O cruzamento de dados de
inteligência da Receita Federal durante a segunda fase da Operação Saldo
Negativo identificou a existência de pelo menos 52 “franqueados” da organização
criminosa que atuava na comercialização de falsos créditos e sonegação fiscal
em todo o País envolvendo 152 pessoas físicas e jurídicas. Somente em Santa
Catarina, 47 procedimentos fiscais estão sendo realizados para notificar estes
contribuintes.
A apuração dos auditores fiscais mostrou diversos casos onde houve a
atuação destes “revendedores” de falsos créditos. A operação, que teve de ser
expandida devido a necessidade de cruzar um número ainda maior de informações e
dados, identificou situações em que contadores recebiam comissões e
intermediavam a venda de falsos créditos para seus clientes. Há ainda casos de
empresas compradoras de falsos créditos atuando como intermediárias na venda
para outras empresas. Todas as informações apuradas estão sendo compartilhadas
com a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, de acordo com a
legislação vigente. O Conselho Regional de Contabilidade (CRC) também está
sendo comunicado sobre o envolvimento de contadores.
Os auditores fiscais seguem analisando e cruzando informações de outros
contribuintes e novas fiscalizações podem ser deflagradas no Estado. “A
operação da Receita Federal está atuando em duas frentes: repressão aos
vendedores de falsos créditos e orientação para prevenir e evitar que outras
empresas caiam no golpe”, explica o auditor-fiscal Rogério Penna, supervisor da
equipe de fiscalização regional.
De acordo com Rogério Penna, a atenção à prevenção e orientação das
empresas se justifica pela situação de crise causada pela pandemia da COVID-19,
o que torna as empresas mais vulneráveis a golpes e fraudes. “Além disso, a
análise da documentação apreendida identificou pelo menos mais mil empresas que
compraram falsos créditos da organização criminosa”, diz. Somando as 3.500 que
haviam sido identificadas na primeira fase da Saldo Negativo, em novembro de
2019, já são 4.500 empresas envolvidas na fraude utilizando falsos créditos.
Penna enfatiza que “é urgente conscientizar os empresários de que não
existem soluções mágicas para questões tributárias. Aceitar ofertas de falsos
créditos não quita os débitos tributários e ainda sujeita a empresa a multas de
até 225%, em virtude da fraude perpetrada contra o Fisco”. Recomenda-se que os
contribuintes que receberem propostas "milagrosas" de quitação de
tributos federais denunciem na própria Receita Federal, que prestará as
informações necessárias e poderá apurar a prática do ato delituoso, e, com
isso, evitar prejuízos.
TRABALHO REMOTO - A
atuação da Receita Federal foi adaptada à situação de isolamento social e todas
as atividades estão sendo executadas remotamente. A operação está sendo
liderada pela Delegacia da Receita Federal em Florianópolis e foi priorizada em
virtude dos riscos de novos crimes tributários em meio aos impactos econômicos
da COVID-19. O número de envolvidos surpreendeu a equipe, que já contava com sete
integrantes, foi reforçada e passou a ser composta por dez auditores fiscais.
SALDO NEGATIVO - Deflagrada em 5 de
novembro de 2019 pela Receita Federal e Polícia Federal, com 30 mandados de
busca e apreensão e 25 mandados de prisão cumpridos nos estados de Santa
Catarina, Paraná, São Paulo e Distrito Federal, a Operação teve origem em
representação fiscal para fins penais encaminhada pela Receita Federal ao
Ministério Público Federal. Ao longo de pouco mais de dois anos de
investigações, os auditores-fiscais realizaram auditorias e identificaram a
fraude: consultorias tributárias comercializavam falsos créditos tributários a
empresários, que pensavam estar usando deste crédito fictício para quitar suas
obrigações fiscais com a Receita Federal. Na verdade, a organização criminosa
embolsava a maior parte do valor dos tributos devidos, os contribuintes
imaginavam obter alguma vantagem, porém, além do valor pago aos fraudadores,
continuavam com a dívida integral junto ao Fisco.
A segunda fase da Operação acontece desde o início de abril de 2020,
quando os contribuintes selecionados foram intimados. O prejuízo causado aos
cofres públicos foi apurado em cerca de R$ 2,3 bilhões. Aproximadamente 80%
desses valores já foram objeto de auditoria por parte da Receita Federal.
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