O relatório final
da CPI dos respiradores pede o impeachment do governador Carlos Moisés e
encaminha ao Ministério Público pedidos de investigação criminal para outras 13
pessoas envolvidas na polêmica compra de 200 respiradores por R$ 33 milhões
feita pelo governo de Santa Catarina durante a pandemia do coronavírus.
A leitura e entrega
do relatório final ocorreu em sessão da CPI nesta terça-feira (18), e agora o
documento de 118 páginas será encaminhado a uma série de órgãos e autoridades,
como o Ministério Público Federal (MPF), o Tribunal de Contas de SC (TCE-SC), e
o Tribunal de Justiça de SC (TJ-SC).
Em relação ao
governador Moisés, os deputados da CPI vão encaminhar o relatório ao Procurador
Geral da República, Augusto Aras, solicitando a deliberação sobre possível
participação criminosa do governador no processo fraudulento. Além disso, a CPI
pede também ao presidente da Assembleia Legislativa de SC (Alesc), deputado
Júlio Garcia, a abertura de um processo de impeachment pelo cometimento de
crime vinculado à administração pública. Será o sétimo pedido de impedimento de
Moisés, que já enfrenta um processo em aberto atualmente na Alesc.
Conforme o
relatório, que é assinado pelo deputado estadual Ivan Naatz, Moisés teria
cometido crime de responsabilidade por omitir fatos à CPI e "retardar
deliberações que lhe eram de sua competência" que poderiam ter evitado o
dano aos cofres públicos. Um dos argumentos principais é de que o governador
teria sido avisado pelo presidente do TCE-SC sobre os problemas da compra com
pagamento antecipado.
Já em relação aos
outros envolvidos, a CPI lista ao Ministério Público possíveis crimes de fraude
em licitação, desvio de finalidade de verbas, enriquecimento ilícito, lavagem
de dinheiro, peculato e constituição de organização criminosa. Para esses
possíveis crimes, o relatório acusa os seguintes nomes:
- César Augustus
Martinez Thomaz Braga (advogado da Veigamed);
- Douglas Borba
(ex-secretário da Casa Civil de SC);
- Fábio Deambrósio
Guasti (empresário e médico ligado à Veigamed);
- Helton de Souza
Zeferino (ex-secretário de Saúde de SC);
- Leandro Adriano
de Barros (advogado que teria sido indicado por Borba para intermediar a
negociação com a Veigamed);
- Márcia Regina
Geremias Pauli (ex-Superintendente responsável pelas compras da Secretaria de
Saúde de SC);
- Pedro Nascimento
de Araujo (sócio-proprietário da Veigamed);
- Rosemary Neves de
Araújo (sócia-proprietária da Veigamed);
- Samuel de Brito
Rodovalho (empresário e representante comercial que participou da negociação
dos respiradores).
Além dos nove
envolvidos, a CPI ainda pede a investigação de mais quatro pessoas por outros
atos lesivos à administração pública. André Motta Ribeiro, Carlos Charlie
Campos Maia, Carlos Roberto Costa Júnior e José Florêncio da Rocha.
Motta Ribeiro é o
atual secretário de Saúde do Estado, e os outros três são servidores públicos
ligados à pasta e aos setores de compras e licitações.
Segundo o relatório
da CPI, houve uma “associação de servidores e empresários” para “gerar danos ao
erário público”, em um ato que os deputados chamam de “desastroso processo de
compra.
O texto indica que
os problemas ocorreram na dispensa de licitação com pagamento antecipado, na
contratação de uma empresa suspeita, na alteração do produto e na inexecução
contratual. Vale lembrar que, conforme as investigações dos últimos meses, o
Estado recebeu respiradores de um modelo diferente do comprado e que não
funcionam para pacientes com covid-19. Dos 200 equipamentos, apenas 50 chegaram
em Santa Catarina.
O relatório também
sinaliza outros indícios, como os documentos que apontam que o modelo de
respirador oferecido inicialmente pelo grupo de empresários não existia, e que
as outras propostas que concorreram na negociação eram de fachada. Todos esses
fatos já constam também no processo da força-tarefa da Operação O2, que investiga
na esfera criminal o caso dos respiradores e, em duas ações já deflagradas nos
últimos meses, chegou a prender preventivamente vários envolvidos agora citados
pela CPI.
A CPI por si só não
tem poder de punir qualquer um dos envolvidos. por isso, o resultado da
investigação é encaminhado a outros órgãos que tem essa autonomia. Desta forma,
o material serve para embasar novas investigações e decisões contra os citados.
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