MUNDO: Explosão em Beirute deixa dezenas de mortos e milhares de pessoas feridas

04/08/2020 - 19h18

Uma grande explosão hoje em Beirute, capital do Líbano, causou pânico e destruição na região portuária. Uma gigantesca coluna de fumaça pôde ser vista de toda a cidade, relataram testemunhas e a mídia local. Vitrines de lojas de diversos bairros estouraram e carros foram abandonados nas ruas sem os vidros e com o airbag acionado. Muitas casas perderam suas sacadas. O impacto foi sentido até no Chipre, a mais de 200 km da costa libanesa.

Pelo menos 78 pessoas morreram, informou o ministro da Saúde, Hamad Hassan, e cerca de 4 mil feridos estão sendo encaminhados para hospitais da cidade. O balanço, contudo, ainda é provisório e os números sofrem atualização em tempo real. Segundo a Cruz Vermelha, 60 feridos estão em situação crítica.

Segundo as autoridades, devem crescer à medida que avançam os esforços. Hassan confirmou à imprensa local que a expectativa é que o real impacto será maior do que o relatado até o momento. Em comunicado, a embaixada dos Estados Unidos na cidade pediu que as pessoas usem máscaras e fiquem em casa após "relatos de gases tóxicos" liberados.

O primeiro-ministro Hassan Diab declarou em rede nacional que o armazém vem recebendo avisos sobre seu perigo desde 2014. "Eu prometo a você que essa catástrofe não passará sem responsabilidade. As pessoas responsáveis pagarão o preço", afirmou.

Diab decretou um dia de luto nacional. Já o presidente Michel Aoun convocou uma "reunião urgente" do Conselho Superior de Defesa. Segundo a TV estatal, o líder partidário Nizar Najarian, secretário-geral do Partido Kataeb (conhecido como Falanges Libanesas), está entre as vítimas.

Beirute, a capital do Líbano, tem cerca de 360 mil habitantes e fica no litoral do mar Mediterrâneo. O país, por sua vez, faz fronteira com Israel (ao sul) e com a Síria (ao leste e ao norte).

Uma fragata brasileira não foi atingida por questão de minutos. Apesar de nenhum militar brasileiro ter ficado ferido, há informações de que a esposa do adido brasileiro estava próxima ao local e foi atingida por estilhaços.

Segundo o Itamaraty, não há relatos de brasileiros mortos ou gravemente feridos na região.

Mesmo distante do porto, a embaixada do Brasil em Beirute foi danificada pela explosão na capital libanesa e pelo menos a residência de um dos diplomatas está inabitável depois dos acontecimentos. 

"Bola de fogo"

Duas fontes de segurança disseram à Reuters que a explosão ocorreu na área portuária que contém armazéns. A explosão abalou várias áreas da capital, quebrando janelas e portas e danificando veículos.

Segundo a emissora local LBC, o ministro da Saúde, Hamad Hassan, disse que havia um "número muito alto" de feridos e uma grande quantidade de danos.

Vi uma bola de fogo e fumaça subindo sobre Beirute. Pessoas estavam gritando e correndo, sangrando. Sacadas foram arrancadas de edifícios. O vidro dos prédios se partiu e caiu nas ruas."Testemunha da explosão

Outra testemunha disse à agência de notícias que viu uma fumaça cinza pesada perto da área do porto e depois ouviu uma explosão e viu chamas de fogo e fumaça preta: "Todas as janelas do centro da cidade estão quebradas e há feridos andando por aí. É um caos total."

"Uma aluna comentou que estava sentindo o prédio tremer e começou a gritar, dizendo que havia alguém batendo na porta, tentando empurrar. Quando sai à porta, vi tudo branco", disse à CNN a professora de ginástica Yasmin Mussalam Al Masri.

O contra-almirante Sergio Renato Berna Salgueirinho, responsável pela embarcação, informou que os militares perceberam a explosão enquanto faziam a patrulha nos arredores do porto da capital libanesa. "Percebemos uma onda de choque, seguida de um ruído bastante forte. Quando a gente avistou, já havia uma coluna de fumaça de cor rosada. Foi quando a gente percebeu que havia acontecido algo grave."

