A Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso Nacional
aprovou nesta quarta-feira (7), com atraso, o projeto da Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO) de 2020. Entre os pontos aprovados pelos integrantes do
colegiado estão o reajuste do salário mínimo, a partir do ano que vem, para R$
1.040 e a reserva de R$ 3,7 bilhões para o fundo eleitoral das eleições
municipais de 2020.
Para ter validade, o texto da LDO ainda tem de ser
submetido à votação em uma sessão conjunta da Câmara e do Senado. Se for
aprovado, será encaminhado ao Palácio do Planalto para sanção ou veto do
presidente Jair Bolsonaro. Ainda não há previsão de quando a proposta será
analisada em plenário.
A Lei de Diretrizes Orçamentárias estabelece as metas
e as prioridades para o exercício financeiro do ano seguinte, além de orientar
a elaboração do Orçamento da União.
Com base na LDO aprovada pelo Congresso Nacional, a
Secretaria de Orçamento Federal elabora a proposta orçamentária do ano
posterior, em conjunto com os ministérios, o Legislativo e o Judiciário.
Por determinação constitucional, o governo federal é
obrigado a encaminhar ao Congresso Nacional, até 31 de agosto de cada ano, o
projeto de lei do Orçamento da União.
A LDO de 2020 deveria ter sido aprovada antes
do recesso de julho, conforme prevê a Constituição. Porém, como
os congressistas ainda não haviam apreciado o texto, acabaram saindo de férias
informais, o chamado "recesso branco".
Após duas semanas de folga, deputados e senadores
retornaram aos trabalhos no parlamento na última terça-feira (6).
Salário
mínimo de R$ 1.040
O relator da LDO na Comissão Mista de Orçamento, deputado
Cacá Leão (PP-BA), manteve a previsão do governo de que o salário mínimo seja
reajustado, a partir de janeiro do ano que vem, em 4,2%, passando dos atuais R$
998 para R$ 1.040. O valor será pago nos contracheques de fevereiro.
O percentual de 4,2% que será aplicado ao salário mínimo no próximo ano
corresponde à previsão de inflação para este ano do Índice Nacional de Preços
ao Consumidor (INPC). Por se tratar de uma estimativa, é possível que ocorra,
até o fim do ano, alguma variação no valor de R$ 1.040 previsto na LDO para o
salário mínimo de 2020.
Mesmo sendo a primeira vez que o salário mínimo deve
ficar acima de R$ 1 mil, caso a LDO venha a ser aprovada conforme os termos
propostos pelo governo Bolsonaro não haverá reajuste real,
ou seja, acima da variação da inflação deste ano.
O valor do salário mínimo impacta os gastos públicos.
De acordo com cálculos oficiais do governo, o aumento de R$ 1 para o salário
mínimo implica despesa extra de, no mínimo, R$ 300 milhões aos cofres públicos.
Entre 2011 e 2019, vigorou proposta adotada pela então
presidente Dilma Rousseff – aprovada pelo Congresso – de política de reajustes
pela inflação (do ano anterior) e variação do Produto Interno Bruto (PIB) de
dois anos antes.
No entanto, como o PIB foi negativo em 2015 e 2016,
nem sempre o salário mínimo subiu acima da inflação nos últimos anos.
A área econômica do governo Bolsonaro informou que
ainda não foi fechada a política de reajuste do salário mínimo para os próximos
anos. Segundo o ministro da Economia, Paulo Guedes, isso será definido até o
fim de 2019.
"A gente manteve correção feita pela inflação.
Todos nós gostaríamos de poder fazer esse aumento e de acrescentar outros
valores, mas atendendo ao pleito do governo, e ao que diz a Constituição,
acabamos mantendo esse valor", declarou o relator Cacá Leão, justificando
o fato de não ter sido aplicado reajuste real ao salário mínimo de 2020.
Fundo
eleitoral
O relator da LDO fez alterações no projeto encaminhado pela área econômica de
Bolsonaro em relação ao fundo eleitoral. Cacá Leão mais que dobrou a previsão
de recursos a serem disponibilizados aos partidos no ano que vem para as
eleições municipais.
Em comparação com as eleições de 2018, a LDO do ano
que vem prevê o repasse de R$ 2 bilhões a mais ao fundo eleitoral. No ano
passado, 35 partidos receberam R$ 1,7 bilhão para bancarem as campanhas
eleitorais.
Se o texto aprovado nesta quinta-feira pela comissão
for sancionado sem alterações neste trecho, o Congresso Nacional irá sugerir a
reserva, no Orçamento da União de 2020, de R$ 3,7 bilhões ao fundo
eleitoral.
