Pesquisa analisa a disseminação da Covid-19 na região de Fronteira do Mercosul

14/05/2020 - 12h10

O Projeto “Observatório da Dinâmica Geográfica da Covid-19 na Área de Abrangência da UFFS”, desenvolvido pelos professores da UFFS – Campus Chapecó, Ederson Nascimento (Geografia) e Larissa Tombini (Enfermagem), realiza a análise espacial do andamento da doença na região. Essas avaliações são feitas com base nos números de infectados (absoluto) e número de infectados por 10 mil habitantes e, posteriormente, da criação dos mapas com a aplicação das informações. O levantamento dos dados teve o auxílio, ainda, dos estudantes de Geografia, Andiara Bock e Macleidi Varnier.

A Covid-19 é uma doença que vem vitimando milhões de pessoas no mundo. No Brasil, até a última quarta-feira (13/05), o número de casos notificados superava a marca de 177,5 mil, com 12,4 mil óbitos. Também são significativos os números referentes aos estados da região Sul: são 1.906 casos confirmados, com 113 mortes no Paraná; 2.917 infectados e 111 óbitos no Rio Grande do Sul; e, em Santa Catarina, 3.733 casos confirmados, com 73 mortes. A posição do professor Ederson acerca deste cenário é bastante contundente. Segundo ele, é possível concluir que o que vem acontecendo “é uma enorme tragédia pelo tempo que a doença está na região e, ainda mais se lembrarmos que a Covid-19 ainda vai durar algumas semanas, quiçá alguns meses”.

De acordo com o professor, a partir da observação da distribuição espacial dos casos no dia 11 de maio, fica claro que a região ainda não tem tantos casos quantitativamente se comparada com regiões metropolitanas do Sul do país, especialmente o litoral de SC e o Vale do Itajaí. Entretanto, a análise aponta uma clara interiorização da doença, com o crescimento do número de infectados em municípios do interior.

Quando se faz o recorte específico da Mesorregião Grande Fronteira do Mercosul (principal área de influência da UFFS, com 395 municípios), além do crescimento do total de casos em determinados municípios, a gravidade está também nas taxas de incidências, ou seja, na comparação da quantidade de casos para cada grupo de 10 mil habitantes. “Isso é para poder ponderar o número de casos com o tamanho de cada município, com o peso populacional de cada um deles. A gente divide o número de casos pela população e multiplica por 10 mil. Aí temos um olhar diferente sobre a região: algumas cidades pequenas, que em que numa análise global não se destacam tanto, fica mais perceptível que têm um número elevado de casos comparando ao porte populacional pequeno. Isso acontece sobretudo em cidades em volta de alguns polos em que os casos têm se concentrado (como Chapecó, Concórdia e Passo Fundo)”.

A centralidade de algumas cidades, que atraem a população, principalmente para trabalhar, explica a disseminação do vírus em cidades menores, mas que estão ao redor desses polos. “No âmbito regional, a principal hipótese é que essas cidades desenvolveram algum ponto de centralidade em grandes empresas, onde ocorreu a contaminação mais coletiva, que depois foi levada aos outros municípios. A gente consegue ver claramente isso, compilando os dados e distribuindo nos mapas”, ressalta ele. “É o caso, por exemplo, das microrregiões de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, e em Concórdia, em Santa Catarina, onde vários dos casos correspondem a trabalhadores de agroindústrias e a seus familiares. Há indícios de que parte dos casos de Chapecó tenham tido origem semelhante”, continua.

A grande preocupação com relação ao número de casos em pequenas cidades, de acordo com o professor, é o atendimento a esses pacientes. “A gente sabe bem que o sistema de atendimento em saúde também é concentrado em algumas cidades. Então, se você tem em cidades mais distantes os casos sendo concentrados, a dificuldade de buscar ajuda, tratamento, por conta da distância, se torna maior”, frisa o professor.

Em meio a todo esse contexto, a professora Larissa aponta boas estratégias adotadas pelos governos. “Além do isolamento social como medida de prevenção, a ampliação da infraestrutura assistencial a partir da criação de ambulatórios específicos para testagem e identificação de casos e, especialmente a habilitação de leitos de UTI, é uma realidade. Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul ampliaram em cerca de 30%, a oferta de leitos de UTI para uso exclusivo de internações por COVID-19, estes, distribuídos entre as regiões de saúde geograficamente definidas, em cada estado”. Segundo ela, no Oeste catarinense são aproximadamente 156 leitos de UTI adulto disponíveis para COVID-19. No Oeste do Paraná são 71, e, no Norte gaúcho cerca de 165 leitos UTI adulto disponíveis. No dia 11, conforme dados gerais para os estados, a ocupação dos leitos por pacientes com a confirmação e com suspeitas da doença era de 16,9% em Santa Catarina, 35% no Paraná, e 16,3% no Rio Grande do Sul. Apesar das médias estaduais, nas regiões de saúde de Passo Fundo, Erechim, Chapecó e Concórdia a ocupação era superior a 30%.

Apesar das boas medidas tomadas, do maior número de casos estar nas cidades maiores (e que consequentemente têm mais leitos de UTI) e de haver uma regulação dos leitos em nível central para garantia de acesso universal, a professora Larissa aponta o mesmo problema indicado pelo professor Ederson. “O avanço no número de casos (como já identificado) em municípios de menor porte (a exemplo das regiões de Concórdia em SC e Marau no RS) preocupa moradores e as autoridades sanitárias locais, que devem adotar medidas efetivas para a contenção da disseminação do vírus em seus espaços geográficos e a garantia de retaguarda na assistência integral à saúde dos que necessitam, desde monitoramento domiciliar pelas equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF) disponíveis em todos os municípios, até leitos de UTI e respiradores nos grandes centros de referência. O momento é, portanto de atenção e planejamento local nos micros e macros espaços”.

As medidas para a contenção já são de conhecimento do mundo todo: “é de fundamental importância o isolamento físico, para que não haja o contágio, que a própria sociedade, que as pessoas tomem consciência de que a doença é séria, que o contágio é relativamente simples e que pode levar a graves consequências. São números que mostram – repito – uma tragédia sem precedentes nos últimos cem anos no nosso país e no mundo, e essa breve análise buscou mostrar que nossa região não está alheia a isso, muito pelo contrário”, finaliza Ederson.

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