Foto: Aires Mariga/Epagri
A maçã Fuji da
Região de São Joaquim é a sexta Indicação Geográfica (IG) conquistada por Santa
Catarina. A certificação, na categoria de Denominação de Origem (DO), foi
anunciada nesta terça-feira, 3, pelo Instituto Nacional de Propriedade
Industrial (INPI) e abrange uma área de 4.928 km² nos municípios de São
Joaquim, Bom Jardim da Serra, Urupema, Urubici e Painel.
Uma IG atesta que
um produto só tem aquelas características porque é produzido de determinada
forma, ou porque tem notoriedade na produção. A Denominação de Origem parte do
pressuposto de que as características geográficas (naturais e humanas) dessa
região determinam a singularidade e a qualidade do produto. A conquista é
resultado de uma parceria desenvolvida pela Epagri, Sebrae, UFSC, com apoio de
produtores locais e de outras instituições, como a Cidasc, por exemplo. A
solicitação foi apresentada ao INPI pela Associação de Produtores de Maçã e Pera
de SC (Amap).
A maçã Fuji produzida na região de São
Joaquim destaca-se por suas características únicas de cor, formato e sabor,
entre outras. Por isso, ela foi objeto de pedido de IG. A elevada altitude da
região delimitada pela IG (acima de 1.100 metros) é fator determinante para
essas diferenciações.
Diferenciais
Mariuccia
Schlichting de Martin, pesquisadora da Estação Experimental da Epagri em São
Joaquim, explicou que acima de 1.100 metros de altitude existe uma maior
probabilidade de ocorrência de pelo menos 700 horas com temperatura do ar
abaixo de 7,2°C no inverno. Segundo ela, essa quantidade de horas de
frio leva a uma boa indução natural da brotação e do florescimento, que irá
resultar em frutos maiores, mais arredondados e com menos defeitos físicos.
Noites frias no
período de quatro a seis semanas antes da colheita, que vai de março a maio,
também são determinantes no produto final. Essa diferença entre dias quentes e
noites mais geladas é importante para a síntese de antocianina, principal
pigmento responsável pela cor vermelha da casca, característica que qualifica
as frutas produzidas nessa região.
Maçãs Fuji submetidas
a temperaturas mais baixas nas semanas que antecedem a colheita também são mais
suscetíveis à ocorrência de pingo de mel, distúrbio fisiológico que deixa o
fruto mais doce. “O clima tipicamente mais frio da região de São Joaquim
resulta em ciclo vegetativo mais longo, com floração antecipada e colheita mais
tardia, possibilitando a colheita de frutos com maior tamanho e peso”,
acrescentou a pesquisadora.
Essas são algumas
das razões que embasaram o pedido de concessão de IG na categoria Denominação de
Origem. Estes diferenciais fazem a maçã Fuji da Região de São Joaquim ser
considerada uma das melhores do mundo, possuindo, portanto, um amplo mercado. A
região é responsável por mais de 50% do total de produção nacional desse
cultivar.
Trabalho histórico
A presidente da
Epagri, Edilene Steinwandter, destacou o trabalho multidisciplinar desenvolvido
pela instituição para conquista desta IG. “A obtenção da IG mobilizou
profissionais da extensão e de pelo menos três unidades de pesquisa da Epagri”
enumerou. “A IG da Maçã Fuji da Região de São Joaquim vem coroar um trabalho
histórico da Epagri, que colocou Santa Catarina na posição de maior produtor da
fruta no país”, recordou a presidente, lembrando que o estado faz pesquisas em
pomicultura desde 1970.
O secretário da
Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural, Altair Silva, também
comemorou o feito. “Santa Catarina tem uma produção diferenciada, com métodos
de produção e culturas distintas de outras regiões do país, e até mesmo do
mundo. A Indicação Geográfica da Maçã Fuji da Região de São Joaquim é a
valorização e o reconhecimento dessas características únicas, que nos fazem
referência na produção de alimentos de qualidade”, elogiou.
