Nos cinco primeiros dias da campanha nacional de vacinação contra a Covid-19, o Brasil aplicou doses em 404,2 mil pessoas, aponta balanço feito pelo consórcio de veículos de imprensa junto às secretarias estaduais de saúde. O país começou a imunização na segunda-feira (18), quando mais de 50 nações já haviam começado a vacinar suas populações.
Agora, tem mais velocidade do que vizinhos como Argentina e Chile, e até alguns europeus, a exemplo da Itália, mas fica atrás da Turquia, que também usa a Coronavac. Se considerar os tamanhos das populações, o ritmo inicial do Brasil perde para Israel e Alemanha.
O balanço de vacinação brasileiro é parcial, uma vez que há dados apenas de 11 estados e do Distrito Federal, mas inclui a maioria das regiões mais populosas, como São Paulo, Rio, Bahia e Paraná.
No último dia 17, houve um grupo de vacinados no Hospital das
Clínicas de São Paulo, logo após a autorização de uso emergencial dada à
Coronavac pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa). Mas a campanha, de fato, só teve início na
segunda-feira (18).
Cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade
Estadual Paulista (Unesp) compararam a velocidade da vacinação no Brasil com a
de outros países.
A análise se concentra nos cinco
primeiros dias de vacinação em cada país. “Embora o Brasil seja referência
mundial em produção de vacinas e imunização em massa, a vacinação contra a
covid-19 começou com uma temperatura morna”, avalia Wallace Casaca, matemático
da Unesp e responsável pelo levantamento. O país agora precisa correr para recuperar o tempo perdido à espera da
chegada e liberação dos imunizantes.
Casaca está à frente da plataforma SP Covid-19 Info Tracker, que projeta infecções, óbitos e recuperados em São Paulo. “O Brasil supera as campanhas da França, Itália e Espanha, países que sofreram muito com a pandemia”, afirma. “Por outro lado, é superado pela Turquia, que tem população muito menor do que a brasileira.”
Para comparar diferentes tamanhos de populações, os pesquisadores calcularam o número de doses aplicadas para grupos de 100 pessoas. De cada centena, o Brasil vacinou 0.19. Isso significa que foi vacinado 0,19% da população nacional.
Israel já apresentava 2,3
vacinados por 100, já nos cinco primeiros dias de campanha. Na Turquia, de 82
milhões de habitantes, a vacinação começou em ritmo acelerado – nos dois
primeiros dias, foram imunizados 600 mil profissionais de saúde. O país comprou
50 milhões de doses da Coronavac e já recebeu 3 milhões.
Alguns países optaram por iniciar a vacinação mais cedo, ainda que com
quantidade bastante limitada de doses. O Chile, por exemplo, começou na véspera
do Natal, quando aterrissaram as primeiras 10 mil de doses da Pfizer. Imunizou
cerca de 8,6 mil em quatro dias.
Estudo de pesquisador da USP apontou a necessidade de vacinar
cerca de 160 milhões de brasileiros com a Coronavac para o país alcançar a
imunidade coletiva. O recrudescimento da pandemia pressiona o governo a
apressar a vacinação, mas o número limitado de doses é um
gargalo.
Nesta primeira semana, foi distribuído pelo país um lote de 6
milhões de unidades da Coronavac. A Anvisa aprovou o uso emergencial de
outro lote, de 4,1 milhões, e chegaram 2 milhões de doses da
vacina de Oxford, importadas da Índia.
O Brasil anunciou negociação de 70 milhões
de doses com a Pfizer, mas não fechou contrato. Para produzir
mais, o Brasil depende de matéria-prima da China.
Gargalos
Na segunda, quando o Ministério da
Saúde liberou a campanha nacional, houve problemas de logística para que as
doses chegassem a todos os Estados: 11 só aplicaram as primeiras
doses no dia seguinte.
Em cada região, a vacinação também foi iniciada ao mesmo tempo em que os lotes
ainda eram divididos entre os grupos prioritários – profissionais de saúde,
idosos em asilos e indígenas – e enviados para cidades do interior. Além disso,
em oito estados e no Distrito Federal foram abertas investigações sobre supostos desvios de doses e
fura-filas, o que envolveu secretários de Saúde, filho de
deputado e até os próprios prefeitos.
Ao receber a remessa indiana, o ministro, general Eduardo
Pazuello, disse que “rapidamente” o Brasil deve conseguir vacinar oito milhões
e passará a ser o segundo país do Ocidente com mais imunizados, atrás dos
Estados Unidos.
Para especialistas, a experiência em campanhas de larga escala –
por meio do Programa Nacional de Imunização, que já oferece anualmente 300
milhões de doses de vacinas contra outras doenças – pode ajudar o Brasil a
ganhar rapidez na vacinação. Mas a epidemiologista Ethel Maciel, da
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), se preocupa com a garantia de
novas remessas.
“Se começar
uma campanha e as doses acabam, não chegando novas, é ruim. É o que está
acontecendo neste momento nas cidades do interior que já terminaram de vacinar
com as primeiras doses, pois foram poucas. Às vezes, não se conseguiu vacinar
nem toda a sua equipe de saúde”, afirma Ethel.
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