Para contornar a falta de remédios provocada pela epidemia
de coronavírus, a França autorizou o uso de um anestésico de
cavalos em doentes graves, internados em UTIs. A autorização para a utilização
de dois medicamentos à base de propofol foi publicada no Diário Oficial de
sexta-feira (3).
A Agência Nacional de Segurança de Medicamentos (ANSM) disse
que a medida é necessária porque a demanda mundial por anestésicos explodiu com
a pandemia de coronavírus e os estoques do país estão muito baixos.
A decisão é enquadrada pelo Estado de Emergência Sanitária, baixado na França
para lutar contra o surto da doença. "Esta é apenas uma peça suplementar
que irá contribuir para atender o número importante de pacientes em
reanimação", explicou a ANSM.
A entidade já fez o levantamento em todo o território
francês dos estoques disponíveis do propofol produzido para humanos, e indica
que o anestésico veterinário será utilizado apenas em "complemento".
A agência francesa também se mobiliza para aumentar as importações de remédios
necessários nas UTIs, mas a concorrência é grande.
O consumo de alguns anestésicos usados para sedar
pacientes em reanimação, como o curare, o propofol ou o midazolam aumentou
2.000% na França. A mesma proporção foi verificada no resto do mundo, em um
espaço muito curto de tempo, e o mercado internacional não consegue atender
toda a demanda.
Sem
riscos
O propofol serve para sedar profundamente os pacientes
entubados e ligados a aparelhos para que eles possam suportar a respiração
artificial. Os dois anestésicos veterinários que poderão ser utilizados nessa
crise contêm a mesma substância ativa e a mesma dosagem que os remédios
fabricados para humanos. As milhares de ampolas disponíveis estão bem
condicionadas e a qualidade delas foi testada, garante a ANSM.
Os produtos são injetáveis e possuem a autorização de
comercialização emitida pelas autoridades veterinárias competentes. Eles vão
permitir o tratamento de centenas de pacientes, que passam em média, 14 dias
internados nas UTIs.
Médicos ouvidos pela imprensa francesa garantem que os
anestésicos veterinários não trazem nenhum risco suplementar para a saúde dos
doentes. “Eles têm o mesmo efeito. Estamos vivendo um período excepcional e
todos os meios são bons para salvar vidas”, disse à radio France Info um
especialista.
Confinada desde 17 de março para tentar frear a
propagação do coronavírus, a França registrou neste sábado (4) em seus
hospitais 441 novas mortes, um balanço inferior ao de sexta-feira.
Contabilizando também o número de óbitos nas casas de repouso, o coronavirus
matou até agora 7.560 pessoas no país. Mais de 6.800 pacientes estão internados
em estado grave nas UTIs. As autoridades sanitárias continuam neste domingo (5)
a transferir doentes dos hospitais saturados da região parisiense para outras
regiões onde a situação é menos preocupante
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