A pandemia de coronavírus mudou a rotina dos moradores de Santa Catarina e também de muitos trabalhadores dos serviços considerados essenciais. Com medo de contaminação e para seguir normas, os agentes funerários redobraram os cuidados.
O Governo de Santa Catarina emitiu nota
técnica orientando sobre os protocolos a serem seguidos por esses
profissionais. Funerais de pessoas confirmadas com a doença ou suspeitas devem
ser evitados ou ter no máximo 10 pessoas e o sepultamento tem que ocorrer no
mesmo dia da morte, inclusive quando não há suspeita de Covid-19.
O estado está na terceira semana de quarentena, tem cinco mortes pela doença e 281 pessoas confirmadas.
O enterro de Harry Klueger, primeiro idoso que morreu
diagnosticado com a doença em Santa Catarina, foi em Blumenau,
no Vale do Itajaí, por volta das 16h do dia 25 de março. Ele morreu na
madrugada e a confirmação de Covid-19 saiu à noite. A funerária que cuidou do
corpo informou que tomou os devidos cuidados no funeral e que foram usados equipamentos
de proteção individual no manuseio do corpo, mas que não sabiam que ele seria
um caso suspeito da doença.
A Secretaria Municipal de Saúde de Blumenau
desconhecia que uma pessoa com caso confirmado havia sido sepultada na cidade.
A família também não sabia do possível diagnóstico.
"Para a proteção nossa e dos parentes não foi realizado o velório, pois
poderia ter muitas pessoas no local. [...] Ninguém tinha a mínima ideia, o
resultado saiu às 23h59 , ninguém foi avisado do exame, nem funerária"',
informou Reinaldo Klueger, filho do idoso.
Segundo a Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa
Catarina (Dive-SC), o município que deve ser notificado sobre a doença é o de
residência do paciente. No entanto, a Secretaria Municipal de Saúde de Porto
Belo, onde ele morava, soube do caso no dia seguinte ao enterro. Antes de ser
internado no Hospital Regional de São José, onde morreu, o idoso esteve por
seis dias em Antônio Carlos em uma casa de repouso.
Já o corpo do empresário de Joinville, segunda
pessoa que morreu por coronavírus em Santa Catarina, foi cremado, segundo a
Prefeitura. A família não quis falar sobre o assunto. As mortes de três pessoas
com a doença foram confirmadas na noite de quinta-feira (2) pelo Governo do
Estado.
Medo
de contágio
Por medo de contágio pelo coronavírus, os agentes funerários
e proprietários, assim como de crematórios, estão redobrando os cuidados.
"Receio de ficar doente
sempre existiu neste meio, mas com certeza estamos tendo mais precauções",
diz o proprietário de uma agência funerária em Imbituba, no
Sul do estado.
Ele preferiu não informar o nome e diz que o uso de
equipamentos de proteção individual (EPI) já ocorria, mas que agora é
indispensável na rotina. Entre os usados pelos agentes funerários estão gorro,
óculos, máscara, cirúrgica, aventais e luvas descartáveis.
De acordo com Bruno Theodoro, dono de uma funerária em Lages,
houve dificuldade para aquisição de todos os materiais, mas o estoque está
garantido por pelo menos três meses. Os hospitais onde ocorrem o óbito devem
colocar os corpos em sacos biológicos antes de entregarem aos agentes
funerários.
"Estamos tomando todos os cuidados de segurança para remoção nos hospitais
para todos os casos que atendemos. Só entramos no necrotério com EPI",
explica Bruno Theodoro. Segundo ele, a equipe está abastecida com EPIs para
cerca de três meses.
Cuidados
que devem ser tomados
Segundo a nota técnica do Governo do Estado, os cuidados em
velórios devem ser tomados no caso de qualquer morte durante a pandemia. Os
velórios devem ser restritos aos familiares e amigos mais próximos e durar
poucas horas. Não deve, por exemplo, ocorrer de um dia para outro, como era
comum antes da quarentena.
"Estamos seguindo as
recomendações impostas, velório por curto período de tempo, reduzido a apenas
familiares próximos, oferecemos álcool durante a despedida, informamos para se
manter uma distância e mantemos uma limpeza constante durante o velório",
diz o proprietário da funerária de Lages.
