O Senado aprovou nesta sexta-feira (20), por
unanimidade, o projeto de decreto legislativo que reconhece o estado de
calamidade pública no país em razão da pandemia de coronavírus.
Projetos de decreto legislativo, como o votado nesta
sexta, não precisam ser sancionados pelo presidente da República. Por isso,
como já havia sido aprovada na
Câmara dos Deputados, a matéria entrou em vigor ao ser publicada
no "Diário Oficial da União" (DOU), o que ocorreu mais tarde nesta
sexta.
A análise do projeto foi remota, realizada sem a
presença dos senadores no plenário. Esta foi a primeira votação do tipo em 196
anos de história da Casa Legislativa.
Na prática, a sessão foi uma videoconferência. Dos 81
senadores, os 75 que participaram da sessão foram favoráveis ao decreto.
Dentre os seis que não votaram, três não conseguiram
se conectar ao sistema. Por ter presidido a sessão, Antonio Anastasia (PSD-MG)
também não votou.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) e o
senador Nelsinho Trad (PSD-MS) estão com a Covid-19 e, ausentes, não participaram
da votação.
Alcolumbre decidiu adotar a sessão não
presencial como forma de precaução, para evitar a proliferação da Covid-19
entre os senadores.
O reconhecimento de calamidade pública permite que o
governo aumente o gasto público e descumpra a meta fiscal prevista para o ano.
O orçamento de 2020, sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro, admite déficit fiscal de até R$
124,1 bilhões nas contas públicas.
Diagnosticado com coronavírus,
Alcolumbre não participou da sessão uma vez que está em isolamento em sua
residência. Na ausência dele, os trabalhos foram conduzidos pelo
vice-presidente do Senado, Antonio Anastasia (PSD-MG).
Acompanhados de técnicos e assessores, Anastasia e o
relator do projeto, senador Weverton (PDT-MA), ficaram em uma sala de controle
da Secretaria de Tecnologia da Informação do Senado (Prodasen), que fica ao
lado do prédio do Congresso Nacional.
Posicionados na frente de uma câmera instalada em
computadores, a imagem deles era exibida na tela de cada senador que
acompanhava a sessão à distância.
Por sua vez, os senadores que estavam conectados em
videoconferência apareciam simultaneamente em uma tela grande na sala.
No início da sessão, houve alguns problemas de áudio,
logo corrigidos. Anastasia explicou que o sistema ainda não estava
completamente pronto e os senadores foram chamados um a um para anunciar seu
voto.
“Na próxima semana, quando teremos, certamente, outra
votação, já teremos não o voto tomado oralmente como hoje, mas eletrônico. Como
se estivéssemos dentro do plenário”, explicou. Anastasia ressaltou o “caráter
histórico, mas também experimental” da sessão.
Mesmo com coronavírus,
o senador Prisco Bezerra (PDT-CE) participou online da sessão remota.
Senadores que estavam sem conexão à internet no
momento da votação anunciaram seu voto por telefone. Foi o caso de Roberto
Rocha (PSDB-MA), Kátia Abreu (PDT-TO), Mecias de Jesus (Republicanos-RR),
Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e Plínio Valério (PSDB-AM).
Anastasia explicou que, embora eles não estivessem
participando da videoconferência, houve a certificação de senha no telefone
para habilitar o voto de ambos.
Não conseguiram se conectar à sessão e, portanto, não
votaram: Sergio Petecão (PSD-AC), Juíza Selma (Pode-RS) e Vanderlan Cardoso
(PSD-GO).
Relatório
O relator no Senado, Weverton Rocha (PDT-MA), leu seu parecer no início
da sessão virtual. Ele disse não haver impedimento do ponto de vista do impacto
econômico e citou artigo da lei de responsabilidade que autoriza o governo a
descumprir a meta fiscal do ano.
“Tais faculdades serão utilizadas com acompanhamento e
o escrutínio do Congresso Nacional, o que permite superar a atual crise com
menores percalços presentes e futuros”, escreveu em seu relatório.
“Isso posto, votamos pela constitucionalidade,
juridicidade e regimentalidade do Projeto de Decreto Legislativo nº 88, de
2020, e, no mérito, por sua aprovação”, concluiu o relator.
Porém, antes de proferir seu voto, Weverton Rocha deu
um “conselho” ao senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jaor Bolsonaro,
que havia falado pouco antes durante a sessão virtual.
Nesta quinta-feira (19), o governo federal decidiu
restringir por 30 dias a entrada de passageiros estrangeiros de voos
internacionais de uma série de países, entre eles a China, integrantes da União
Europeia e Japão, mas os Estados Unidos ficaram de fora.
O relator cobrou a inclusão dos americanos nesta lista
e disse que o presidente Jair Bolsonaro comandava a comitiva que foi ao país
para um encontro com Trump no começo do mês. Já são 22 os integrantes da
comitiva que foram infectados.
O senador destacou que os EUA tem casos confirmados da
doença e que o momento não deve considerar ideologias ou posições de governo.
“Esse momento não é de ideologia, de posição do
governo, é o momento de defender o povo brasileiro. Nós não estamos mais aqui
fazendo nem política e nem campanha. Agora é a luta pela sobrevivência e vida
do povo brasileiro”, declarou.
O
que diz o governo sobre o decreto
Na justificativa enviada ao Legislativo, o governo diz que,
diante da pandemia, tentar cumprir a meta fiscal gerará “riscos de paralisação
da máquina pública, num momento em que mais se pode precisar dela”.
O decreto teve o apoio unânime dos partidos na Câmara.
O relator na Casa, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), ressaltou, porém, que o
Parlamento não está dando um “cheque em branco” ao governo.
“Vamos oferecer ao governo não um cheque em branco,
mas um cheque especial (...) que o governo deverá usar com
responsabilidade", disse.
Uma comissão mista do Congresso Nacional, com seis deputados e seis
senadores titulares, será criada para acompanhar a execução orçamentária e
financeira das medidas relacionadas à crise.
O texto do decreto aprovado na Câmara foi construído
em conjunto com o Senado, o que facilitará a votação pelos senadores.
Déficit
fiscal de 2020
A meta fiscal de déficit de até R$ 124,1 bilhões está
prevista no Orçamento da União de 2020. Isso quer dizer que o governo estima
que as despesas neste ano irão superar as receitas, sem contar os juros da
dívida pública.
Em razão da desaceleração da economia mundial,
intensificada pelos efeitos do coronavírus, o Ministério da Economia reduziu
a previsão de crescimento da economia neste ano de 2,4% para 2,1%.
Nesta semana, porém, o mercado financeiro estimou um
crescimento ainda menor, de 1,68%.
A redução do nível de atividade econômica no país,
somada aos efeitos da desaceleração da economia, deverá obrigar o governo a
anunciar um bloqueio de gastos no orçamento na próxima sexta (20), caso o
Congresso Nacional não aprove o estado de calamidade pública.
O eventual bloqueio dificultaria ainda mais a
destinação de recursos para combater os efeitos da doença no país.
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