Apesar da estiagem e da erosão do solo, a safra de verão
2019/20 em Santa Catarina teve um desempenho considerado satisfatório, puxado
pelos bons preços, altas produtividades em algumas culturas e regiões
específicas, além da qualidade adequada de grãos colhidos. A previsão para a
safra de inverno 2020/21 é positiva, caso as condições climáticas previstas se
confirmem. Os números foram apresentados pelos técnicos do Centro de
Socioeconomia e Planejamento Agrícola da Epagri (Epagri/Cepa) em evento virtual
na tarde desta quinta-feira, 9, que marcou o encerramento da safra de verão e a
abertura da safra de inverno.
De acordo com a analista da Epagri/Cepa, Gláucia de Almeida Padrão, a
estiagem que atingiu principalmente o Meio-oeste catarinense no final de 2019 e
início de 2020, atrasou o plantio e trouxe queda de produtividade,
principalmente para as lavouras de milho, soja e feijão. A erosão de áreas
cultiváveis foi outro problema que atingiu pontualmente a safra de verão. A
degradação do solo acontece em cultivos que não primam pela cobertura de solo e
rotação de culturas, contrariando recomendações da Epagri.
Aspectos positivos também foram apontados na safra de verão durante o
evento on-line. O arroz teve uma produtividade elevadíssima, principalmente no
Sul do Estado. Soja e milho também apresentaram produtividades acima do ciclo
agrícola anterior nas regiões Oeste e Meio Oeste. A qualidade dos grãos
colhidos foi impulsionada justamente pela pouca chuva no período adequado. Essa
condição reduz também o custo de secagem para a indústria. O alto valor do
dólar ajudou a elevar os preços, principalmente das commodities. “Tivemos
perdas nas safras de verão, mas quem colheu teve qualidade e bons preços”,
resume Glaucia.
Verão
O arroz foi um dos destaques da safra de verão. A
produtividade de 8.391kg/ha ficou acima da média dos anos anteriores. No ciclo
2019/20 foram colhidas uma média de 168 sacas de arroz por hectare, contra uma
média de 160 na safra passada. O Sul do Estado contribuiu fortemente para a boa
colheita. Apesar da alta oferta do produto no mercado, os preços se mantiveram
em patamares elevados, graças à expectativa inicial de uma safra abaixo da
média provocada pela estiagem no Sul do Brasil e à corrida aos mercados no
início da pandemia, o que aumentou a demanda pelo alimento.
O milho total em Santa Catarina teve uma redução
de 3,48% na área plantada, queda de 10,78% no total produzido, e enfrentou uma
produtividade 7,57% menor, sempre em comparação com a safra 2018/19. A estiagem
que se agravou desde janeiro foi um dos motivos da queda, mas é importante
ressaltar que a área plantada com milho no Estado catarinense vem caindo a cada
ciclo agrícola. O cereal tem nos bons preços um alento, que compensaram para os
agricultores a redução de produtividade.
Na região que se espalha a partir de Joaçaba para o Oeste do Estado, o milho
grão total alcançou uma boa produtividade, graças principalmente o período em
que é plantado, que fez com que as lavouras se livrassem dos piores momentos da
estiagem. O estado continua dependendo da importação de milho de outras regiões
e países para suprimento das agroindústrias. O cereal participa com cerca de
70% da composição das rações e é fundamental para a cadeia produtiva da
proteína animal.
A soja vem aumentando continuamente sua área
plantada no Estado, avançando por espaços que antes eram ocupados
principalmente por plantios de milho e pastagens. Entre as safras 2018/19 e
2019/20 a área plantada com o grão em Santa Catarina aumentou 2,35%, enquanto
que a produtividade reduziu em 4,76%, resultando numa produção total 2,52%
menor do que no ciclo anterior. Mais uma vez a estiagem e a erosão em algumas
regiões de cultivo foram os vilões, mas, assim como no milho, os preços foram
compensatórios, impulsionados pela alta do dólar e pelo volume da importação
chinesa. O estado exportou 1,4 milhão de toneladas de soja entre janeiro e
junho, volume recorde.
