Menos de um mês
após o governo suspender visitas nas cadeias por conta do coronavírus, a SAP
(Secretaria de Administração Prisional e Socioeducativa) expediu um ofício à
empresa que faz o monitoramento e segurança de quatro unidades prisionais de
Santa Catarina para a retirada dos equipamentos. A determinação foi feita na
última quinta-feira (7), em meio à pandemia que já infectou mais de 3,5 mil catarinenses.
Os equipamentos
deverão ser retirados do Complexo Penitenciário do Estado, localizado em São
Pedro de Alcântara, do Presídio Regional de Joinville e das Penitenciárias de
Chapecó e Curitibanos. A companhia deve iniciar o serviço a partir desta
terça-feira (12). No sistema prisional catarinense, já houve três casos de pessoas infectadas com a Covid-19.
Ao saber da
notificação, a Coringa Sistemas Inteligentes de Segurança deu início aos
trabalhos para que uma nova empresa possa assumir o serviço. No entanto,
segundo a companhia, a retirada dos sistemas pode tornar as unidades prisionais
mais vulneráveis à presença do coronavírus.
Serão necessários
ao menos 20 dias para operação em cada uma das unidades. Além disso,
ao menos 60 funcionários precisarão entrar e sair das unidades durante o
período de desinstalação dos equipamentos, alega a empresa.
Aluísio Guedes
Pinto, advogado da companhia de segurança, teme ainda que a retirada dos
equipamentos pode gerar insegurança dentro das unidades. Ao todo, serão 457
câmeras de videomonitoramento retiradas.
“Eu tenho
preocupação enquanto cidadão de segurança. É muito grande. E qual é a
garantia que se tem de que esses funcionários podem sair de lá contaminados ou
não”, afirma.
Imbróglio e briga na Justiça
O desentendimento
entre a Coringa e o governo do Estado teve início em 2018, quando a empresa
venceu o processo licitatório envolvendo a manutenção e segurança das quatro
unidades prisionais. No entanto, SAP rescindiu o contrato no fim do ano passado
alegando descumprimento de um item do processo.
A empresa, no
entanto rebate a alegação e afirmou que não houve nenhum problema durante a
licitação. “Isso não é verdade, não há descumprimento do contrato em nenhum
item”, afirmou o advogado.
Em setembro de 2019
a discussão já estava na Justiça. Com a quebra do contrato, a Coringa deu
início a um processo pedindo a manutenção da licitação e a continuidade dos
trabalhos. Naquele período, alguns equipamentos já estavam instalados. O
processo segue sem decisão na 1ª Vara da Fazenda Pública da Capital.
Logo após a quebra
do contrato, como explica Guedes, a empresa que ficou em segundo lugar durante
a licitação foi chamada para realizar o serviço de forma emergencial. Neste
período, porém, os equipamentos da Coringa permaneceram nas unidades prisionais
realizando o serviço.
“Uma pergunta que
eu faço é: ‘Por que fazer um contrato emergencial com a empresa remanescente
que estava em segundo lugar e fazer isso logo agora?’. Nos causa estranheza no
meio de tudo isso”, questiona o advogado.
Dívida
Segundo a Coringa,
desde 2018 o Complexo Penitenciário de São Pedro de Alcântara e o Presídio
Regional de Joinville estão com o monitoramento funcionando, mas sem repasses.
Já nas penitenciárias de Chapecó e Curitibanos, o Estado não paga o
serviço desde o início de 2020. Ao todo, a empresa alega uma dívida de R$ 1,7
milhão por parte da SAP.
O sistema
implementado nas unidades contempla, além das câmeras, dispositivos para
leitura e reconhecimento facial e de placas veiculares. Há servidores,
softwares e aproximadamente 6 mil metros de infraestrutura antivandalismo para
alimentação de energia e de comunicação de dados em dutos e fibras ópticas e
cabos.
Quantidade de câmeras por unidade:
Complexo
Penitenciário do Estado, em São Pedro de Alcântara: 122 câmeras;
Presídio Regional
de Joinville – 100 câmeras;
Penitenciária de
Chapecó – 112 câmeras;
Penitenciária de
Curitibanos – 123 câmeras;
Contraponto
A SAP foi
questionada manhã desta terça-feira (12) sobre a segurança das unidades
prisionais durante a troca dos sistemas e em relação à saúde dos funcionários
que entram e saem dos cadeias em meio à pandemia.
A reportagem também
solicitou para a secretaria o processo licitatório envolvendo a empresa Coringa
e a nova vencedora da licitação. Até a última atualização do texto, a SAP não
se manifestou.
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