Por que, num
cenário de pandemia e preocupação generalizada, sua distribuição pode demorar
mais de um ano? E quais são as etapas do processo de criação de uma vacina?
Para Renato Mancini Astray, pesquisador científico de vacinas virais do
Instituto Butantan, em São Paulo, o prazo dado foi razoável.
“São necessários
alguns anos [para se concluir a fabricação de uma vacina]. Normalmente, mais de
cinco”, diz Astray. O cientista explica que é possível separar estas etapas em
três processos principais: descoberta, desenvolvimento e testes clínicos.
Entenda as etapas de fabricação da
vacina
Na descoberta,
segundo o cientista, são testados diversos antígenos (substâncias para produção
de anticorpos), parte que confere a imunidade ao agente viral. Nessa etapa, se
inclui a forma como esse antígeno poderá ser produzido, como ele poderá ser
formulado e qual a sua quantidade ideal.
Dessa forma, o
teste mais determinante desta fase, como explica Astray, “é a prova de
conceito, na qual se demonstra que animais de laboratório uma vez imunizados
com a preparação tornam-se imunes ao patógeno (causador da doença)
relacionado”.
A fase de
desenvolvimento se dá quando o protótipo vacinal é estudado com a intenção de
se criar um produto a partir dele. São abordados, durante a etapa, aspectos
como a produtividade, pureza final e estabilidade da vacina em diferentes
condições. O passo importante desta fase é o TPP (Target Product Profile, em
inglês), que indica e descreve qual será o público alvo do produto, suas
características desejáveis e sua estratégia de administração, entre outras
coisas.
Ao chegar à fase de
testes clínicos o protótipo já tem características próprias de um potencial
produto. Ela se divide em três etapas finais: demonstrar ausência de
toxicidade; mostra imunogenicidade (potencial de uma medicação em provocar
estas respostas imunes); demonstrar eficiência.
Segundo o
cientista, são muitos os cuidados ao longo destes processos, “desde o cuidado
escolher uma forma viável de produzir a vacina para os testes, significando uma
preparação segura e economicamente viável, até cuidados com a toxicidade e
efetividade da preparação”.
Quais burocracias fabricadores devem
cumprir
Existem, ainda,
alguns trâmites burocráticos ao longo do processo de criação, fabricação e
distribuição de uma vacina. Renato Astray explica que há uma legislação
específica e revisada com frequência pela Anvisa, além da necessidade de se
produzir a vacina em condições de Boas Práticas de Fabricação (Inmetro), o que,
de acordo com ele, “exige investimentos altos para a construção de uma fábrica
de vacinas”.
Assim, a Anvisa
afirma que sua regra para a fabricação de vacinas é “basicamente a mesma dos
países que são referência em medicamentos e vacina no mundo”. Após os produtos
estarem prontos, a agência faz a análise dos dados da vacina para validar suas
informações de segurança e eficácia.
Em nota, a Anvisa
assegurou que os produtos e insumos voltados para o combate à Covid-19 tem
recebido prioridade total de análise pela agência.
Busca pela vacina contra a Covid-19
Para então se
chegar a uma vacina contra o novo coronavírus, explica Astray, é preciso
entender a imunologia relacionada à infecção por coronavírus. Em um primeiro
momento, segundo ele, os estudos se baseiam no que se sabe sobre outras versões
do coronavírus que causaram epidemias, como o SARS e o MERS.
Em seguida, deve
ser feita uma preparação precisa para mostrar a eficiência em testes em animais,
seguindo para os testes em humanos. Por fim, conclui, “a construção de
estrutura produtiva e aprovação por agências reguladoras”.
Dessa forma, na
busca pela vacina contra a Covid-19, institutos e indústrias de diversos países
aceleraram suas pesquisas e encurtaram os prazos para a fabricação de uma
vacina para entre 12 a 18 meses.
Entretanto, uma
nova previsão animou aqueles que esperam pela chegada mais breve das vacinas:
na última segunda (30), a Johnson & Johnson anunciou que cofinanciará, ao
lado da Barda (Biomedical Advanced Research and Development Authority), agência
dos Estados Unidos, uma vacina que poderá estar pronta ao início de 2021.
Também nos EUA, o
KPWHRI (Kaiser Permanente Washington Health Research Institute) foi a primeira
organização a realizar pesquisas por uma vacina contra o vírus. Os trabalhos em
Seattle são financiados pelo NIH (National Institutes of Health). Na Alemanha,
o laboratório Pfizer e a startup BioNTech trabalham juntos em busca do
antídoto.
A China
provavelmente terá mais de uma pesquisa por vacinas contra a covid-19.
Anunciada pelo governo chinês, a Academia Militar de Pesquisa Médica, ligada à
Academia Militar de Ciências, lidera um dos estudos, e, a partir de abril,
outras instituições iniciarão trabalhos em busca de uma vacina.
No Brasil
No Brasil,
pesquisadores do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor) da
Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) lideram uma pesquisa por vacinas feitas
por meio de partículas artificiais parecidas com o novo coronavírus. Ainda não
há, porém, previsão para a conclusão dos trabalhos. Entretanto, os cientistas
esperam que a vacina já seja testada em animais nos próximos meses.
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