Deputados de SC decidem continuar o processo de impeachment do governador e da vice

17/09/2020 - 20h55

Os deputados estaduais de Santa Catarina votaram pelo prosseguimento do processo de impeachment contra o governador do estado, Carlos Moisés da Silva (PSL). A votação ocorreu em reunião extraordinária da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) na noite desta quinta-feira (17). Foram 33 votos a favor do prosseguimento, seis contra e uma abstenção.

Mais cedo, em outra reunião extraordinária da Alesc, os deputados votaram pelo prosseguimento do processo de impeachment contra a vice-governadora, Daniela Reinehr (sem partido). Foram votos sim, 7 não e uma abstenção.

As defesas do governador e da vice negam que tenha havido crime de responsabilidade fiscal. A solicitação de afastamento dele e da vice foi oficializada em julho e aponta suspeita de crime de responsabilidade em aumento salarial dado aos procuradores do estado em 2019.

A sessão ocorreu de forma presencial, com alguns deputados participando de forma virtual por diversas razões, incluindo um parlamentar diagnosticado com Covid-19.

Com o resultado dessas duas votações, os deputados autorizaram abertura de processo por crime de responsabilidade contra Moisés e Reinehr.

Após a votação contra Reinehr, a advogada dela, Ana Blasi, afirmou que "O que ficou muito claro é um ressentimento enorme do parlamento em relação ao governador. Muitos deputados falaram nisso, que não foram atendidos, esteve ele [Moisés] esteve em suas regiões e não os convidou, muitas queixas da forma como foram tratados. Do crime de responsabilidade mesmo, ninguém falou. Estamos muito certos e convictos de que ela não cometeu crime algum que justificasse impeachment".

Como foram as sessões

A reunião extraordinária com a votação relacionada a Moisés começou pouco depois das 19h e cada partido teve uma hora para falar ao plenário. Em seguida, os deputados falaram em microfone os votos.

A sessão relacionada à Reinehr foi igual. Porém, antes de os partidos poderem se manifestar, os advogados de Ralf Zimmer Júnior, defensor público que fez a denúncia contra o governador e a vice, e as defesas de Reinehr e Moisés puderam falar ao plenário. Cada um teve 15 minutos.

O primeiro advogado a falar foi Leandro Maciel, da defesa de Ralf Zimmer Júnior, que fez a denúncia contra o governador e a vice. Maciel relatou que “Doutor Ralf me apresentou esses fatos. Pediu minha opinião, fomos tomar um café. Analisei os documentos e disse de cara que tinha fundamento. Voltamos a conversar. Não acreditei no que estava vendo, lendo. Algo que pudesse ter nascido numa casa de defender os interesses do estado, e não o estado-governo”.

Depois, tomaram a palavra os advogados Ana Blasi e Salomão Antônio Ribas Júnior, da defesa da vice-governadora. Blasi declarou que Reinerh não cometeu crime. “Crime exige materialidade, exige tipo penal. O que ela fez? Ocupou o governo no mês de janeiro por 10 dias. Recebeu ofício, deu andamento. Quando voltou o ofício, não estava mais no cargo. Seria uma responsabilidade se mudasse todo o plano de governo. Aí sim, estaria cometendo uma irresponsabilidade”, disse.

O último advogado a falar foi Marcos Probst, da defesa do governador. Ele chamou a acusação contra Moisés de “frágil”, já que, segundo ele, o governador cumpriu uma decisão judicial pelo pagamento aos procuradores, conforme foi recomendado a ele. “Treze procuradores do estado manifestaram a necessidade de cumprimento da ordem judicial”, disse Probst. Também destacou que a Secretaria de Estado da Administração determinou a execução da ordem da Justiça. “Assim como rotineiramente ocorre como em outros tantos cumprimentos de decisão judicial. Qual ato que o governador praticou?”, perguntou aos deputados.

Próximos passos

Com os prosseguimentos dos processos de impeachment, agora a Alesc vai montar uma comissão mista julgadora formada por cinco deputados, cinco desembargadores e o presidente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), Ricardo Roesler, que tem voto de desempate, se necessário.

Testemunhas e defesas serão ouvidas por este grupo, que pode rejeitar o pedido de impeachment e arquivá-lo ou aceitar. Se aceito, o governador e a vice são afastados por 180 dias. Se todo o processo de impeachment for concluído neste ano, deve ocorrer uma nova eleição.

Moisés recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) na semana passada para esclarecer quais são as etapas que precisam ser seguidas em um processo de impeachment contra um governador de estado. A relatora da ação é a ministra Rosa Weber. A decisão pode afetar o rumo do processo em Santa Catarina.

Pedido

O pedido contra Moisés e Reinerh tem como justificativa uma suspeita de crime de responsabilidade cometido ao ser dado aumento salarial aos procuradores do estado, por meio de decisão administrativa, com o intuito de equiparar o salário deles aos dos procuradores da Alesc. O reajuste ocorreu no ano passado. O autor do documento é o defensor público Ralf Zimmer Júnior. Segundo ele, o reajuste deveria ter sido feito por meio de aprovação de projeto de lei na Assembleia.

Na terça-feira (15), a comissão especial que analisa o processo de impeachment aprovou o relatório com o pedido por unanimidade. O alvo, além de Moisés e da vice, também era o ex-secretário de Administração, Jorge Tasca, mas ele pediu exoneração e foi retirado do processo.

Em caso de afastamento do governador e da vice, o presidente da Alesc, o deputado Julio Garcia seria o primeiro na linha sucessória para assumir. Esta semana ele foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por lavagem de dinheiro na Operação Alcatraz. A denúncia é analisada pela Justiça Federal e, se ele não puder assumir, assume interinamente o presidente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), desembargador Ricardo Roesler.

Há um segundo pedido de afastamento relativo à compra de respiradores e contratação de hospitais de campanha em processo na Alesc e um terceiro pedido, resultado de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou a compra de respiradores, segue em análise.

Essa sessão é a primeira em plenário e não é decisiva. Se aprovado o afastamento, uma comissão composta por deputados e desembargadores vai analisar o prosseguimento do processo.

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