A responsabilidade
pela compra dos 200 respiradores com a Veigamed sem licitação e pago de forma
adiantada pelo governo do Estado tem dois responsáveis diretores: o
ex-secretário da Saúde Helton de Souza Zeferino, e o atual, André Motta
Ribeiro. Essa é a opinião do diretor de licitações e contratos da Secretaria de
Estado da Saúde, Carlos Charlie Campos Maia.
Subordinado até
então à ex-servidora Márcia Regina Geremias Pauli, que ocupava a função de
gerente administrativa na Secretaria, Carlos diz que ela foi “bode expiatório”
na polêmica compra feita em março.
A fala de Carlos
Charlie foi uma resposta ao deputado Ivan Naatz (PL), nesta quinta-feira (21),
na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Alesc (Assembleia Legislativa de
Santa Catarina) que apura irregularidades na compra dos respiradores com a Veigamed.
O diretor de licitações fez a afirmação mesmo sabendo que poderá ser exonerado
do cargo após a fala.
Carlos Charlie
citou como exemplo, o comportamento do atual secretário da Saúde, André Motta
Ribeiro, que ainda como adjunto da pasta, entrou em uma reunião e de forma
“arrogante” pediu para que Márcia atendesse um pedido. “Ela (Márcia) estava
esgotada, não soube dizer não. Não sei afirmar quem a estava a usando, mas foi
usada como bode expiatório”, disse ele.
O diretor de
licitações da Secretaria da Saúde, ao responder ao deputado Valdir Cobalchini
(MDB), afirmou que apenas uma vez viu uma videoconferência onde participaram
membros do Ministério Público e do Tribunal de Contas do Estado, como sugerido
pelo governador Carlos Moisés (PSL), de que estariam acompanhando todos os
processos de licitação do governo. “Ficou apenas no campo de ideias. Esses
órgãos e outros não enviaram nenhum membro para acompanhar as reuniões e as
decisões”.
Ordens diretas
Questionado ainda
sobre as propostas da empresa Veigamed e das duas outras empresas, que enviaram
valores superiores para venda dos equipamentos, a MMJS e JE comércio, cujos
documentos apresentavam a mesma foto e até fonte de letras semelhantes, sem
CNPJ e outros dados das empresas, Carlos Maia reforçou que recebeu ordens e
como foi dado aval pela assessoria jurídica encaminhou os processos para seus
superiores.
Respondendo ao
deputado Milton Hobus (PSD), Carlos Maia enfatizou que sabia da existência de
uma proposta da Intelbrás para oferecer 100 equipamentos por R$ 7 milhões. “Mas
desconhecia as tratativas do governo e quais os critérios. Os termos foram
autorizados pelo secretário e pelo adjunto da secretaria”, afirmou.
O deputado Moacir
Sopelsa (MDB), como ex-secretário da Agricultura por duas vezes, enalteceu o
comportamento do diretor de Licitações, mas lembrou que “quem cala, consente” e
sugeriu que falasse sobre o que estava ocorrendo dentro da secretaria da Saúde.
O deputado Valdir
Cobalchini, ex-secretário de Estado da Infraestrutura, afirmou estar preocupado
com a perda de controle do governo em compras sem licitação que estariam
prejudicando a imagem catarinense nacionalmente. “Um amadorismo muito grande ou
é corrupção”.
CGE apontou diversas irregularidades
no processo
O corregedor-geral
do Estado, Luiz Felipe Ferreira, depoente na CPI dos Respiradores ontem,
afirmou que a CGE (Controladoria Geral do Estado) tomou conhecimento do
processo após a compra dos equipamentos.
Conforme ele, a CGE
não avaliou o edital de compra dos respiradores e somente foi consultada pela
Secretaria de Estado da Saúde sobre o assunto no dia 18 de abril. Ferreira
afirmou que a CGE elaborou um relatório apontando as irregularidades do
processo de compra, apresentado ao secretário da Saúde no dia 24 de abril.
O corregedor-geral
afirmou que o relatório apontou diversas irregularidades, como pagamento
antecipado, ausência de representante legal, documentos divergentes,
incapacidade da empresa de executar o contrato, entre outros itens.
No relatório, a CGE
recomendou a notificação da Veigamed visando ao reequilíbrio
econômico-financeiro do contrato, solicitou a instalação de investigação com
base na Lei Anticorrupção e solicitou a instauração de sindicância no âmbito da
SES. “Tudo isso foi feito após o pagamento, anteriormente não tínhamos
conhecimento do processo”, frisou.
“A CGE só foi
consultada depois que o negócio estava concretizado? É inadmissível isso. A CGE
foi criada para dar mais transparência”, opinou o deputado Moacir Sopelsa
(MDB).
O corregedor
afirmou que a CGE não tem condições de rastrear R$ 26 bilhões por ano, que é o
total contratado pelo Estado. Ele informou que o órgão atua por solicitação das
secretarias ou quando rastreia irregularidades em algum edital.
Secretário não atendeu recomendação
O assessor jurídico
da Secretaria de Saúde, Carlos Roberto Costa Junior, relatou que elaborou, no
dia 16 de março, um documento interno orientando para que não fossem realizados
pagamentos antecipados sem a concordância dos órgãos fiscalizadores, como o TCE
(Tribunal de Contas do Estado) e o MPSC (Ministério Público de Santa Catarina).
De acordo com o
assessor jurídico, é usual os fornecedores da SES solicitarem o pagamento
antecipado por que há alguns anos a secretaria atrasava pagamentos, no entanto,
a rotina no órgão é efetuar a quitação da compra após 30 dias do recebimento.
Questionado sobre
ter dado parecer positivo para a compra dos respiradores da Veigamed com
pagamento antecipado, Carlos Roberto disse que no documento não estava
estabelecido a forma de pagamento e que ele entendeu que ocorreria a de praxe
após os 30 dias.
“Na minha concepção
(o processo) seguiu os trâmites. Eu não fui provocado quanto à forma de
pagamento. A solicitação de pagamento antecipado é comum na SES, mas a gente
sempre desconsidera. Tem que indagar o gestor por que ele adotou esse
pagamento. Se algo aconteceu é porque o gestor não seguiu a orientação do
jurídico. Nem imaginava que ele (ex-secretário Helton Zeferino) faria esse
pagamento antecipado”, afirmou.
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