2020 foi um ano
recorde em relação às dívidas de estados e municípios honradas pela União. O
valor total no ano passado, que foi marcado pela pandemia do novo coronavírus,
girou em torno de R$ 13,33 bilhões, o maior valor da série histórica. Esse
montante também foi superior ao honrado em 2019, que chegou a R$ 8,35 bi. Os dados foram divulgados nos
primeiros dias do ano pelo Tesouro Nacional.
Rio de Janeiro
permanece entre os estados com as maiores dívidas garantidas. No ano passado, o
valor chegou a 61,9% do total brasileiro – ou R$ 8,2 bilhões. Em seguida, vêm
Minas Gerais (R$ 3,18 bi), Goiás (R$ 553,1 milhões), Pernambuco (R$ 354
milhões) e Maranhão (R$ 280,1 milhões).
“De fato, por conta
da pandemia, houve nesse ano uma liberação maior de recursos para o governo
federal sob a ótica de ajudas emergenciais, realmente um repasse grande fora do
orçamento”, esclarece o presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito
Federal (Corecon-DF), César Bergo.
Segundo ele, esses
recursos, em sua maioria, foram destinados a programas de auxílio aos estados,
inclusive com requisitos de contrapartida. “Os estados deveriam fazer uma
gestão financeira mais restrita, mais rigorosa para que pudessem ter ajuda, e
assim houve esse repasse grande, diferentemente dos demais anos”, completa o
economista.
Essa concentração
da dívida nos estados do RJ, MG, GO, PE e MA chama a atenção de Bergo. “A
tendência é agora normalizar a arrecadação, sobretudo em relação aos royalties
do petróleo, já que a produção petrolífera está voltando ao normal, assim como
outras atividades econômicas”, avalia.
Em nota, o Tesouro
Nacional explica que a alta no ano passado se deu basicamente por dois motivos:
“o Rio de Janeiro possuía um contrato com garantia da União junto ao BNP, que
foi contratado durante a vigência do Regime de Recuperação Fiscal, e que venceu
em dezembro. O valor da honra foi de R$ 4,28 bilhões.”
Além disso,
continua a nota, “a alta do dólar fez com que o valor financeiro dispendido nas
honras aumentasse. Como a dívida dos mutuários com maior volume de honra é em
sua maior parte indexada ao câmbio (RJ em torno de 70% e MG 90%, por exemplo),
isso teve um impacto no aumento dos montantes gastos pela União.”
Ainda segundo o
Tesouro, “em suma, o governo federal aumenta seu endividamento porque faz o
pagamento, mas não tem a contrapartida do mutuário. Esse é o caso de MG,
GO, RN e AP. Após as liminares, a União passou a honrar regularmente dívidas
desses entes.”
Na avaliação do
advogado e professor de direito financeiro do Ibmec-DF Thiago Sorrentino, a
pandemia explica parcialmente esse aumento. “Tivemos a interferência do Supremo
Tribunal Federal, que concedeu diversas liminares dando mais tolerância ao
endividamento dos estados, em prejuízo da Federação.”
Ele adianta que há
um projeto de lei no Senado para regulamentar a matéria. “Isso é péssimo, pois
o STF não tem condições de avaliar os impactos econômicos dessas sucessivas
prorrogações. Toda a incúria e ineficácia das gestões locais é transferida para
a Federação, que acaba respondendo por erros que ela não cometeu. Os estados
gastam mal, desperdiçam dinheiro e quem paga é a União”, dispara.
Para Sorrentino,
uma alternativa seria “uma ação coordenada de todos os entes federados, com a
responsabilização efetiva dos gestores faltosos.”
Valor alto
Outro dado que
salta aos olhos é o valor honrado somente no mês de dezembro. Para efeitos comparativos,
em novembro, a dívida garantida pela União chegou a R$ 647 milhões. Em
dezembro, esse valor pulou para R$ 5,5 bi. Em 2020, o maior valor foi honrado
no mês de maio – R$ 1,3 bi. “A concentração no mês de dezembro é historicamente
normal porque é o fim do exercício. É nesse mês que os acertos devem ser feitos
para que não passe algum tipo de restrição para o ano seguinte, porque existem
encargos, multas moratórias etc.”, alerta César Bergo.
O economista tenta
tranquilizar e avisa que estamos sob caráter de exceção. “Isso não ocorre
normalmente. O ano de 2020 ficará marcado por essas ações extraordinárias”,
finaliza o economista.
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