O feijão foi outro cultivo de verão que sofreu com
a estiagem. Em relação à safra passada, houve uma queda na produção de 9,11%,
resultado de uma redução de 6,18% na produtividade e de 3,12% na área plantada.
A primeira safra de feijão, que responde por 66% da produção estadual, obteve
um produto de boa qualidade, que alcançou preços excelentes. A segunda safra,
que responde por 34% do total de feijão produzido no Estado, foi a que mais
sentiu os reflexos da falta de chuvas, resultando numa queda de 23% na produção
e menor qualidade dos grãos. Na média das duas safras, os preços pagos ao
produtor foram considerados muito bons.
Inverno
As culturas agrícolas de inverno são aquelas plantadas a partir de maio. A cebola é uma das mais importantes delas em Santa
Catarina, visto que o Estado é responsável por 30% da produção nacional. O
transplante das mudas e também o semeio direto, que se dão entre junho e
agosto, apontam para uma área plantada 7,4% menor na safra 2020/21 quando
comparada com o ciclo passado. Assim, também cai a expectativa de total
produzido, que deve ser 8,71% mais baixo que na safra 2019/20.
A possível redução na produtividade se deve ao resultado excepcional da
safra 2019/20, que ficou acima das médias dos últimos anos no Estado. Contudo,
graças à alta tecnologia que deverá ser aplicada pelos produtores, espera-se
que a produtividade enfrente uma queda menos acentuada, de 1,42%. A
concretização deste cenário depende das condições climáticas para os próximos
meses, principalmente nos períodos críticos de desenvolvimento da cultura.
O alho encerrou a safra 2019/20 com bons
resultados em termos de produtividade, produção e qualidade comercial, bem como
de preços pagos ao produtor. A condição representa uma virada na cultura, que
vinha sofrendo nos últimos anos com produções e preços muito ruins, devido,
sobretudo, a estiagens, doenças e importações. Diante dos bons resultados
alcançados, a safra 2020/21 deve ter a área de cultivo aumentada em 8,85%. O
reflexo esperado é um aumento de 11,69% no total produzido, com produtividade
2,61% maior. Se tudo se confirmar, Santa Catarina deve colher 21.100t de alho
em 2020/21, contra 18.892t no ciclo agrícola anterior.
Cerca de 48% da área destinada ao plantio de trigo no Estado para a safra
2020/21 já foi cultivada. A área plantada nesta safra deverá aumentar 7,82% em
relação ao ano anterior, com um crescimento na produtividade média de
aproximadamente 9%. Assim, o total produzido deve ser de aproximadamente 182
mil t, representando um incremento de 17,52% na produção. Á campo, as lavouras
estão com bom desenvolvimento agronômico, o que leva a crer que a boa
perspectiva se confirmará. Os preços favoráveis, que vêm sendo praticados desde
o ano passado, impulsionados pela alta do dólar, estão entre os fatores para o
aumento da área da cultura no Estado. As restrições para importação do grão da
Argentina, impostas pela pandemia, também colaboram para a elevação dos valores
pagos ao produtor. O aumento em Santa Catarina acompanha o cenário nacional de
crescimento da área plantada.
A cevada terá redução significativa de 66,3% na área plantada, reflexo da
má safra verificada no ciclo 2019/20. A quantidade produzida na safra 2020/21
deve ser 47,57% menor que o ciclo anterior. Em relação à produtividade é
esperado um crescimento de 55,54%, chegando a 4.100 quilos por hectare.
Em relação à cultura da aveia grão, a Epagri/Cepa estima um pequeno
aumento de 1,29% na área plantada. Esse dado, aliado ao crescimento de 22,9% na
produtividade, resultará num crescimento de 24,48% na produção total.
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