A Alesc (Assembleia
Legislativa de Santa Catarina) recebeu, desde janeiro deste ano, seis pedidos
de impeachment do governador Carlos Moisés (PSL), o primeiro, protocolado em
janeiro, foi arquivado pela presidência da Casa em fevereiro.
Até esta
quarta-feira (13), havia cinco pedidos, sendo que um deles é a reconsideração
do que foi apresentado em janeiro pelo defensor público Ralf Zimmer Júnior e
tinha como base o aumento dado pelo governador aos procuradores do Estado, que
tiveram os salários equiparados aos procuradores da Alesc.
Em abril, foram
protocolados dois pedidos (um de Alexandre Alves Pereira e outro de Maycon
Marcelino da Silveira, ambos advogados e do Movimento Direita Floripa) e que
agora estão em análise na procuradoria da Assembleia Legislativa.
Os dois documentos
se fundamentam nos decretos de isolamento social assinados pelo governador
Carlos Moisés com o objetivo de conter o avanço do contágio do novo coronavírus
no Estado.
De acordo com as
petições, o governador teria cometido crimes de responsabilidade ao restringir
o funcionamento de setores da economia.
Novos pedidos antes da primeira reunião
da CPI
Na tarde de
terça-feira (12), horas antes de ser realizada a primeira reunião da CPI
(Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Respiradores, o presidente da Alesc,
deputado Júlio Garcia (PSD), recebeu mais dois pedidos de
afastamento do governador Carlos Moisés. Um deles também
pede o impeachment da vice-governadora Daniela Reinehr (sem partido).
Nessa petição, feita
pelo deputado Ivan Naatz (PSL), considera-se que o governador e a vice agiram
fora da legitimidade ao aprovarem o pagamento de verba indenizatória aos
procuradores do Estado. Isso porque já havia entendimento jurídico de que essa
verba é inconstitucional por não haver isonomia entre os cargos de poderes
distintos.
O pedido de Naatz
se fundamenta na decisão do TCE (Tribunal de Contas do Estado) que determinou a
suspensão cautelar do pagamento da verba aos procuradores e a convocação para
uma audiência a procuradora Célia Iraci da Cunha, procuradora-geral do Estado
entre janeiro de 2019 e fevereiro de 2020, o atual procurador-geral do Estado,
Alisson de Bom de Souza, e o secretário de Estado da Administração, Jorge
Eduardo Tasca.
Isolamento retirou direitos
A segunda petição
pelo impeachment do governador foi apresentada pelos deputados Mauricio
Eskudlark (PL) e Ana Campagnolo (PSL) e se fundamentam em três possíveis crimes
de responsabilidade que, segundo os parlamentares, Carlos Moisés teria
incorrido desde o início da pandemia e do isolamento social.
Ex-líder do governo
na Assembleia, Eskudlark disse que o governador não respeitou o direito de ir e
vir dos cidadãos catarinenses ao determinar a quarentena, especialmente em
municípios menores afetando a economia local.
Os outros dois
motivos que embasam o requerimento são a compra dos 200 respiradores e o
Hospital de Campanha de Itajaí. Os equipamentos de UTI (Unidade de Terapia
Intensiva) foram comprados sem respeitar os trâmites legais do processo de
licitação e foram pagos sem nenhuma garantia.
O pagamento
antecipado de R$ 33 milhões é objeto de investigação de uma força-tarefa
coordenada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime
Organizado) do MPSC (Ministério Público de Santa Catarina), Polícia Civil e
TCE.
A instalação do
Hospital de Campanha de Itajaí foi alvo da Comissão de Saúde da Alesc, que
ouviu o então secretário de Saúde Helton Zeferino para que explicasse o
processo de licitação e o valor do contrato superior a R$ 76 milhões. Após o
Tribunal de Justiça determinar a suspensão da licitação pela terceira vez, o
governador Carlos Moisés cancelou o contrato com a empresa selecionada.
Entidades avaliam pedidos de
impeachment
A possibilidade de
o governador Carlos Moisés ser afastado do cargo, caso um dos pedidos de
impeachment seja aprovado pela Alesc, pode provocar impactos negativos em Santa
Catarina, segundo avaliação de alguns representantes de entidades de classe.
O presidente da
Acif (Associação Comercial e Industrial de Florianópolis) considera as petições
inoportunas nesse momento em que o Estado enfrenta um problema de saúde
pública. “Impeachment é um processo político e nesse momento, oportunista.
Precisamos focar em sair da crise da pandemia, investigando todas as
denúncias”, afirmou Rodrigo Rossoni, presidente a Acif.
A opinião do
presidente da Fiesc (Federação das Indústrias de Santa Catarina) segue o mesmo
raciocínio de Rossoni. “Nesta hora, o foco deve ser o combate à pandemia, não é
para discutir impeachment”, disse.
Para o presidente
da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) Seccional Santa Catarina, Rafael Horn,
esses pedidos de impeachment são preocupantes. “A OAB Santa Catarina vê com
muita preocupação que no meio de uma crise econômica e sanitária sem
precedentes tenhamos de enfrentar também uma crise política em razão dos
pedidos de impeachment. A OAB certamente acompanhará todos os trâmites na
Assembleia Legislativa e cumprirá o seu papel na defesa da sociedade civil
catarinense”, afirmou Horn.
Passo a passo para abrir o processo
de Impeachment
Para que seja
aberto um processo de impeachment por crime de responsabilidade atribuído é
preciso seguir um roteiro já estabelecido pela legislação:
-O interessado
protocola o pedido de afastamento do governador, justificando a solicitação com
base na Lei 1.079, de 1950;
-O próximo passo é o
procurador-geral da Assembleia Legislativa examinar o pedido e analisar se
todas as formalidades foram observadas. Em seguida o procurador emite um
parecer dizendo se o documento cumpre ou não os requisitos mínimos estipulados
pela Lei;
-O presidente da
Assembleia analisa o parecer e determina se o pedido será arquivado ou segue
para frente;
-No caso de
arquivamento, inicia-se um prazo de cinco dias para recurso, que será analisado
pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). Um relator é indicado para
avaliar o recurso, sem ter prazo para apresentar o parecer. Caso o parecer seja
rejeitado, outro relator é indicado até o parecer ser aprovado. O passo
seguinte é o parecer aprovado na CCJ ser apreciado pelo plenário. Se for
rejeitado, o pedido de impeachment é definitivamente arquivado. Se aprovado,
continua a tramitação na Casa;
-Na alternativa do
presidente acatar o pedido, o processo retorna à Procuradoria, quando é aberto
o prazo para a defesa. É formada uma comissão com 36 deputados, proporcional a
cada bancada partidária, para analisar se o Legislativo deve ou não levar
adiante o julgamento do governador;
-São necessários 27
votos favoráveis para que o impeachment, em caso de crime de responsabilidade,
seja aprovado;
-Na sequência o
presidente da Assembleia envia um ofício ao presidente do Tribunal de Justiça
dando ciência do processo. No TJ são sorteados cinco desembargadores, que junto
com o presidente do Tribunal e mais cinco deputados formarão uma comissão mista
para analisar o caso;
-A comissão mista
analisa a denúncia contra o governador e caso seja aprovada por sete votos, o
acusado é afastado. No prazo de dez dias, outra votação é realizada, julgando o
mérito, caso se repita a votação favorável de sete votos, é dado impeachment;
-Depois do
impeachment, além de perder o cargo, o acusado fica com os direitos políticos
suspensos por oito anos.
>>>Clique e receba notícias do JRTV Jornal Regional diariamente em seu WhatsApp.
DEIXE UM COMENTÁRIO
Facebook