A Páscoa deste ano terá um significado ainda mais forte para
os católicos na Itália.
Pela primeira vez na História, todas as igrejas do
país estarão com as portas fechadas aos fiéis durante as celebrações da Semana
Santa e mais de 9 mil procissões deixarão de ser realizadas por causa da
epidemia de coronavírus.
A missa do Domingo de Páscoa também será celebrada
pelo Papa Francisco na
Basílica de São Pedro no dia 12 de abril sem a presença dos devotos.
Devido às restrições impostas pelas autoridades
italianas para evitar a propagação da covid-19, diversas celebrações
tradicionais da Semana Santa serão substituídas por missas online, procissões
virtuais, velas acesas em horários específicos e orações entoadas
simultaneamente em janelas e varandas.
"Mais que nunca, o uso de novas tecnologias tem
demonstrado a sua vocação como instrumento de união, permitindo aos religiosos
estarem ainda mais próximos às pessoas", diz em entrevista à BBC News
Brasil o jornalista Fabio Bolzetta, presidente da WebCattolici Italiani, uma
associação que desde 2003 ensina religiosos italianos a utilizarem a tecnologia
para se aproximar dos fiéis.
"Desde o início da epidemia de coronavírus, o uso
de internet entre os religiosos tem aumentado consideravelmente", afirma.
A organização, que conta com mais de 15 mil paróquias
associadas em todo o país, lançou no dia 25 de março um guia prático para a
realização de cerimônias católicas à distância.
Tecnologia e novas mídias
"Não é preciso ter meios sofisticados para celebrar uma
missa online. Basta um celular com conexão à internet, um tripé, boa iluminação
e um pouco de atenção com o áudio e com o enquadramento."
Bolzetta recomenda atenção para evitar casos como o do
padre Antonio Nuara, sacerdote italiano que durante a celebração de uma missa
online, ativou por engano filtros animados que projetavam desenhos em seu
rosto.
"Infelizmente, é fácil que aconteçam inconvenientes
se não tivermos certos cuidados durante as transmissões ao vivo."
O jornalista ensina também como cativar os fiéis
através dos novos meios de comunicação.
"É muito importante que o sacerdote já esteja
online um pouco antes do início da missa, para poder dar as boas-vindas, ler o
nome dos seguidores e, se possível, saudá-los um a um."
"Do mesmo modo, aconselhamos aos padres que ao
fim da cerimônia eucarística continuem a interagir com os devotos através da
rede, especialmente neste período em que estamos sujeitos a inúmeras restrições
por causa da pandemia."
Bolzetta dá ainda indicações sobre quais redes sociais
utilizar para poder comunicar diferentes públicos.
"Alguns padres, mais idosos, chegam a pedir
emprestado os celulares de outros religiosos mais jovens para poderem realizar
as missas virtuais."
Tecidos
brancos na janela
Entre as inúmeras cidades que deixarão de realizar procissões
centenárias está Civitavecchia, próxima à Roma, onde os rituais de Páscoa
costumam atrair, a cada ano, cerca de 30 mil turistas.
"Convidamos todos os residentes a pendurarem em
suas janelas tecidos de cor branca, que simbolizam os indumentos dos penitentes
de nossas procissões", diz em entrevista à BBC News Brasil David Trotti,
chefe da congregação católica Arciconfraternita del Gonfalone.
"Vamos acender velas e rezar o Pai Nosso nas
janelas e nas sacadas de nossa casas, na Sexta-feira Santa, às 20h30. Será a
nossa homenagem às vítimas da epidemia, aos doentes e a todas as pessoas que
estão trabalhando no combate ao coronavírus."
Em Roma, além celebrar missas online, o padre Antonio
Raimondo Fois, da igreja Santa Maria delle Grazie al Trionfale, convida os
seguidores a compartilharem fotografias da própria família para realizarem
procissões virtuais na página Facebook da paróquia.
Na Semana Santa, a igreja também compartilhou
tutoriais para a realização de símbolos da tradição pascal, como o de um jovem
escoteiro que ensina a fazer pão.
Sando
Sudário exibido pela TV e internet
Pela primeira vez, o Santo Sudário, que segundo a fé católica
é o lençol que envolveu o corpo de Jesus, e que fica guardado na Catedral de
Turim, será exibido pela TV e via web, no Sábado de Aleluia, dia 11.
O arcebispo de Turim, monsenhor Cesare Nosiglia, disse
ter recebido milhares de mensagens de pessoas que pediam para poder rezar
diante da relíquia.
"O amor de Jesus é mais forte que qualquer
sofrimento, qualquer doença, contágio, provação e desânimo", disse a um
jornal italiano.
"Esta será uma Páscoa que nenhum italiano irá
esquecer", afirma o jornalista Bolzetta. "Desde a chegada desta
epidemia, nossas casas se transformaram em locais de trabalho, em escolas e até
igrejas."
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