O que já se sabe sobre a nova variante do coronavírus

11/02/2021 - 14h31

Ainda há muitas coisas para serem exploradas, muitas descobertas, admite o infectologista e professor do curso de Medicina da Univille, Tarcisio Crocomo, sobre a notícia de uma nova variante do coronavírus.

A nova variante do vírus SARS CoV-2 é a P.1 e tem origem na linhagem B.1.1.28 circulante em Manaus/AM. O caso é de um paciente morador de Joinville, de 55 anos, com histórico de viagem para Manaus/AM, que retornou dia 16 de janeiro a Santa Catarina.

No retorno à residência, em Joinville, apresentou falta de ar, procurando uma unidade de saúde para atendimento. A amostra de swab nasofaríngeo para realização de exame RT-qPCR foi coletada no dia 17 de janeiro e confirmado pelo Lacen/SC no dia seguinte. O paciente apresentou quadro moderado, porém ficou internado no Hospital Bethesda em isolamento, evoluiu bem e se recuperou.

Seguindo o protocolo para investigação genômica da Covid-19, a amostra, foi encaminhada pelo Lacen/SC para a Fiocruz para sequenciamento genético, por se tratar de paciente com histórico de deslocamento para região com identificação de nova variante (VOC) do vírus SARS-CoV-2.

Sem indícios de transmissão comunitária

Mas tanto o município de Joinville quanto a Secretaria de Estado da Saúde reiteram que, conforme resultados preliminares da investigação epidemiológica, até o momento trata-se de um caso importado de infecção pelo variante P.1 do Vírus SARS-CoV-2, com local provável de transmissão na cidade de Manaus/AM, não havendo indícios, até o momento, de transmissão comunitária da variante P.1 no município de Joinville.

Para tirar algumas dúvidas e aprofundar o tema, ND+ ouviu Tarcisio Crocomo. O que se sabe, segundo ele, é que essa nova variante vinda de Manaus já é bastante predominante entre os casos ativos daquela região, ou seja, as características desta variante levam a crer que tem um elevado índice de transmissibilidade.

De fato, estudos iniciais indicam que a variante P.1 apresenta mutações que estão associadas à carga viral mais elevada e, consequentemente, maior capacidade do indivíduo portador do vírus transmitir para outra pessoa (maior transmissibilidade). Porém, não existem estudos conclusivos capazes de determinar qual o impacto na patogenicidade (capacidade de causar doença), na ocorrência de reinfecções ou na resposta às vacinas disponíveis

Isto não quer dizer, porém, que ela será mais grave. Isto está sendo estudado, bem como o poder de transmissibilidade.

“Podemos, sim, ter mais pessoas doentes, mas não necessariamente esses casos serão mais graves. Isso tudo está sendo estudado e avaliado nesse momento. Não há um estudo final que estabeleça o índice de transmissibilidade nem a gravidade”, pondera.

O  especialista explica, ainda, que o Brasil tem uma certa dificuldade de identificar o perfil genético, o DNA do vírus, o quanto esse novo vírus tem poder de desenvolver a doença, o quanto produz de doença.

Mutações

Segundo a Dive-SC (Diretoria de Vigilância Epidemiológica) a nova linhagem encontrada em Manaus apresenta duas mutações importantes, chamadas N501Y e E484K. As mutações aconteceram, principalmente, na proteína spike, usada pelo coronavírus para invadir as células e se multiplicar.

De acordo com o Observatório Covid-BR, apesar de atuarem de forma distinta, ambas fazem com que a entrada do vírus na célula seja facilitada. Essa facilitação tem como consequência o aumento da carga viral dos indivíduos portadores, e, dessa forma, da capacidade de transmitir a outra pessoa (transmissibilidade).

A mutação E484K já foi associada a uma capacidade maior de escapar dos anticorpos e possui ainda a provável característica preocupante de permitir a reinfecção em indivíduos que já tiveram contato com o vírus antes.

Dessa forma, existe a possibilidade de pacientes que já tiveram Covid-19, mesmo com anticorpos desenvolvidos, serem infectados novamente. Ainda faltam estudos mais específicos, mas foi o que aconteceu com uma profissional de saúde de 29 anos.

A mulher foi reinfectada com a nova variante, apesar de ter desenvolvido anticorpos depois da primeira infecção. A informação foi confirmada por pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).

Sobre as vacinas

Perguntado sobre a eficácia da vacina atual diante dessas novas variantes do coronavírus, o infectologista Tarcisio Crocomo diz que isso também está sendo estudado. Depois das pesquisas e das devidas comprovações, a vacina pode e deve ser modificada para ser mais adequada ao novo perfil genético do vírus.

“Na África, por exemplo, já há notícias de que a eficácia da vacina não está sendo muito boa”, destaca.

Entretanto, Crocomo é categórico ao afirmar que a vacina deve continuar sendo aplicada como medida de prevenção.

E, claro, uso de máscaras, distanciamento social e uso de álcool em gel continuam sendo as principais ferramentas de combate à pandemia.

“Essas medidas sanitárias precisam continuar sendo adotadas por todos nós, especialmente agora”, reforça o professor.

Sobre a possibilidade de medidas restritivas mais duras por causa dessa nova variante, Tarcisio Crocomo diz que isso vai depender do acompanhamento epidemiológico e do que os números demonstrarem a partir de agora.

Três novas variantes identificadas em todo o mundo

Até o momento, três novas variantes do coronavírus já foram identificadas em todo o mundo. Uma delas surgiu no sudeste da Inglaterra, em setembro de 2020 e, segundo o primeiro-ministro Boris Johnson, pode ser até 70% mais transmissível do que as versões anteriores do vírus. Além do país europeu, outros 29 países já registraram casos da nova variante, entre eles, Estados Unidos e África do Sul.

Sobre a variante do Reino Unido

A chefe do programa de vigilância genética do Reino Unido, Sharon Peacock, disse em entrevista à BBC, nesta quinta-feira (11/2), que a variante do novo coronavírus encontrada pela primeira vez no Reino Unido dominará o país e “com toda probabilidade, vai varrer o mundo”. 

A variante B.1.1.7 do novo coronavírus preocupa as autoridades de saúde pelo seu alto poder de transmissão. Ela já foi encontrada em mais de 50 países e especialistas acreditam que ela esteja passando por novas mutações, o que pode ameaçar a vacinação.

“O que é preocupante sobre isso é que a B.1.1.7., variante que temos circulando por algumas semanas e meses, está começando a sofrer alterações novamente e obter novas mutações que podem afetar a maneira como lidamos com o vírus em termos de imunidade e eficácia das vacinas”, disse a diretora executiva e presidente do consórcio Covid-19 Genomics UK (COG-UK, na sigla em inglês).

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  • Jornal Regional



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