Veja
abaixo os protocolos de segurança e saúde que devem ser seguidos:
Familiares e responsáveis por
velórios:
-Familiares devem evitar tocar o
corpo, e se o fizerem, realizar a higienização das mãos com álcool em gel 70%;
-se o familiar for caso suspeito ou confirmado de novo
coronavírus, também utilizar máscara cirúrgica descartável e evitar o contato
com outras pessoas;
-os funerais deverão ser realizados apenas com familiares
diretos e amigos próximos, recomendando-se no máximo 10 pessoas no local para
evitar aglomerações;
-os funerais devem ser realizados somente no dia do
sepultamento;
-o acesso ao caixão deve ocorrer de forma individual;
-é recomendada a suspensão de cultos ecumênicos e cortejos
fúnebres para velórios;
-os velórios devem ser realizados em capelas mortuárias;
-manter sempre os ambientes ventilados;
-intensificar a frequência de higienização: das salas, copas,
banheiros, maçanetas, mesas, balcões, cadeiras com água e sabão;
-disponibilizar produtos como sabonete líquido e toalhas de
papel descartáveis nas instalações sanitárias;
-as capelas mortuárias devem ser totalmente higienizadas a cada
velório.
Transporte dos corpos:
-a instituição onde a vítima
morreu deverá comunicar ao serviço funerário quando há suspeita ou confirmação
da morte por infecção pelo novo coronavírus;
-se o serviço funerário for chamado para atender alguém que
morreu em casa, os profissionais devem utilizar EPIs de precaução de contato
durante qualquer manipulação do corpo ou nos procedimentos;
-após a manipulação do corpo, retirar e descartar as luvas,
máscara e avental como resíduo infectante;
-não há contraindicação quanto ao material utilizado na
confecção do caixão;
-realizar a desinfecção das alças do caixão com álcool 70% ou
outro desinfetante padronizado, após fechá-lo.
Funerárias:
-é recomendável que se manipule o
corpo o mínimo possível;
-não é recomendável a realização de procedimentos de
tanatopraxia;
-é proibida a realização de procedimentos de formolização,
embalsamamento;
-o preparo do corpo deve ser em local isolado dos demais e,
quando não houver essa possibilidade, deve se estabelecer barreira técnica (de
local e de tempo) e fazer procedimentos de limpeza e desinfecção da sala após
cada manipulação;
-os profissionais devem seguir as recomendações e precauções
padrão no cuidado do corpo, utilizando EPIs em todas as etapas do preparo.
Crematórios:
-ter câmara fria com área mínima
de 8,00 m², ou dimensionada para a quantidade de corpos que ficarão
acondicionados, não sendo permitido o acúmulo deles;
-os corpos devem ser cremados individualmente, podendo no caso
de óbito de gestante, incluir o bebê;
-as cadeiras para os usuários devem obedecer ao distanciamento
de dois metros;
-os ambientes devem ser mantidos ventilados;
-deve se intensificar a frequência de higienização: das salas, copas, banheiros, maçanetas, mesas, balcões, cadeiras com água e sabão.
Serviços de saúde:
-providenciar local específico e restrito para dispor o corpo que aguarda a funerária;
-dispor de mecanismo para evitar contato com fluidos corporais
que possam ser extravasados;
-o número de profissionais presentes no procedimento deve ser o
menor possível;
-o local deve garantir insumos para higienização das mãos e
recipientes com álcool gel 70% para os usuários;
-intensificar a limpeza e desinfecção do ambiente utilizado
para disposição dos corpos;
-apenas agentes funerários especializados podem ter acesso ao corpo
dentro do serviço de saúde, munidos de roupas, equipamentos de proteção
individual (EPI) e caixão de máxima proteção;
-para procedimentos com possibilidade de geração de aerossóis
usar gorro e máscara minimamente PFF2 (também conhecida como N95) ou com níveis
de filtração ainda melhores. A máscara e demais EPIs devem ser descartadas após
o uso;
-todos os materiais usados em procedimentos que envolvam
cadáveres suspeitos ou confirmados de morte por coronavírus devem ser
descartados e ter seu gerenciamento como resíduos infectantes Grupo A (RDC
222/18).
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