A Epagri/Ciram foi o órgão responsável por fazer a
caracterização de clima e solo que resultou na delimitação da área da IG. “A
maçã Fuji da Região de São Joaquim é reconhecida internacionalmente por sua
qualidade e para a delimitação da área geográfica da IG foram considerados
critérios climáticos, fitogeográficos, fenológicos e produtivos, pois eles se
relacionam com a qualidade dos frutos”, descreveu Angelo Massignam, gerente da
instituição.
Cristiano João
Arioli, gerente da Estação Experimental da Epagri em São Joaquim, destaca que
nos últimos anos a unidade tem focado seu trabalho na qualidade dos frutos, com
base no que exige o consumidor. “Há muito tempo, quem consome a fruta, os
compradores e inclusive os exportadores, são unânimes em admitir que a maçã
produzida na região de São Joaquim, especialmente a da variedade Fuji,
apresenta qualidade superior tanto em termos de aparência quanto em sabor,
quando comparada com frutas produzidas em outros polos importantes”, relata.
Avanços
“Foi um trabalho
forte de articulação, onde a extensão estava presente, junto com a pesquisa”,
esclareceu Marlon Francisco Couto, gente regional da Epagri em São Joaquim. Ele
contou que foram três anos de trabalho e o processo, apesar de ter sido
retardado pela pandemia, foi rápido, graças ao engajamento do setor e das
entidades relacionadas. “A gente espera agora que o setor se aproprie desse
signo distintivo. Teremos avanços que certamente trarão benefícios aos
produtores e ao desenvolvimento da região”, sentenciou.
Os produtores
já estão comemorando a certificação. Dioni Nunes Pereira, presidente da Amap,
espera que a Indicação agregue valor à produção. “Vamos ter um produto
diferenciado, vamos abrir vários mercados com essa IG para nossa fruta”, previu
o pomicultor. “A gente sabe que a nossa maçã da variedade Fuji tem diferencial,
é única no mundo.”
Velocino Salvador
Bolzani Neto produz maçã orgânica na fazenda Ecológica Terra do Sol, que
pertence à família desde 1895. Ele disse que “a IG premia um trabalho de
décadas dos agricultores familiares que souberam, com apoio da pesquisa e da extensão
rural da Epagri, desenvolver seus cultivos de maçã Fuji, aproveitando todo o
diferencial que o clima e a topografia da região oferecem”.
O produtor rural
tem boas expectativas também com relação ao leque de oportunidades que se abre
para o fruticultor e para as agroindústrias da região, tanto na comercialização
da fruta in natura como de seus subprodutos. A perspectiva de
geração de emprego e renda para a região também é motivo de comemoração para o
agricultor. “Com certeza contribuirá muito para o desenvolvimento
socioeconômico e turístico da região de São Joaquim, ainda mais nesse momento
de pandemia onde o brasileiro se volta para o turismo interno”,
animou-se.
“Essa é a sexta
Indicação Geográfica (IG) de Santa Catarina, e conquistas como essas são de
atuação prioritária do Sebrae/SC, que em parceria com outras entidades busca a
valorização tanto de territórios quanto dos seus produtos únicos e
tradicionais, que mobilizam não só a cadeia produtiva em si, mas podem gerar
desenvolvimento e integração a outros elos da cadeia. A IG reconhece e
chancela o trabalho do agricultor familiar catarinense, e sedimenta os esforços
desse empreendedor na busca por uma produção de qualidade, que gera empregos e
renda”, afirmou o gerente de desenvolvimento regional do Sebrae/SC, Paulo Cesar
Sabbatini Rocha.
Além da Maçã Fuji
da Região de São Joaquim, Santa Catarina conta com outras cinco Indicações
Geográficas. A primeira foi a do Vinho dos Vales da Uva Goethe, seguida pela
Banana da Região de Corupá e pela Campos de Cima da Serra para Queijo Serrano.
No dia 29 de junho veio a IG Vinhos de Altitude de Santa Catarina, na
modalidade Indicação de Procedência (IP) e no dia 20 de julho o Estado
conquistou a IG do Mel de Melato da Bracatinga na categoria Denominação de Origem
(DO).
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