Fotos: Tiarajú Goldschmidt/Câmara de Vereadores
Os investimentos
necessários para implantar sistema de tratamento de esgoto em São Miguel do
Oeste, o modelo de gestão do saneamento básico e cobranças sobre a atual
concessionária do serviço, a Casan, foram alguns dos assuntos debatidos em
audiência pública realizada nesta quarta-feira (25) no plenário da Câmara de
Vereadores de São Miguel do Oeste. O evento foi proposto e mediado pelo
vereador Paulo Ricardo Drumm (PSD) e contou com a participação de
representantes da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento, representantes
do Poder Executivo Municipal, do Ministério Público, conselhos e entidades.
Paulo Drumm
justificou que propôs a audiência em razão da proximidade de encerramento do
contrato entre o município de São Miguel do Oeste e a Casan, previsto para
julho deste ano. Disse que o saneamento básico talvez seja a matéria mais
importante do ano em São Miguel do Oeste e que a audiência pública é o espaço
que a Câmara de Vereadores tem para discutir esse tema.
ESTUDO DE
VIABILIDADE
No início da
audiência foi apresentado o resultado de um estudo por Cesar Augusto Arenhart,
representante da empresa Azimute, contratada pela Prefeitura para realizar
estudo técnico preliminar de viabilidade técnica e econômica para o sistema de
abastecimento de água e esgotamento sanitário do município de São Miguel do
Oeste. Cesar informou que foram pensados diferentes modelos, mas que a
municipalização do serviço, ou seja, uma situação em que a Prefeitura assumisse
o saneamento básico, seria inviável pela necessidade de grandes investimentos.
Ele destacou que a
empresa seguiu o estudo mantendo o cenário de concessão, que pode ser da Casan
ou de empresa privada. Um dos cenários é o de outorga onerosa e desconto na
tarifa, em que a empresa que assume ressarce a Casan pela estrutura existente.
O estudo contempla a estrutura, as formas de captação de água, de tratamento e
de distribuição. O diagnóstico apontou que em relação ao esgoto, o que existe
hoje são pequenas intervenções feitas pela Prefeitura, com manutenção feita por
empresas contratadas pela Prefeitura e não pela Casan.
METAS
Arenhart apresentou
as metas previstas do novo Marco Legal do Saneamento (Lei Federal nº
14.026/2019), que prevê atendimento em 99% da população no abastecimento de
água até 2033; atendimento em 90% da população em coleta e tratamento de
esgotos sanitários até 2033; e redução de perdas de distribuição de água para
no máximo 25%. Hoje as perdas são de 46% no sistema de água.
Ele informou que a
empresa fez um estudo detalhado sobre o esgoto, para verificar os investimentos
necessários, e criou uma empresa teórica para operar a água e esgoto. César
apresentou o prognóstico de investimentos ao longo da possível concessão de R$
20,78 milhões em abastecimento de água; R$ 121,87 milhões em esgotamento sanitário
e R$ 2,6 milhões em estudos, projetos e programas, com um total de investimento
de R$ 145 milhões ao longo de 35 anos.
No estudo, prevê o
valor de R$ 5,5 milhões para ressarcimento à Casan, pagos em 10 parcelas
anuais. E pagamento de outorga onerosa ao Poder Público Municipal de R$ 10
milhões, divididos em duas parcelas. Nesse modelo, prevê redução da tarifa
média de água em no mínimo 9% para condição de sustentabilidade dos serviços.
No modelo sem outorga onerosa, prevê a redução da tarifa média de água em no
mínimo 13% para condição de sustentabilidade dos serviços.
“As conclusões
indicam que há viabilidade para atendimento às metas de universalização com
tarifas inferiores à tarifa atual. O que se pretende é que este trabalho seja
uma provocação para continuidade de estudos”, afirmou Arenhart, informando que
já houve na Prefeitura o protocolo de uma manifestação de interesse privado
(MIP), situação em que uma empresa apresenta propostas, projetos,
levantamentos, investigações e estudos para uso na estruturação de
empreendimento objeto de concessão ou permissão de serviços públicos, parceria
público-privada, arrendamento de bens públicos ou concessão de direito real de
uso.
Os próximos passos
apontados, informou Arenhart, são estudos complementares e procedimento de
manifestação de interesse (PMI). Nesse caso a prefeitura abre um edital de PMI,
e recebe pedidos de autorização para empresas apresentarem estudos, sem custos
ao município. São estudos técnico-operacional, socioambiental,
econômico-financeiro e institucional e jurídico. Depois esses estudos são
analisados por uma comissão especial técnica, que indica os resultados. Por
fim, seguem para uma decisão da Administração Municipal e posterior licitação.
INVESTIMENTOS DA
CASAN
A presidente da
Casan, Roberta Mass dos Anjos, contestou alguns pontos do estudo apresentado,
citando, por exemplo, que o valor indicado a título de ressarcimento, de R$ 5
milhões, não chega a um terço do valor que está sendo investido na adutora do
Rio das Flores pela Companhia. Disse que os ativos da Casan apresentados no
estudo estão fora da realidade.
