos [real] que está circulando dentro da nossa sociedade”. De acordo com o ministro, “provavelmente hoje a gente já estaria em espiral de casos mesmo fazendo esse isolamento [distanciamento social]”.

De acordo com o NOIS, a pandemia no Brasil evolui “de forma mais controlada” em comparação com uma “cesta de países” – China, Coreia do Sul, Irã, Alemanha, Itália, Espanha, França e Estados Unidos.

“No entanto, por mais que as medidas de contenção tenham sido tomadas logo no início da epidemia, o que se mostrou eficaz para outros países, não se pode atribuir o crescimento mais lento do Brasil exclusivamente a este fato”, ponderam os pesquisadores.

Taxa de contágio ficou mais lenta, diz Fiocruz

De acordo com o estudo do MonitoraCovid-19, a taxa de duplicação subiu no Brasil de 2,8 dias para 4,7 dias entre segunda e terça.

“Nós utilizamos um modelo exponencial para este cálculo, truncando os dados até a data da maior incidência. A queda do número de casos após esta data no Brasil pode estar mais relacionada a uma menor disponibilidade de testes do que a uma queda efetiva do número de infectados”, explicou Raphael Saldanha, cientista de dados da Fiocruz, sobre a taxa divulgada na terça.

Diogo Xavier, que também é um dos responsáveis pelo projeto, diz que por ora o grupo está monitorando a tendência de queda na curva de novos casos de Covid-19, mas as informações disponibilizadas apontam um modelo de crescimento.

Segundo ele, ainda está sendo criado um “indicador que aponte a variação dos dias para dobrar casos e óbitos diariamente”. 

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