Foto: Pixabay/Reprodução
Depois de 16 meses
consecutivos de alta, os preços das carnes caíram no país em outubro. É o que
apontam os dados do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15),
conhecido como a prévia da inflação oficial. Apesar da trégua, as carnes ainda
acumulam alta de 22,06% em 12 meses.
Em outubro, os
preços das carnes tiveram baixa de 0,31%, conforme a pesquisa. A última queda
havia ocorrido em maio do ano passado (-1,33%). O IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) divulgou os dados nesta terça-feira (26).
Neste ano, de
janeiro a outubro, a inflação prévia acumulada pelo grupo é de 10,27%. A
pesquisa foi feita com base nos preços das cidades de Curitiba, São Paulo, Rio
de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Fortaleza, Goiânia,
Brasília, Belém. Nenhum município de Santa Catarina fez parte do levantamento.
Segundo o
economista André Braz, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da
Fundação Getulio Vargas), a queda nos preços em outubro pode ser associada à
suspensão das exportações das carnes brasileiras para a China.
A paralisação
ocorreu após o registro de dois casos atípicos de vaca louca em setembro. Com a
trégua na demanda chinesa, a tendência é de que uma quantidade maior de
mercadorias seja destinada ao mercado interno, levando os preços para um
patamar inferior.
— A gente vai ver
uma queda mais intensa de acordo com a duração desse efeito de paralisação das
exportações. A China não deve manter o embargo por muito tempo. Quanto maior
for o tempo do embargo, maior é a probabilidade de a gente ver queda no preço —
aponta Braz.
O economista
pondera que, devido à alta acumulada ao longo da pandemia, o consumidor
precisará de novas reduções nos preços para sentir um alívio no bolso.
— A taxa em 12
meses das carnes ainda está acima de 20%. Então, é preciso ter muitas quedas
para que o consumidor volte a consumir carnes como antigamente — relata o
pesquisador.
De 18 cortes que
compõem o segmento de carnes no IPCA-15, 12 tiveram baixa nos preços em
outubro. A maior queda foi a da capa de filé (-1,83%).
Seis cortes
registraram alta nos preços. O maior avanço foi o da picanha (2,88%).
Durante a crise
sanitária, a escalada inflacionária e o desemprego levaram mais pessoas a
buscarem doações e até mesmo restos de carnes para alimentação.
Um desses casos
ocorreu no Rio de Janeiro, onde um caminhão ficou conhecido por distribuir
ossos para um grupo com fome. Cidades como Cuiabá (MT) também registraram filas
em busca de restos de ossos de boi.
Em outubro, o
IPCA-15 teve variação geral de 1,20%, a maior para o mês desde 1995 (1,34%). Com
o novo resultado, a prévia da inflação atingiu 10,34% no acumulado de 12 meses.
Neste mês, os
preços das carnes caíram em 6 das 11 capitais e regiões metropolitanas
pesquisadas pelo IBGE. As maiores reduções ocorreram em Goiânia (-1,63%), Porto
Alegre (-1,54%) e Belém (-0,98%).
Na região
metropolitana de São Paulo, a queda em outubro foi de 0,55%. Trata-se da
primeira baixa depois de 16 meses de alta.
O economista Diego
Pereira, da Apas (Associação Paulista de Supermercados), atribui a redução a
dois fatores: a paralisação das exportações para a China e a recente trégua nos
preços de commodities como o milho, usado em rações animais.
Cinco metrópoles
tiveram alta nas carnes em outubro, conforme o IPCA-15. As principais elevações
foram registradas em Brasília (1,28%), Salvador (1,25%) e Fortaleza (1,15%).
Em 12 meses, Porto
Alegre é a capital com a maior inflação das carnes: 30,9%. Em seguida, aparecem
Curitiba (29,16%), Brasília (24,89%) e São Paulo (23,72%).
De acordo com
Pereira, o cenário é de novos recuos nos valores finais caso a paralisação das
vendas para a China se mantenha. Por outro lado, pressões de custos internos,
como a alta da energia elétrica, jogam contra uma redução mais acentuada nos
preços para os consumidores.
— A gente tem esse
duelo no cenário — define o economista.
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