Levantamento do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que o gasto com
habitação consome a maior parte do orçamento das famílias brasileiras. Segundo
a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF
2017-2018), o gasto total das despesas familiares foi de R$1.370,53 por pessoa,
no período. Só com habitação, o brasileiro tem que arcar com R$466,34. Na
sequência de maiores gastos aparece o transporte, com R$ 234,08 e alimentação,
com R$219,44.
Apenas com moradia,
o gasto médio por pessoas, no Brasil, era de R$264,66, entre 2017 e 2018 –
sendo R$247,32 na área urbana e R$15,34 na área rural. Para isso, é levado em
conta as despesas como aluguel, condomínio, Imposto Predial e Territorial
Urbano (IPTU) e Imposto Territorial Rural (ITR).
O aluguel é o que
mais pesa nos gastos com moradia: cerca de 76,4% do total, ou R$202,08.
Condomínios aparecem na sequência com 12,7% e IPTU ou ITR com 4,1%. Além disso,
1,7% dos brasileiros gastam 1/3 da renda líquida familiar com aluguel.
De acordo com
análise da CNM, o alto custo das despesas com habitação é fator decisivo em
algumas camadas sociais, ao onerar a renda dos cidadãos. O economista,
professor de Políticas Públicas do Ibmec-DF, Jackson de Toni, comentou sobre
como o gasto com habitação contribui para a desigualdade social no Brasil.
“O gasto social em
habitação impacta a questão da desigualdade, porque é um produto que reúne as
condições de sobrevivência básicas de uma família – especialmente as de baixa
renda. E garante, em condições dignas de sobrevivência e de habitabilidade, o
acesso a um conjunto de serviços públicos – como transporte, educação, acesso
inclusive a empregabilidade. Observamos que quanto mais os governos gastam em
políticas de urbanização, de habitação, criando moradias em condições dignas de
uso pela população – especialmente a população de baixa renda – eles geram
níveis crescentes de bem estar, de qualidade de vida”, comentou o economista.
O levantamento do
IBGE também apresenta um recorte da estrutura dos domicílios: 91,4% dos
brasileiros moram em casas com paredes externas de alvenaria, taipa com
revestimento ou madeira apropriada para construção. Já aqueles que moram em
domicílios com laje de concreto ou madeira apropriada, que dão mais segurança à
moradia, representam apenas 30,6% da população do país (sendo 29,3% na área
urbana e 1,2% na área rural).
Aqueles que vivem
em situação de insegurança – como parede sem revestimento, madeira aproveitada,
cobertura em zinco, piso de cimento ou terra, banheiro de uso comum ou sem
banheiro – representam 23,5% dos brasileiros (15,7% na área urbana e 7,8% na
área rural).
A pesquisa do IBGE mostra ainda que 38,2% da população do país vivem em domicílios localizados em áreas com violência ou vandalismo. 25,3% moram próximos a problemas como fumaça, mau cheiro, barulho, trânsito, indústria e riscos ambientais, e 15,8% reside próximo a rio, baía, lago, açude ou represa poluídos.
O economista, Jackson de Toni, explica como a melhoria das condições de moradia impactam na qualidade de vida, principalmente da população de baixa renda.
A Pesquisa de
Orçamentos Familiares aponta ainda que a região Sudeste concentra 57,7% das
despesas com moradia, em comparação com outras regiões do país. Na sequência
está a região Sul, com 15,6% e Nordeste com 14,2%.
A jornalista,
Jéssica Cunegundes, de Osasco-SP, comenta sobre o ônus da moradia em seu
orçamento, principalmente depois que se mudou de Brasília para a região
Sudeste.
“Senti uma
diferença muito grande quando eu mudei de Brasília para São Paulo, porque o
custo de vida aqui é muito alto. Lá eu conseguia morar numa casa maior, aqui eu
já moro numa casa menor, pagando um valor muito mais alto. Acabo gastando quase
3 mil reais de aluguel, junto com o condomínio e o IPTU. Porém, é uma
cidade que fornece muito emprego, tem muita oportunidade que acaba deixando a
gente ficar aqui e conseguindo arcar com todos esses custos de moradia”,
afirmou.
A analista técnica
da área de Planejamento Urbano da CNM, Karla França, explica como esse cenário
representa um desafio para a gestão pública.
“O desafio de
gestores municipais para prover moradia, são enormes; desde prover novas
moradias – estou falando de déficit quantitativo, que no Brasil está
concentrada em 7,9 milhões de moradias – até o déficit qualitativo – aquele que
as moradias são inadequadas, que precisam de algum tipo de melhoria
habitacional, regularização ou serviços de infraestrutura, por exemplo, energia
elétrica e rede de abastecimento, rede de esgotamento, coleta de lixo. Esse
déficit qualitativo no Brasil gira em torno de 11 milhões de moradias”, detalha
a analista.
Karla França
ressalta que o desafio é ainda maior para famílias com renda de até três
salários-mínimos.
“É, o desafio está
justamente quando se faz um recorte das famílias de menor renda, ou seja,
aquelas que ganham até três salários-mínimos, ou menos que isso, e as
dificuldades desse grupo de acessar financiamento habitacional. Essas famílias
já têm o gasto com alimentação, com escola, energia, que faz com que o custo da
moradia, onere a sua renda. Isso traz um desafio enorme para essas famílias
acessar financiamento habitacional, e por sua vez também dos gestores terem
acesso a programas habitacionais, para atender a demanda da população, em
especial a demanda de menor renda”, detalhou.
Segundo Karla
França, a CNM defende a inovação nos modelos de financiamento habitacional para
assegurar a inclusão e o acesso a créditos acessíveis, para as famílias de
baixa renda.
O direito à moradia é assegurado pela Constituição Federal Brasileira e pelo Estatuto da Cidade.
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