Por causa da pandemia do
coronavírus, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) vai adiar os
reajustes tarifários da energia até o início do próximo ano tanto para grandes
consumidores quanto para clientes residenciais.
Cálculos da agência
previam um aumento médio de 11,51% neste ano caso o setor não recebesse ajuda
do governo.
O socorro chegou na
segunda-feira (18) por meio de um decreto assinado pelo presidente Jair
Bolsonaro que prevê ainda a possibilidade das empresas do setor buscarem
empréstimos junto a bancos públicos e privados para compensarem perdas de
receita e alta da inadimplência.
Os custos desses
empréstimos serão compartilhados entre as companhias e seus grandes
consumidores, como as indústrias. Os clientes residenciais não vão pagar essa
conta.
A Aneel decidiu,
nesta terça-feira (19), que fará uma regulamentação com as diretrizes dessas
operações e proibiu que, futuramente, as empresas, particularmente as
distribuidoras, peçam reequilíbrio contratual se sofrerem qualquer tipo de
perda decorrente desses empréstimos. No reequilíbrio, os benefícios concedidos
passam a ser compartilhados por todos os consumidores, independente da
categoria.
Segundo o
presidente da agência, André Pepitone, o objetivo é cumprir o decreto, que
impede o subsídio cruzado. Entre 2014 e 2015, a ex-presidente Dilma Rousseff
socorreu as elétricas e houve rateio generalizado desses custos por meio de
aumento de tarifas.
Desta vez, o
decreto e a Aneel deixaram claro que o consumidor residencial não terá aumento
na conta de luz decorrente da ajuda do governo ao setor.
O ponto central da
ação emergencial do governo é garantir a solvência das distribuidoras, que
concentram 80% da arrecadação do setor. No final, depois de repasses para os
demais elos da cadeia, o segmento fica com 18% das receitas.
Nas duas últimas
semanas, associações vinham pressionando por um reequilíbrio contratual junto à
Aneel para cobrir as perdas sofridas com a crise. Isso poderia gerar aumento
nas tarifas.
As empresas
reclamam de uma queda média de 30% no consumo e dados do Ministério de Minas e
Energia mostram uma inadimplência de 11,84%, em abril, contra a média mensal do
primeiro semestre de 2019 de 3,26%. Desde meados de março, as perdas geradas
pela Covid foram de R$ 5,4 bilhões, sendo R$ 3,2 bilhões devido ao aumento da
inadimplência.
Diante disso, elas
pediam que a agência determinasse a renegociação como regra para o setor. No
entanto, os integrantes do conselho entenderam que isso seria uma
"intervenção". Por isso, decidiram fazer a recomendação de acordos
entre as partes definindo os termos da negociação.
Apesar disso, a
agência decidiu que tomará conhecimento das perdas de faturamento, mês a mês,
que estarão atreladas à chamada "conta-Covid" definida pelo
decreto. Nesta conta, haverá um mecanismo de compensação das taxas de
captação dos bancos (spread). Quando for mais vantajosa para os bancos, será
paga com encargos na tarifa (do tomador do crédito).
Se houver redução,
deverá ser abatida da tarifa. Os empréstimos estarão embutidos na conta de luz
desses grandes consumidores a partir de 2021, prazo que as empresas preveem
para começar a ter fôlego pós crise. Esses clientes só deixarão de pagar essa
conta quando o empréstimo for quitado.
Os empréstimos
serão liberados por um sindicato de bancos liderado pelo BNDES. As companhias
pediram ao governo linhas entre R$ 20 bilhões e R$ 25 bilhões, mas os valores
devem girar em torno de R$ 12 bilhões a R$ 15 bilhões.
Ao assinar o
contrato, as empresas serão obrigadas a concordar em jamais recorrer à Justiça
contestando a operação e terão ainda contrapartidas a serem cumpridas. No caso
das distribuidoras, que amargam as maiores perdas no momento, elas não poderão
renegociar seus contratos de compra e venda de energia reduzindo volume (devido
à queda do consumo).
Também ficarão
proibidas de distribuir lucros acima de 25% (patamar mínimo definido pela lei)
se ficarem inadimplentes. A Aneel também tomou medidas para garantir o caixa
das empresas que não podem contar o fornecimento de energia em casos de
inadimplência devido à pandemia.
Em contrapartida, a
agência decidiu liberar até R$ 2,2 bilhões de saldo de um fundo de reserva de
encargos para cobrir perdas de geradoras, transmissoras e distribuidoras. A
maior parte (R$ 1,47 bilhão) irá para as distribuidoras.
O decreto também
trouxe detalhes de outro mecanismo de compensação para evitar que todos os
consumidores arquem com a ajuda dada aos consumidores de baixa que terão, por
três meses, descontos de até R$ 200 na tarifa para as famílias que consomem até
220 kWh por mês. Até este valor, essas famílias estarão isentas do pagamento
das contas.
O auxílio, válido
por três meses, consumirá, no mínimo, R$ 900 milhões no trimestre. Esse
dinheiro sairá de sobras de fundos setoriais, como a CDE (Conta de
Desenvolvimento Energético). Desta forma, os demais consumidores não pagarão a
mais em suas contas para que os mais pobres sejam beneficiados.
>>>Clique e receba notícias do JRTV Jornal Regional diariamente em seu WhatsApp.
DEIXE UM COMENTÁRIO
Facebook