O governo da Argentina estuda formas para descriminalizar e
regulamentar o consumo e comércio de maconha no país, de acordo com o
Ministério da Segurança do país.
Os técnicos da pasta analisam os casos de outros
países – um funcionário ouvido diz que se avalia o caso uruguaio e
também uma proposta de lei que tramita no Congresso do Chile.
Antes das eleições, Alberto
Fernández havia dito que pretendia rever o crime de posse de maconha. Em
entrevista ao jornal “Página 12”, a ministra de Segurança, Sabina Frederic,
afirmou que “é necessário gerar um debate sério e responsável sobre a regulação
do autocultivo e consumo de cannabis”.
Não há, a essa altura, previsão de quando um projeto de lei
será enviado ao Congresso argentino. O debate pode começar neste ano, de acordo
com um texto publicado no dia 23 de janeiro pelo “La Nación”.
Segundo especialistas que acompanham as discussões, a
tramitação de uma proposta para descriminalização da maconha na Argentina pode
ter adesão de parcelas da oposição –e setores do peronismo, corrente política
de Fernández, podem não votar pelo projeto.
É uma situação semelhante à da união homoafetiva, aprovada
durante o governo de Cristina Kirchner: o projeto só virou lei porque o governo
fez articulações, mas alguns aliados votaram contra, e alguns deputados da
oposição, a favor.
Antes
da mudança
Mesmo sem uma mudança de lei, o governo de Alberto Fernández
deverá mudar as diretrizes que norteiam as forças de segurança ao lidar com o
tema, dizem funcionários do Ministério de Segurança.
A percepção do governo de esquerda é que, hoje, o
ministério destina muitos fundos para deter pessoas que são flagradas com
quantias pequenas de maconha. Isso custa dinheiro e recursos humanos, e as
forças de segurança poderiam ser empregadas em outras necessidades, segundo
disse um funcionário da pasta.
Uma decisão do Supremo Tribunal
da Argentina de 2009 determinou que usuários não podem ser condenados. No
entanto, não está claro em nenhuma lei ou jurisprudência como classificar quem
é usuário e quem é traficante.
De acordo com Victoria Darraidou, pesquisadora do CELS, um
centro de estudos jurídicos e sociais da Argentina, há uma alta dose de
subjetividade da polícia na hora de fazer detenções, e a grande maioria não
resulta em condenação.
O CELS compilou informações sobre detenções por drogas
ao longo dos anos. Em 2017, data dos dados mais recentes, houve um aumento de
27% nas prisões em relação a 2016.
“A ideia que está por trás desse aumento é que as
detenções de usuários poderão levar a descobrir quem são os criminosos na
cadeia de responsabilidade [pelo tráfico], mas na prática isso não acontece,
não é real. Os flagrantes são desfeitos pela Justiça, e a atuação da polícia
acaba sendo ilógica e muito ineficiente”, diz Darraidou.
Na Argentina, a lei de drogas é federal, mas, em 2005,
houve uma mudança: os estados poderia decidir se ficariam responsáveis pelas
ações de polícia e processar os autores de crimes.
Alguns dos estados assumiram a responsabilidade pelo
combate às drogas, mas não todos.
À medida que mais governos regionais decidiam aderir à
regionalização da lei, houve um aumento na quantidade de detenções, afirma
Darraidou, do CELS.
Ou seja: o governo de Fernández deve mudar a diretriz do governo federal para lidar com o tema enquanto não há uma nova lei, mas o efeito disso deve ser limitado.
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