O governo prepara a
migração do cartão cidadão, atual meio de pagamento do Bolsa Família, para a
poupança digital da Caixa, que foi utilizada neste ano para concessão do
auxílio emergencial, num movimento que deve fortalecer o movimento de
bancarização no país e consolidar as operações digitais do banco estatal.
A medida também reforçará um ativo da Caixa que o banco pretende usar a seu favor em futura abertura de capital das suas operações digitais.
Em condição de anonimato, duas fontes com conhecimento direto do assunto confirmaram a investida à Reuters. Segundo documento interno do Ministério da Cidadania, a transição envolverá a prorrogação até abril do ano que vem de um contrato firmado no passado entre as partes, ao custo de 210,9 milhões de reais –redução de mais de 10% frente ao que seria pago sem a nova modalidade.
Isso porque a Caixa
Econômica Federal propôs a cobrança de 1,89 real por crédito em poupança social
digital, ante valor de 2,1569 real que é atualmente cobrado para pagamento no
cartão cidadão.
O valor, contudo, é
superior ao patamar de 1,25 real cobrado pelo banco para créditos em outros
tipos de conta.
Segundo a Reuters
apurou, o estabelecimento do novo valor considerou características específicas
do Bolsa Família e do seu público, que deve continuar a buscar canais físicos
para realizar saques, o que implica mais custos para o banco em termos de
transporte de dinheiro e remuneração paga a lotéricas.
Na prática, a
poupança digital irá oferecer aos beneficiários funcionalidades que já valiam
para o cartão cidadão da Caixa, como saques no próprio banco, em agências
lotéricas ou caixas eletrônicos.
A diferença é que,
na partida, os clientes vão contar com os recursos do banco digital da Caixa,
podendo realizar transações e pagamentos de contas pelo aplicativo Caixa TEM,
numa conta que terá tarifa zero.
“Muitos recebiam o
Bolsa Família, mas não tinham conta em nenhum banco. Agora têm uma opção a
mais. De graça. E quem usar o banco digital, será uma despesa menor para a
Caixa e para o governo”, afirmou uma das fontes.
Na visão da mesma
fonte, esta será a consolidação da bancarização de 35 milhões de brasileiros
que passaram a contar com serviços bancários pela primeira vez neste ano, após
terem requerido o recebimento do auxílio emergencial durante a pandemia.
IPO
Em outubro, o
ministro da Economia, Paulo Guedes, indicou que o governo planeja listar na
bolsa o braço digital criado para distribuir o auxílio emergencial. A oferta
inicial de ações (IPO) envolverá o Caixa Tem, aplicativo da Caixa para
movimentação de benefícios.
O auxílio
emergencial, principal investida do governo para enfrentar a pandemia da
Covid-19, tem sido pago exclusivamente pela Caixa desde abril. Com duração até
dezembro, ele terá um custo total para a União de 321,8 bilhões de reais.
A ideia é que a
migração do cartão cidadão para a poupança digital comece em dezembro e seja
escalonada até março.
Para colocá-la em
prática, o Ministério da Cidadania, após acertos com a Caixa, encaminhou pedido
de aval ao Ministério da Economia para ampliação de vigência do contrato de
pagamento do Bolsa Família por mais cinco meses, de 1º de dezembro a 30 de
abril do ano que vem.
Uma segunda fonte
disse à Reuters que essa janela de tempo foi definida respeitando o limite
legal de 60 meses para o contrato.
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