Foto: Reprodução/Youtube
O mundo ainda nem
se recuperou da pandemia causada pelo novo coronavírus e já existe uma nova
possibilidade de crise na saúde global. Pesquisadores chineses dizem que uma
variação do vírus da gripe aviária,
chamada de H5N8, tem potencial para se disseminar entre os humanos.
Os virologistas
Weifeng Shi e George F. Gao publicaram um artigo na conceituada revista
científica Science e alertaram que as mutações da gripe aviária podem ser
desastrosas.
“Vários tipos do
vírus da gripe aviária têm potencial zoonótico porque foi demonstrado que eles
cruzam a barreira das espécies, transmitindo para mamíferos, incluindo humanos.
O monitoramento contínuo e vigilante para evitar mais transbordamentos, que
podem resultar em pandemias desastrosas”, alertam no artigo publicado na última
semana.
Os pesquisadores
explicaram que o H5N8 pode se propagar rapidamente entre aves do mundo e
consequentemente atingir as pessoas, já que o vírus tem alta capacidade de
ligação ao receptor do tipo humano.
Os primeiros casos
de infecção aconteceram na Rússia, em dezembro de 2020, mas só foram
confirmados em fevereiro deste ano. Sete trabalhadores de uma fazenda avícola,
que cuidavam de aves contaminadas, tiveram os exames analisados e detectaram a
presença do H5N8.
De acordo com
informações da agência de saúde russa, os pacientes não apresentaram sintomas
relevantes e a doença não apresentou transmissão entre humanos.
Os cientistas
chineses são os mesmos que, em dezembro de 2019, alertaram sobre o perigo do
SARS-CoV-2 e ambos não se mostraram otimistas sobre os efeitos na população da
nova mutação do vírus da gripe aviária.
“A análise
filogenética revelou a disseminação global do H5N8 tornou-se uma grande
preocupação para a avicultura e a segurança da vida selvagem, mas,
criticamente, para a saúde pública global”, publicaram no artigo.
E, complementaram:
“A grande migração de longas distâncias de aves selvagens, a capacidade de
rearranjo e mutação do vírus da gripe aviária e o aumento da capacidade de
ligação ao receptor do tipo humano é imperativo que não sejam ignoradas as
chances de disseminação global e o risco potencial do H5N8 para avicultura,
avifauna e saúde pública global”, ressaltaram.
O epidemiologista e
professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, Eliseu Waldman explica que o
contato intenso entre homens e animais ao longo dos anos aumentou a tendência
de novas epidemias.
“A forma como o
homem tem contato com os animais cria o que chamamos de saltos. O que significa
que um vírus que circula em um animal, se adapta e atinge a população humana,
que se escapar pega outras pessoas sem nenhuma resistência”, alerta.
O presidente da
SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Juarez Cunha explica que todas as
infecções do influenza surgem a partir de animais e as transmissões tendem a
aumentar com o passar do tempo.
“Todos os vírus
influenza tem reservatórios em animais. Se imagina que mais cedo ou mais tarde,
temos de estar preparados para acompanhar as transmissões e conseguir
controlar. A transmissão primeiro é de animal para animal; depois de animal
para humano e em seguida de humano para humano. Para que isso não acontece é
importante combate rápido com medidas drásticas, como a de dizimar os animais
contaminados”, disse o médico.
Nos animais, o H5N8
foi detectado pela primeira vez na China, no ano de 2010. Em 2014, aconteceu um
segundo surto em aves que se espalhou por Japão e Coreia do Sul. A doença
atingiu aves pela terceira vez em países da Europa e nos Estados Unidos, em
2016. No ano passado, cerca de 46 países registraram surtos da doença e milhões
de animais precisaram ser sacrificados.
O que fazer para não virar uma epidemia?
A dupla chinesa
lembrou que durante a pandemia da Covid-19 houve um aumento da preocupação com
os cuidados pessoais e os surtos de gripe diminuíram entre as pessoas, mas caiu
a vigilância e o controle para o surgimento de novas doenças.
“Devido à pandemia,
as medidas de prevenção e controle – incluindo mobilidade reduzida, maior uso
de máscaras e maior distanciamento social e desinfecção – reduziram
drasticamente a incidência global dos vírus sazonais da influenza humana A e B.
No entanto, os
dados podem ser subestimados e devem ser interpretados com um grau de cautela
porque a Covid-19 influenciou os comportamentos de busca por saúde. Porém, o
vírus da gripe aviária causou surto frequente em animais de vários países dos
continentes, especialmente durante o inverno”, ressaltaram no artigo.
Mesmo com o alerta
de perigo feito por Shi e Gao, eles afirmaram que medidas como vigilância de
granjas, atualização da vacina da gripe para os animais, a partir da descoberta
da nova mutação, podem controlar a propagação do vírus nas fazendas e,
consequentemente, segurar o salto em humanos.
Os pesquisadores
ressaltam: “Educação e divulgação também são importantes, incluindo medidas de
proteção pessoal reforçadas durante a temporada de influenza, mantendo-se longe
de pássaros selvagens e evitando caçar e comer pássaros selvagens”, finalizam
eles.
Cunha reafirma que
a vigilância é a melhor forma de evitar que a doença evolua. “Não tem como
dizer se a transmissão vai ou não acontecer. Por isso, a vigilância deve ser
frequente e o uso de medidas preventivas não farmacológicas deve ser mais forte
nos trabalhadores rurais, que trabalham diretamente com o animal. Nos casos que
o causador é um animal silvestre é mais difícil de controlar, mas é importante
verificar se existe mortalidade de aves fora do normal”, finalizou Cunha.
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