Quanto ao
esgotamento sanitário, Roberta admitiu que a Casan “deixou a desejar”, mas
disse que não é culpa somente da empresa. “A Casan tem uma concessão que vence
agora em 2022. E lá em 2007, quando surge a Lei de Saneamento, ela pede que os
municípios façam plano de saneamento onde as companhias passem a ser
prestadoras de serviço. Toda a conversa que a Casan faz com as Prefeituras até
hoje é que nos tragam os objetivos e metas de contrato, e isso a gente não tem
hoje aqui em São Miguel do Oeste. Fica difícil a prestadora de serviço
trabalhar quando não se tem uma meta traçada pelo município. Hoje temos o Marco
Legal do Saneamento, que traz o assunto à tona. A vontade de todos de acertar é
a mesma, dependemos muito da legislação, da segurança jurídica, de ter as metas
traçadas para trabalhar. Temos a questão de 90% de esgoto para ser cumprida até
2033. Estamos em 194 municípios, fomos atrás de todos assumindo o compromisso
de que a gente vai cumprir a meta. A gente está num trabalho bem intenso para
cumprir. Nosso processo de esgotamento sanitário está em fase de licenciamento
ambiental. Não é por falta de vontade, é por falta de ter uma meta do
município”, afirmou.
O gerente local da
Casan, engenheiro Vitor Gouveia, falou dos investimentos realizados pela
Companhia no Município desde 2018 e a projeção para os próximos anos. Disse que
estão focados em reduzir perdas e vazamentos. Informou que a Casan projeta uma
nova Estação de Tratamento de Água, com vazão de 200 L/s e valor estimado em R$
32 milhões, que duplicará a capacidade de produção. Esse investimento,
anunciou, está aguardando licença ambiental.
RIO DAS FLORES
Gouveia citou um
investimento emergencial realizado no Rio das Flores, com R$ 600 mil investidos
e incremento de vazão de água de 30%, que diminui, no momento de escassez
hídrica, as interrupções e falta de água. Também falou sobre a nova adutora DN
400 mm no Rio das Flores, que teve contrato assinado em março de 2022 e
previsão de investimento em material de R$ 9,6 milhões. Também prevê
investimento de R$ 5 milhões na obra para implantação. Gouveia informou que
essa adutora aguarda a licença ambiental e autorização do Dnit para posterior
licitação.
O gerente local da
Casan apresentou gráfico com investimentos da Companhia em São Miguel do Oeste
com total de R$ 52 milhões, entre concluídos (R$ 5,6 milhões) e em andamento ou
aguardando licença ambiental. Os investimentos contemplam fornecimento de
equipamento, melhorias no sistema, revitalização das estruturas, ampliação da
rede de abastecimento, booster Rio das Flores, adutora Rio das Flores e nova
Estação de Tratamento de Água.
Em relação ao
esgotamento sanitário, Vitor Gouveia informou que a Casan está com projeto
finalizado. A proposta dessa primeira etapa prevê três bacias, com atendimento
de 13 mil habitantes e percentual de atendimento de 30,4%, e investimento
previsto de R$ 40 milhões. A situação atual é de realização de estudos
ambientais para solicitação da licença e posterior licitação. O engenheiro
disse que a previsão é ter o contrato assinado até o fim deste ano.
AÇÕES DO
MUNICÍPIO
A secretária
adjunta de Administração do Município de São Miguel do Oeste, Thaís Jaline
Sippert Costa, apresentou um histórico sobre a relação do município com a
Casan. “Em 2018 já sabíamos que teria o contrato vencendo em 2022, então foi
instituída uma comissão para avaliar. Essa comissão entendeu que poderia ser
prorrogado o contrato se a Casan promovesse os investimentos que estavam
atrasados, principalmente o esgotamento sanitário. Esses investimentos eram em
torno de R$ 20 milhões, a serem feitos até 22 de julho de 2022, quando vence o
contrato. Se ela fizesse os investimentos, poderia ser prorrogado o contrato,
desde que a Casan investisse mais em torno de R$ 20 milhões nos 10 primeiros
anos, e mais R$ 20 milhões nos próximos 10 anos. Foi oficiada a Casan dessa
proposta, mas o Município nunca recebeu resposta”, relatou.
Thaís destacou que
o Marco Legal do Saneamento Básico prevê que não poderiam ser prorrogados os
contratos, e que os municípios precisariam incluir as metas de saneamento
básico até 31 de março de 2022 em seus contratos vigentes ou regularizar. “O
município tem a titularidade do serviço, ou seja, a responsabilidade é nossa.
Oficiamos a Casan neste ano para incluir as metas de universalização no
contrato (99% de acesso à água, 90% de atendimento de esgoto e redução de
perdas). Tivemos uma resposta com um aditivo da Casan, que queria estender o
contrato até 2052, mas não é possível em razão do Marco Legal. Pedimos metas
mais específicas e mais claras, porque eram genéricas. Oficiamos novamente a
Casan, e recebemos uma nova minuta de aditivo, prevendo metas até 2033. Mas
novamente neste ano e no ano seguinte as metas eram de 0% que seria atingido”,
acrescentou. A secretária adjunta de Administração citou que mais uma vez,
neste ano, tentaram novas tratativas com a Casan, mas sem resultado.
Ela informou que o
município vem trabalhando todos os dias nesse assunto. Thaís falou também sobre
o andamento do MIP (manifestação de interesse privado), e ressaltou que o
Executivo compôs um grupo técnico para debater e verificar a melhor solução.
Destacou que o grupo técnico está analisando o edital do PMI (procedimento de
manifestação de interesse), e o Município irá lançá-lo. Informou que o edital
vai prever a revisão do Plano de Saneamento Básico, a modelagem econômica, a
modelagem financeira, a engenharia e a jurídica. “Pode ser que os estudos
mostrem que a melhor opção será a municipalização, ou a regionalização, ou a
concessão”, disse, acrescentando que os estudos prévios apontaram para a
concessão, mas que novos estudos, mais detalhados, podem apontar outro caminho.
Na audiência ainda foi debatida a possibilidade de regionalização do serviço, atendendo a mais municípios; e o papel da Agência Reguladora Intermunicipal de Saneamento (Aris).
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