Um estudo liderado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com
medicamentos que são usados para tratar hepatite C mostrou eficácia contra o
novo coronavírus, que causa a covid-19.
A doença já infectou mais de 9,6 milhões de pessoas no mundo e matou quase
490 mil, segundo o painel global da universidade Johns Hopkins. No
Brasil, os dados de ontem (25) do Ministério da Saúde contabilizam 1.228.114
casos e 54.971 óbitos.
Em experimentos in vitro com três linhagens de células, incluindo células
pulmonares humanas, o antiviral daclastavir impediu a produção de partículas
virais do novo coronavírus que causam a infecção. O medicamento foi de 1,1 a 4
vezes mais eficiente do que outros remédios que estão sendo usados nos estudos
clínicos da covid-19, como a cloroquina, a combinação de lopinavir e ritonavir
e a ribavirina, este último também usado no tratamento de hepatite.
O daclastavir superou também a eficiência do atazanavir, um
antirretroviral utilizado no tratamento de HIV que foi testado anteriormente
pelos cientistas da Fiocruz.
“As análises apontaram que o fármaco [daclastavir] interrompeu a síntese
do material genético viral, o que levou ao bloqueio da replicação do vírus. Em
células de defesa infectadas, o fármaco também reduziu a produção de
substâncias inflamatórias, que estão associadas a quadros de hiperinflamação
observados em casos graves de covid-19”, diz a Fiocruz.
Os testes mostraram que o sofosbuvir, outro remédio para hepatite, foi
menos eficiente do que o daclastavir. Ele também inibiu a replicação viral em
linhagens de células humanas pulmonares e hepáticas, mas não apresentou efeito
em células Vero, derivadas de rim de macaco e muito utilizadas em estudos de
virologia.
Pré-print
Os estudos foram publicados no site de pré-print bioRxiv. Ou seja, os resultados já estão
disponíveis para consulta pela comunidade científica internacional, mas ainda
requerem aprofundamento e revisão.
O trabalho foi liderado pelo pesquisador Thiago Moreno, do Centro de
Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), em parceria com cientistas
do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e dos Laboratórios de Imunofarmacologia
e de Pesquisa sobre o Timo do IOC. Também colaboraram o Instituto Nacional de
Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), Universidade Iguaçu (Unig),
Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor), Instituto Nacional de Ciência e
Tecnologia em Inovação de Doenças de Populações Negligenciadas (INCT-IDPN) e o
Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neuroimunomodulação (INCT-NIM).
De acordo com Moreno, os parâmetros farmacológicos do daclastavir contra o
novo coronavírus são compatíveis com os efeitos do medicamento em pacientes.
“O reposicionamento de medicamentos é reconhecido pela Organização Mundial
da Saúde (OMS) como a maneira mais rápida de identificar candidatos ao
tratamento da covid-19. Considerando que os antivirais de ação direta contra o
vírus da hepatite C estão entre os mais seguros, nossos resultados indicam que
estes fármacos, em especial o daclastavir, são candidatos para a terapia, com
potencial para ser imediatamente incorporados em ensaios clínicos”.
Os cientistas alertam para os riscos da automedicação e destacam que ainda
são necessários testes com pacientes para avaliar a eficácia das terapias.
“Todas as pessoas com casos suspeitos ou confirmados de covid-19 devem procurar
atendimento médico para orientação da terapia adequada”, adverte a Fiocruz.
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