Um ensaio que está sendo feito no Reino Unido procura
verificar se a administração de diferentes vacinas na primeira e segunda dose
pode ser eficaz na prevenção da covid-19. Atualmente, tanto no Reino Unido
quanto em Portugal, as autoridades de saúde estabelecem que a vacinação não
deve ser combinada.
O objetivo do ensaio é estudar
a possibilidade de dar maior flexibilidade na vacinação, ajudar em um caso de
potencial interrupção inesperada nas entregas, mas também verificar se há
alguma “mistura” que possa dar uma proteção ainda melhor.
Esse estudo recebeu
investimentos de 7 milhões de libras por parte do governo (quase 8 milhões
de euros) e deverá envolver mais de 800 voluntários, com mais de 50
anos, na Inglaterra.
Alguns dos voluntários vão
receber a vacina Oxford/AstraZeneca, seguida da vacina Pfizer/BioNTech,
enquanto outros farão o processo contrário, sempre com quatro ou 12 semanas de
intervalo.
É possível que novas vacinas
sejam adicionadas a esse estudo, à medida que forem aprovadas pelos
reguladores, diz a BBC. Outro objetivo da pesquisa é
perceber o impacto da imunização perante novas variantes da covid-19.
Portugal
No Reino Unido, a orientação
formal do Comitê para a Vacinação e Imunização estabelece, até o momento,
que a vacinação não deve ser combinada. Quem já recebeu a vacina
Pfizer/BioNTech ou Oxford/AstraZeneca deve receber a mesma imunização na
segunda dose.
Prevê, no entanto, em
circunstâncias muito raras, que uma vacina diferente possa ser utilizada:
quando apenas uma imunização estiver disponível ou no caso de não se saber que
vacina foi dada na primeira dose.
Em Portugal não se prevê, para
já, a “mistura” de diferentes doses no esquema de vacinação. Na norma publicada
pela Direção Geral da Saúde, no final de janeiro, prevê-se que a primeira e a
segunda dose sejam da mesma marca.
“Para as vacinas com esquema de duas doses deve ser feito o
agendamento da segunda, após a administração da primeira. O agendamento para a
segunda dose deve garantir que a vacina utilizada é da mesma marca”, diz o
documento.
Até agora, a Agência Europeia
do Medicamento aprovou as vacinas da Pfizer/BioNTech, Moderna e AstraZeneca, as
imunizações que já estão ou que estarão disponíveis em Portugal. Todas elas são
vacinas multidose.
Potenciais vantagens
Do ponto de vista científico,
existem boas razões para acreditar que essa nova abordagem de mistura possa ser
benéfica. Na luta contra o ebola, por exemplo, há programas de imunização que
preveem diferentes vacinas, de forma a conferir maior proteção.
Nadhim Zahawi, ministro
responsável pelo processo de vacinação no Reino Unido, destaca que a mistura de
doses é comum em vacinas anteriores, especialmente nas imunizações contra
a hepatite, poliomielite, sarampo ou rubéola.
No entanto, o
representante do governo britânico para a vacinação assegura que não
haverá mudanças na abordagem seguida atualmente no Reino Unido, pelo menos até
ao verão.
O ensaio “Com-Cov”,
do National Immunisation Schedule Evaluation Consortium, é liderado
pelo professor Matthew Snape, da Universidade de Oxford, e tem duração prevista
de 13 meses, sendo que algumas conclusões poderão ser alcançadas até junho.
Em entrevista à BBC,
Snape informou que já foram realizados estudos em animais, que mostraram
“melhor resposta de anticorpos” quando existe um esquema misto de vacinação.
“Vai ser interessante perceber se os diferentes métodos de
vacinação podem levar realmente a uma resposta imunológica melhorada, ou pelo
menos a uma resposta tão boa quanto a imunização de doses da mesma marca”,
adiantou.
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