No momento em que
discute de onde tirar dinheiro para uma nova rodada de Auxílio Emergencial, o
Congresso se prepara para derrotar o governo e tomar o controle de fatia maior
do Orçamento.
Além do que já têm
direito por meio de emendas, deputados e senadores querem aumentar em R$ 18,4
bilhões o valor em que podem indicar a destinação. Assim, caberá aos
parlamentares dizer como e com o que o Executivo vai gastar R$ 34,7 bilhões do
dinheiro público neste ano.
Não é a primeira
vez que o Congresso tenta ampliar o montante das emendas parlamentares, nome
dado às indicações feitas ao Orçamento para destinar recursos a redutos
eleitorais de políticos.
No ano passado, por
exemplo, houve uma queda de braço com o governo de Jair Bolsonaro pelas
chamadas emendas de relator, que somavam cerca de R$ 30 bilhões. A manobra,
tratada na época como “chantagem” pelo Palácio do Planalto, foi vetada pelo
presidente.
Os deputados e
senadores, porém, não saíram de mão abanando e foram contemplados ao indicar o
destino de recursos para o combate à pandemia de covid-19.
A deputada Flávia
Arruda (PL-DF), escolhida por Lira para presidir a comissão de Orçamento,
observou que os valores ainda estão em discussão. “Esse número (R$ 18,4
bilhões) é das dezenas de emendas apresentadas, mas não foi aprovado ainda”,
disse ela ao Estadão.
A votação do
relatório final na comissão está marcada para o próximo dia 23. O meio
usado pelos parlamentares para indicar os R$ 18,4 bilhões a mais foram as
chamadas emendas de comissões, em que cada colegiado da Câmara e do Senado
entra em acordo para apontar o destino dos recursos.
Em dezembro, o
Congresso abriu caminho para transformar as emendas de comissões em
impositivas, ou seja, quando o governo é obrigado a pagar. Bolsonaro vetou esse
trecho da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), mas deputados e senadores
agora se preparam para derrubar o veto.
Uma sessão para
analisar a decisão do presidente está prevista para a primeira quinzena do
mês. Técnicos do governo alegam não haver espaço no Orçamento para aumentar
as despesas com emendas e, caso o valor a mais seja aprovado, o Congresso
deverá indicar de onde pretende cortar.
Se o Planalto
conseguir evitar a derrota e mantiver o veto, apenas as emendas individuais e
de bancadas – que totalizam R$ 16,4 bilhões – estarão garantidas para os
parlamentares.
Justificativa
Para justificar o
aumento de recursos das emendas, parlamentares alegam que governadores e
prefeitos tiveram queda nos repasses neste início de ano, enquanto ainda
enfrentam restrições por causa da pandemia de covid-19. Sem o chamado
“Orçamento de guerra”, que aumentou a destinação de dinheiro da União para
Estados e municípios em 2020, afirmam ser preciso incrementar o caixa dos
governos locais neste ano também.
As emendas para
Saúde, porém, representam uma fatia pequena das indicações das comissões – R$ 1,6
bilhão. O maior valor, de R$ 4,8 bilhões, tem como objetivo irrigar o Programa
Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), que
financiou pequenos negócios no ano passado em função da crise de covid-19, mas
não tem orçamento para este ano.
A indicação foi
aprovada por senadores na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, que
discute tornar o programa permanente. “Os senadores não vão se furtar, em
momento nenhum, de estar ao lado, de proteger e de ajudar para que o microempresário
continue vivo, respirando”, afirmou o senador Jorginho Mello (PL-SC), autor do
projeto que criou o Pronampe e da emenda de R$ 4,8 bilhões. Vice-líder do
governo e um dos principais aliados de Bolsonaro no Senado, Jorginho não
apontou, no entanto, de onde sairão os recursos para o programa.
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