"Isso não quer dizer que será alocada a
totalidade [dos R$ 3,7 bilhões]. O valor vai ser discutido mais na frente,
durante a discussão da lei orçamentária anual. Estamos colocando esse teto.
Momento adequado de se fazer isso [definição do valor] é na LOA [lei
orçamentária anual]", argumentou o relator da LDO.
Reajustes
de servidores
Outra alteração feita pelo relator na proposta do governo está
relacionada com os reajustes de servidores. O texto original não previa
reajustes para funcionários públicos em 2020, com exceção de militares.
Em seu relatório, Cacá Leão afirmou não ser contrário
ao reajuste das remunerações dos integrantes das Forças Armadas.
"Até porque visam a mera recomposição de perdas
decorrentes da desvalorização monetária ao longo dos anos, de tal modo a manter
o poder de compra", escreveu o relator no parecer.
"Todavia, acreditamos que deve haver outras
categorias civis que sofrem do mesmo problema, portanto, decidimos por excluir
a vedação de reajuste a pessoal civil da União que deve ser analisado caso a
caso na tramitação do Orçamento Geral da União para 2020", acrescentou
Cacá Leão em outro trecho do relatório.
A proposta do Ministério da Economia para a LDO de 2020 previa que os gastos
com servidores públicos federais passassem de R$ 326 bilhões em 2019 – valor
correspondente a 4,46% do PIB – para R$ 338,1 bilhões em 2020 – 4,29% do PIB.
Eventuais aumentos para servidores públicos podem
elevar mais esses gastos, classificados como obrigatórios, e pressionar para
baixo outras despesas dos ministérios.
PIB
e meta fiscal
O projeto da LDO aprovado nesta quarta-feira manteve em 2,7%
a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto neste ano – valor que está
acima da última estimativa do mercado financeiro, feita na semana passada, de que a economia terá um
crescimento mais modesto, de 2,1%, em 2020.
De acordo com o relator da LDO, o mercado financeiro
não considera nessa previsão menor de alta do PIB em 2020 a aprovação da
proposta de reforma da Previdência e da proposta de reforma tributária, além do
efeito de privatizações.
A votação da proposta de emenda à Constituição (PEC)
da Previdência foi concluída em segundo turno na
Câmara na noite desta quarta (7). O texto foi encaminhado
ao Senado nesta quinta, começando pela análise da Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ).
Já a proposta de reforma tributária está em discussão
simultaneamente, com textos distintos, na Câmara e no Senado. Além disso, o governo
federal está elaborando uma terceira proposta de alteração nas regras de
tributação. No início desta semana, governo e Legislativo começaram a discutir
a possibilidade de elaborar um texto em conjunto.
"A gente acredita que, sendo aprovadas essas
medidas, a gente vai conseguir igualar esse percentual [2,7% de crescimento
para o PIB no próximo ano]", declarou o relator.
Esse valor, porém, ainda pode ser alterado na proposta
do governo para o Orçamento da União de 2020, que será encaminhado ao Congresso
Nacional até o fim de agosto.
A previsão de crescimento do PIB tem relação direta com os valor das receitas
estimadas para o ano que vem.
Caso a economia brasileira não cresça no próximo ano
em uma taxa maior em linha com os 2,7% de alta do PIB aprovados na LDO, o
Ministério da Economia pode ser obrigado a efetuar um bloqueio significativo de
gastos no começo de 2020.
No início deste ano, o Ministério da Economia anunciou
um bloqueio de R$ 29,7 bilhões para
atingir as metas fiscais pré-determinadas.
Para o próximo ano, foi fixada uma meta de déficit
primário (despesas maiores do que receitas, sem contar os gastos com juros da
dívida pública) de até R$ 124,1 bilhões para o governo federal.
Recursos
para Educação
O relatório aprovado pela Comissão Mista de Orçamento também
incluiu como ressalva, nos gastos que não podem ser objeto de bloqueios
orçamentários nos próximos anos, as "despesas com as ações vinculadas à
função Educação".
Com isso, esses gastos serão preservados e não poderão
ser contingenciados no próximo ano, o que, por outro lado, também dificultará a
execução orçamentária em 2020, tendo em vista os limites impostos pelo teto de
gastos e pela meta fiscal.
Em 2019, o governo efetuou o bloqueio de R$ 5,8 bilhões nos
gastos com Educação em março - o que motivou protestos populares em mais de
200 cidades no dia 15 de maio. Mais recentemente, no fim de
julho, o governo anunciou um contingenciamento adicional de R$ 350 milhões,
que pode afetar a compra, produção e distribuição
de livros didáticos.
DEIXE UM COMENTÁRIO
Facebook