Um eclipse solar
total poderá ser visto no Chile e na Argentina na próxima terça-feira (2). Em
algumas áreas do Brasil ocorre de forma parcial, já que estamos fora da área
que será abraçada pela sombra resultante do alinhamento entre Sol, Lua e Terra.
Quem estiver dentro desta faixa dos países vizinhos vai experimentar um
privilégio visual: a Lua vai bloquear os raios e, por quase 2 minutos, só será
possível ver a coroa do Sol.
O fenômeno só ocorrerá no Brasil em 2045. Se aos brasileiros resta
esperar, a comunidade científica celebra o fato de o dia virar noite justamente
em uma região onde está um centro de pesquisa com grandes telescópios: o
Observatório La Silla, próximo à cidade de La Serena, no Chile.
Em La Serena, a fase parcial começa às 15h23 e a total às 16h39 (às
16h23 e 17h39 no Brasil, respectivamente). Os eclipses totais do Sol, apesar de
ocorrerem com certa frequência, não acontecem nos mesmos lugares sempre. Os
astrônomos dizem que provavelmente, com os ciclos de alternâncias dos locais,
os terráqueos terão uma única chance de assistir na vida.
O fenômeno visível em 2 de julho não será um dos mais longos – em alguns
casos, os eclipses solares podem chegar a 7 minutos de escuridão, mas, neste
caso, ocorrerá em 1 minuto e 52 segundos. A faixa de terra com a versão total
engloba parte do Chile e da Argentina. Os hotéis nessas regiões estão lotados,
com 96% de ocupação, e com preços exorbitantes – é possível encontrar diárias
por até R$ 30 mil.
Pesquisas científicas
É raro a sombra coincidir com a localização de um observatório com
grandes telescópios. Segundo o Observatório Europeu do Sul (ESO), nos últimos
50 anos foram apenas duas vezes: uma em 1961, no L'Observatoire de
Haute-Provence, na França; e em 1991, no Mauna Kea, no Havaí. Agora no deserto
do Chile, os anfitriões abrirão as portas para 1 mil visitantes.
Além da festa, os cientistas do La Silla resolveram aproveitar a
oportunidade para fazer pesquisas extras. Eles vão repetir o experimento
científico feito em 1919 em Sobral, no Ceará. Com fotos do céu antes e depois
do eclipse, os pesquisadores que estiveram no Ceará conseguiram imagens que
provaram que a força da gravidade do sol altera até o caminho da luz percorrida
por outras estrelas até a Terra. Foi o passo decisivo para comprovar a Teoria
da Relatividade Geral de Albert Einstein.
Outros estudos também serão feitos durante o eclipse. O momento ajuda na
observação da coroa solar. O Sol, inclusive, tem alguns mistérios que estão em
pesquisa pelas agências espaciais: saber mais sobre os ventos solares e
entender os motivos de atmosfera externa ser mais quente do que a superfície.
Missões espaciais, duas neste ano (PUNCH e TRACERS) e uma em 2018
(Parker Solar Probe), foram lançadas em busca de novas descobertas solares. No
entanto, o momento do eclipse é ótimo para fazer imagens da coroa, a atmosfera
externa, e buscar informações sobre o Sol. Isso também ocorrerá também em 2 de
julho.
"Temos cada vez
câmeras melhores, cada vez mais rápidas. Então, nesse eclipse vamos ter imagens
muito rápidas, captar pequenos movimentos que não eram detectáveis antes na
coroa", explica Eugênio Reis, pesquisador do Observatório Nacional.
Agenda e tipos de eclipse
Abaixo, veja uma relação com os tipos de eclipse, a agenda e
localização:
Eclipse solar total: Sol, Lua e
Terra alinhados, com o Sol totalmente encoberto pela Lua da perspectiva da
Terra. Em 2019, teremos no dia 2 de julho no Chile.
Eclipse solar parcial: Sol, Lua e
Terra, com Sol parcialmente encoberto pela Lua da perspectiva da terra. O
próximo será em 30 de abril de 2022, no Pacífico e na América do Sul.
Eclipse solar anular: Sol, Lua e
Terra alinhados, mas com o Sol mais próximo e a Lua mais distante da Terra. Com
isso, um anel de luz é visto ao redor do Sol. Em 2019, teremos em 26 de
dezembro na Ásia e Austrália. Teremos outro em 21 de junho de 2020, na África,
parte da Europa e Ásia.
Eclipse solar híbrido: Sol, Lua e
Terra alinhados, mas a curvatura da Terra faz com que seja observado como
anular em alguns locais e total em outros. O próximo visto será em 20 de abril
de 2023, na Indonésia, Austrália, Papua-Nova Guiné.
Eclipse lunar total: Sol, Terra
e Lua alinhados, com a Lua totalmente encoberta pela sombra da Terra. O próximo
ocorre em 26 de maio de 2021, na Ásia, Austrália, Pacífico e Américas.
Eclipse lunar parcial: Sol,
Terra e Lua alinhados, com a Lua parcialmente encoberta pela sombra da Terra.
Em 2019, teremos no dia 16 de julho na América Latina.
Eclipse lunar penumbral: Sol,
Terra e Lua alinhados, mas com a Lua na parte da penumbra (sombra mais fraca
causada pela Terra). Próximo em 10 de janeiro de 2020, na Europa, África, Ásia
e Austrália.
Como a frequência é calculada?
Nem sempre os humanos souberam calcular a data dos eclipses na Terra. Os
chineses achavam que um dragão comia o Sol. Os egípcios, uma serpente. No
final, era sempre um mau presságio sem coincidência geométrica.
"Não conheço nenhum povo antigo que comemorasse o eclipse, nenhum
deles considerava um bom presságio. Todos esses eventos que fugiam da
previsibilidade eram um prenúncio de algo incomum", explica o astrônomo
Hélio Jacques Rocha Pinto.
Alguns falam a descoberta é dos babilônios, outros dos chineses, mas a
verdade é que a série Saros mudou a forma de enxergar o fenômeno. Observando o
céu, os humanos descobriram que os eclipses se repetem a cada 18 anos, 11 dias
e 8 horas. Com esse cálculo unido à rotação da Terra, a agência espacial
americana (Nasa) consegue saber todos os futuros acontecimentos até depois do
ano 3000.
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