Uma coalizão de
hospitais brasileiros que vêm realizando ensaios clínicos para testar a
eficácia, contra a covid-19, de medicamentos já existentes inicia nesta semana
a análise de uma nova droga, o tocilizumabe, para checar se ele é capaz de
frear a chamada “tempestade inflamatória” causada pelo novo coronavírus.
Sob coordenação de
pesquisadores da Beneficência Portuguesa, a Coalizão Covid Brasil (composta
pelos hospitais Albert Einstein, do Coração (HCor), Sírio-Libanês, além da
própria BP e a Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet), vai
fazer um estudo com 150 pacientes internados, com covid-19 confirmada e com
quadro de pneumonia moderada a grave. Metade vai receber a droga e metade, não.
“O que sabemos em
relação à covid-19 é que os pacientes têm uma tempestade inflamatória muito
forte, liberando inúmeras substâncias no corpo. É essa tempestade que causa
disfunções nos órgãos, principalmente nos pulmões”, explica Viviane Cordeiro
Veiga, coordenadora de UTI da BP.
O tocilizumabe,
usado no tratamento de artrite reumatoide, é conhecido por ser capaz de
bloquear uma dessas substâncias, a interleucina 6, que está na base dessa cadeia
inflamatória. No fim de abril, pesquisadores franceses divulgaram que tiveram
resultados positivos ao aplicarem a droga em alguns pacientes com coronavírus.
Produzido pela
Roche, o medicamento, de acordo com os pesquisadores, reduziu
“significativamente” a proporção de pacientes que tiveram de ser transferidos
para terapia intensiva, ou morreram, em comparação com aqueles que receberam
tratamento padrão. A informação foi dada pela Assistência Pública-Hospital de
Paris (AP-HP), responsável pela pesquisa. Mas especialistas ressaltam que o
medicamento foi testado em um número reduzido de pessoas e demanda mais testes.
“Vamos checar se
ele é capaz de inibir a liberação dessa substância, tentando minimizar essa
resposta inflamatória exacerbada. Em artrite aguda ele faz isso. Vamos ver como
se comporta com o coronavírus. Ainda é um estudo, não sabemos se vai dar
certo”, explica Viviane.
O alvo da pesquisa
serão pacientes já com algum comprometimento pulmonar, mas que ainda estejam na
fase inicial. Preferencialmente serão incluídas pessoas que ainda não tenham
sido entubadas, ou que estejam no máximo a um dia com o tubo. “A ideia é ver
ser o remédio consegue evitar que o paciente piore”, diz a médica.
A expectativa é ter
uma resposta em dois meses. O estudo já foi aprovado pelo Comitê Nacional de
Ética (Conep), e os pacientes começaram a ser recrutados neste fim de semana.
Este é o estudo
clínico de número seis que está sendo desenvolvido na coalizão. Outros testes
investigam, sempre de modo randomizado (em que parte dos voluntários não recebe
o tratamento investigado, como controle), efeitos da hidroxicloroquina (em
pacientes leves a moderados, em graves e para uso ambulatorial); de sua
associação com azitromicina; da bexametazona e de um anticoagulante.
Após quase cinco
meses do início da pandemia, ainda não existe nenhuma droga considerada eficaz
contra a doença.
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