Nas redes sociais, vários vídeos registram a explosão em ângulos diferentes e as cenas de pavor nas ruas após o incidente. Em entrevista à BBC, Hadi Nasrallah, testemunha da explosão, disse que a cena foi "muito assustadora" e que o barulho foi "muito alto".

Material explosivo

A princípio, emissoras locais informaram que na região do porto ficavam armazéns de fogos de artifício. Contudo, a cúpula de segurança geral do Líbano afirmou que a explosão foi causada por chamas em um armazém onde material altamente explosivo estava armazenado — inclusive nitrato de sódio, substância usada para a fabricação de explosivos e fertilizantes. O material havia sido confiscado de um navio.

"Parece que há um armazém contendo materiais confiscados há anos, e parece que eram materiais muito explosivos", disse o diretor geral da Segurança Geral, Abbas Ibrahim, questionado por jornalistas na área. "Os serviços responsáveis estão realizando a investigação, e dirão qual é a natureza do incidente", acrescentou.

De acordo com Ibrahim, 2,7 toneladas do composto estavam no porto a caminho da África quando houve a explosão.

Atendimentos a feridos

Os jornalistas foram proibidos de acessar a zona, segundo um correspondente da AFP. Em frente ao centro médico de Clémenceau, dezenas de feridos — incluindo crianças, às vezes cobertas de sangue — esperavam para serem admitidos, segundo a agência.

Alguns prontos-socorros estavam tão sobrecarregados que chegaram a rejeitar pacientes feridos. Segundo informações do New York Times, o maior hospital da cidade, o St. George, teve as janelas destruídas e está com o telhado em pedaços.

Pessoas que estavam internadas na unidade se feriram com os estilhaços e os pais de algumas crianças com câncer tiraram seus filhos às pressas de seus leitos.

No bairro de Achrafieh, os feridos correm para o Hospital Hôtel Dieu. Segundo a emissora LBCI, pelo menos 500 pessoas procuraram atendimento no local. Os hospitais pedem doação de sangue à população.

"Eu estava a quilômetros. O vidro quebrado estava em todos os lugares ao meu redor", informou a jornalista Zeina Khodr, repórter a Al Jazeera, segundo o site do canal.

O governador da cidade de Beirute, Marwan Aboud, viu a explosão como "um desastre nacional semelhante a Hiroshima", em referência à cidade japonesa bombardeada no fim da Segunda Guerra Mundial, e disse que "Beirute é uma cidade arrasada, e a escala dos danos é enorme".

Repercussão internacional

Nos Estados Unidos, a Casa Branca monitora os desdobramentos do caso. O Pentágono, por sua vez, informou estar "ciente da explosão". "Estamos preocupados com a potencial perda de vidas devido a uma explosão tão grande."

Porta-voz da ONU, Farhan Haq disse a repórteres que não ficou claro imediatamente qual era a causa da explosão e que não havia indicação de feridos entre os funcionários da ONU na cidade.

Agências informam que a explosão pôde ser percebida nas cidades de Nicósia, Limassol e Larnaca, no Chipre, a mais de 200 km.

Momento de crise

O Líbano atravessa sua pior crise econômica em décadas, marcada por depreciação monetária sem precedentes, hiperinflação, demissões em massa e restrições bancárias drásticas, que alimentam há vários meses o descontentamento social.

Há uma semana, após meses de relativa calma, Israel disse que frustrou um ataque "terrorista" e abriu fogo contra homens que cruzaram a "Linha Azul" entre o Líbano e Israel.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, atribuiu a infiltração ao Hezbollah, um movimento armado pró-iraniano muito influente no sul do Líbano e que o Estado judeu considera como seu inimigo. Acusado de "brincar com fogo", o Hezbollah negou qualquer envolvimento.

Em 14 de fevereiro de 2005, um atentado com uma caminhonete carregada de explosivos atingiu o comboio de Rafik Hariri, matando-o com outras 21 pessoas e ferindo mais de 200. A explosão causou chamas de vários metros de altura, quebrando as janelas dos prédios em um raio de meio quilômetro.

Na sexta-feira, o Tribunal Especial do Líbano (STL), com sede na Holanda, deve emitir seu veredicto no julgamento de quatro homens, todos suspeitos de serem membros do poderoso movimento libanês Hezbollah, acusado de participar do assassinato de Hariri. Ainda não há informações, no entanto, de eventual ligação do julgamento com a explosão de hoje.

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