Em até 24 horas,
uma pessoa poderá saber, por meio de um alerta no celular, se alguém próximo
esteve ou não infectado pelo novo coronavírus nos últimos 14 dias. É o que
promete o aplicativo Coronavírus-SUS, anunciado pelo Ministério
da Saúde, em parceria com o Google e a Apple, na última semana (31).
Segundo a pasta, o monitoramento da doença é importante para o controle da
pandemia e para a retomada segura das atividades.
A tecnologia
utilizada no app é a “API Exposure Notification”, que já vem sendo usada em
países como Alemanha, Itália e Uruguai. Essa técnica de rastreamento de casos
positivos da Covid-19, segundo o Ministério da Saúde, será um fator essencial
da transição da população para a rotina pós-isolamento social e, ao mesmo
tempo, de gerenciar o risco de novos surtos.
“Antes de chegar ao
Brasil, essa tecnologia amadureceu muito. Antes de adotá-la, nosso sistema
passou por um crivo internacional, que fez uma série de alertas e ajustes
necessários antes de o aplicativo ficar disponível para ser baixado”, explica o
diretor do Departamento de Informática do SUS, Jacson Venâncio de Barros.
No Brasil, apenas o
Ministério da Saúde terá licença para usar a funcionalidade desenvolvida pelo
Google e pela Apple. Com o envio criptografado das informações de contágio, por
meio do uso do bluetooth de baixa energia, o aplicativo reconhece contatos
próximos a uma distância de 1,5 a dois metros e por um tempo mínimo de cinco
minutos entre smartphones que possuam o aplicativo instalado. Nenhum dado de
geolocalização, incluindo dados de GPS, é coletado.
O ministério
esclarece, ainda, que para receber notificações de contato próximo com usuários
positivos para Covid-19, é necessário que o interessado tenha o aplicativo e
habilite a função de notificação de exposição no aparelho. O aplicativo
funciona apenas com outras pessoas com o aplicativo oficial instalado. Se a
pessoa optar por parar de receber as informações, basta desativar as
configurações no aplicativo ou até mesmo excluí-lo, a qualquer momento.
Privacidade
Uma das
preocupações relatadas por usuários era sobre a privacidade dos dados, já que é
o próprio infectado que insere as informações no aplicativo. Funciona assim: a
pessoa com resultado positivo para a doença informa no aplicativo
Coronavírus-SUS, de forma voluntária e anônima, a validação do seu exame
positivo para a doença (PCR ou sorológico). O dado é inserido a partir de um
token (código de números) emitido pelo Ministério da Saúde.
Segundo a pasta,
para evitar informações falsas, antes de gerar esse código, o órgão faz o
cruzamento entre o exame informado pela pessoa e os registros integrados da
plataforma de vigilância (e-SUS Notifica) e da Rede Nacional de Dados em Saúde
(RNDS), ambos integrados e que reúnem informações dos pacientes com Covid-19 no
Brasil.
“É importante
destacar que a privacidade será garantida. Eu não vou saber quem foi a pessoa
com a qual eu tive contato, e que possivelmente esteja doente. O usuário apenas
vai tomar conhecimento de que teve contato com alguém infectado”, garante o
secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco.
Em caso de alerta
positivo da doença para os usuários do aplicativo, Elcio Franco detalha o
procedimento. “A orientação é a mesma de quem teve algum sintoma. A pessoa deve
tomar os cuidados, as medidas de higienização, de etiqueta respiratória – com o
uso da máscara –, e, ao surgir algum sintoma, procurar a rede de atenção básica
para buscar orientação médica.”
Para a
infectologista Joana D'arc, o aplicativo é uma ferramenta interessante. Na luta
contra o coronavírus, a médica considera que toda tecnologia é bem-vinda.
“Todas as ferramentas que possam aumentar a prevenção, o distanciamento social
e que as pessoas evitem exposição são úteis. A única questão é que vai depender
da vontade da pessoa de inserir no aplicativo se o exame foi positivo ou não.
Tem que ter uma campanha de conscientização para que as pessoas utilizem esse
meio como forma de auxílio no combate à pandemia”, frisa.
Funcionalidade do aplicativo
O servidor público
Misael Costa, de 40 anos, foi uma das vítimas da Covid-19. Em julho, ele e a
esposa apresentaram os sintomas da doença, como febre, falta de ar e perda do
paladar e do olfato. O casal, que tem um filho de cinco anos de idade que não
foi infectado, se manteve em isolamento durante o período indicado, de 14 dias,
sem contato externo. Ao ser questionado sobre o aplicativo, Misael acredita que
não há muita funcionalidade, já que ele pode gerar preconceito com quem
contraiu a doença.
“Vislumbro pontos
negativos, e até mesmo um paradoxo, tendo em vista que a iniciativa deve partir
de quem teve a doença. Isso pode gerar uma falsa percepção da realidade, uma
vez que, não sendo alertada, a pessoa pode acreditar que ninguém próximo está infectado”,
avalia.
Para o servidor, o
alerta poderia até gerar uma situação de “pânico”. “Isso porque, ao ser
alertado que alguém próximo testou positivo, sem saber ao certo quem seria,
levaria a um quadro de desconfiança geral”, pontua.
Já o engenheiro
elétrico e de segurança do trabalho Marcos José, de 48 anos, acredita que o
aplicativo é uma boa saída. Ele também testou positivo para o vírus – não
apresentou sintomas – e opina que a tecnologia pode ajudar no mapeamento e
prevenção da doença. “Eu acredito nesse aplicativo. Com ele, acho que temos
condição de identificar um mapeamento mais preciso e evitar o contágio de
muitas pessoas”, defende.
Marcos José cita
como a melhor “arma” para prevenção o exame. “Somente com o teste a gente sabe
se está infectado ou não, pois muitos assintomáticos estão contaminados e não
sabem. Acho que o governo tem que investir no teste em massa, só assim a gente
vai controlar e saber”, argumenta.
Segundo dados das
Secretarias de Saúde dos estados, o Brasil já acumulava 2,7 milhões de casos
positivos da Covid-19 e quase 95 mil mortos até 4 de agosto. Na opinião do
engenheiro Marcos José, com o aplicativo em mãos ainda no início da doença,
talvez esse resultado poderia ter sido amenizado. “Se a gente tivesse o
aplicativo em mãos antes, com certeza teríamos informações e poderia ter
evitado, teríamos mais cuidado usando EPIs e mantendo distanciamento. Mas
reafirmo sobre a importância dos testes. Eu sou um caso vivo. Se não tivesse
feito o teste, estaria levando a vida normalmente, trabalhando, convivendo em
família e transmitindo o vírus”, reforça.
A infectologista
Joana D’arc destaca o ponto principal, na opinião dela. “Espero que a população
tenha essa consciência e esse altruísmo de proteger o próximo e lançar as
informações solicitadas pelo Ministério da Saúde”, finaliza.
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