O presidente da República, Jair Bolsonaro, durante encontro com o presidente do Paraguai, Mário Abdo Benitez, em fevereiro, no Palácio do Planalto — Foto: Alan Santos/Presidência da República
O governo
brasileiro decidiu cessar o status de refugiado de três paraguaios acusados de
terem sequestrado uma mulher em 2001. A decisão foi publicada no "Diário Oficial da União"desta
terça-feira (23).
Juan Arrom, Victor Colmán e Anuncio Martí tiveram o refúgio concedido em
dezembro de 2003, justificado por 'temor de perseguição'. Os três denunciaram
ter sofrido sequestro e tortura em 2002 pelo governo paraguaio.
Os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e do Paraguai, Marito Abdo,
comemoraram a decisão (veja ao final da
reportagem).
Na decisão desta terça, o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare)
afirma que "os fatos que levaram à concessão de refúgio em 2003 não mais
subsistem, não havendo razões concretas para se concluir que, no Paraguai,
diante da estabilidade atual de suas instituições e do vigor de sua democracia,
os recorrentes não terão resguardado o direito ao devido processo e a um
julgamento justo, onde respondem acusação pela prática de crime comum e não
político".
No início deste ano, o Paraguai pediu ao Brasil a revogação da condição
de refugiado dos três acusados. O Paraguai alegou que existem fundamentos que
justificariam a reavaliação do caso por parte do Conare.
Em junho de 2019, o Conare acolheu o pedido e declarou a cessação da
condição de refugiado dos paraguaios. A decisão foi publicada nesta terça (23).
Os acusados
Segundo um membro do governo paraguaio, Arrom, Colmán e Martí pertenciam
a uma organização chamada Pátria Livre, que era o embrião de um grupo que,
atualmente, se chama Exército do Povo Paraguaio.
Eles são acusados de sequestrar a mulher de um empresário do setor da
construção em 2002. A vítima, María Edith Bordón de Debernardi, escapou com
vida depois de dois meses de cárcere – os familiares dela pagaram um resgate de
US$ 1 milhão.
Esse foi o primeiro sequestro de uma série que teriam sido organizados
pelo Exército do Povo Paraguaio, de acordo com representantes do governo
paraguaio.
Os acusados alegaram que foram mantidos sob custódia da Polícia Nacional
e torturados entre os dias 17 e 30 de janeiro de 2002.
Eles vieram para o Brasil em agosto de 2003 e, no mesmo ano, foram
considerados refugiados pelo Conare.
O governo paraguaio pediu a revisão do caso três vezes. Os acusados
nunca foram julgados em seu país.
A Corte Interamericana de Direitos Humanos analisou o caso, em maio
deste ano, e concluiu que as provas apresentadas são insuficientes para
concluir que Arrom e Martí foram presos por agentes estatais.
Moro
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro,
comentou a decisão em rede social na manhã desta terça. Ele disse que o Brasil
"não é terra sem lei" e que o país não será mais refúgio "para
estrangeiros acusados ou condenados por crimes comuns".
"O Brasil não será mais refúgio para estrangeiros acusados ou condenados por crimes comuns (no caso, extorsão mediante sequestro), seja de Battisti, Arrom, Martí ou de outros. A nova postura é de cooperação internacional e respeito a tratados. Aqui não é terra sem lei", disse Moro em uma rede social.
Repercussão
O presidente do Paraguai, Marito Abdo, comemorou a decisão do governo
brasileiro em rede social.
"Ministro da Justiça do Brasil cancelou definitivamente o status de
refugiados de Arrom e Martí. Chegou a hora de eles darem conta de suas ações
perante a justiça paraguaia. Que a verdade venha sempre à luz!", afirmou.
O presidente Jair Bolsonaro também comentou a decisão em rede
social. Ele disse que o Brasil "não será mais refúgio de canalhas
travestidos de presos políticos".
"O ministro Moro
retirou o status de refugiado, concedido pelo governo Lula (2003), para três
terroristas do Exército do Povo Paraguaio (EPP). Voltarão para seu país e
pagarão pelo seus crimes, a exemplo de Cesare Battisti, preso na Itália. O
Brasil não mais será refúgio de canalhas travestidos de presos
políticos!", disse.
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