Douglas Borba pediu exoneração do cargo de secretário da Casa Civil – Foto: Rodolfo Espínola/Agência AL/ND
O conteúdo da investigação do MPSC (Ministério Público de
Santa Catarina) que resultou na Operação Oxigênio veio à tona nesta
segunda-feira (11), após a Justiça autorizar a quebra de sigilo.
O documento mostra que, na
quinta-feira (7), a desembargadora Vera Lúcia Ferreira Copetti negou, “por ora”, o pedido de prisão temporária de Douglas Borba,
ex-secretário da Casa Civil de Santa Catarina, e de mais sete investigados na
operação, que apura a compra de respiradores fantasmas pelo governo.
Apesar da negativa das prisões
temporárias, a desembargadora autorizou mandados de busca e apreensão, além de
bloqueios de bens de pessoas físicas e empresas.
Além do ex-secretário da Casa
Civil, o Ministério Público pediu a prisão temporária de mais sete pessoas por
constatar participação na compra irregular dos aparelhos para combate à
pandemia da Covid-19.
O valor da transação com a
empresa carioca Veigamed foi de R$ 33 milhões, por 200 respiradores – preço
acima do praticado no mercado, com pagamento antecipado e dispensa de
licitação.
As sete pessoas apontadas,
além de Borba, são: Samuel de Brito Rodovalho, Leandro Adriano de Barros, Pedro
Nascimento de Araújo, Rosemary Neves de Araújo, Gilliard Gerent, Fábio
Deambrósio Guasti e Davi Perini Vermelho.
Quem são:
Douglas Borba: ex- secretário da Casa Civil de Santa
Catarina
Samuel de Brito Rodovalho: representante da empresa CIMA
Industries Inc. Medical Division, do Panamá (fornecedora dos respiradores)
Leandro Adriano de Barros: advogado
Pedro Nascimento Araújo: CEO da Veigamed
Rosemary Neves de Araújo: sócia da Veigamed
Gilliard Gerent: representante da Veigamed
Fábio Deambrósio Guast: representante da Veigamed
Davi Perini Vermelho: presidente da Câmara de Vereadores de
São João de Meriti, cidade vizinha a Nilópolis, onde fica a sede da Veigamed
O grupo é investigado por suposta prática de crimes contra a administração pública, como peculato, corrupção ativa e passiva, e “possivelmente lavagem de dinheiro, a depender do destino dado aos valores pagos pelo erário”, além de delitos licitatórios, aponta o despacho.
Como atuaram os
investigados, segundo MP:
Douglas Borba: atuou
“nos bastidores” da contratação da Veigamed, “utilizando sua influência e
prestígio do cargo”, segundo o MP. Ele teria indicado o empresário fornecedor
de equipamentos hospitalares, identificado por Fábio. Depois de concretizada a
transação, teria indicado pessoa da sua confiança (o advogado Leandro Adriano
de Barros) para fazer contato com a servidora pública Marcia Regina Geremias
Pauli (que foi exonerada). O intuito, segundo as investigações, era avalizar o
negócio e assegurar que os produtos seriam entregues, para manter o negócio
vigente e cujos recursos já haviam sido transferidos.
Fábio
Deambrósio Guasti: foi responsável por atuar em nome da
Veigamed durante todas as tratativas da contratação. Segundo o MP, ele
foi um dos destinatários de emails enviados pela Secretaria de Estado da
Saúde para tratar do atraso na entrega dos respiradores pulmonares.
Samuel de Brito
Rodovalho: teria sido o responsável por procurar a empresa
de Rafael Werkelin (a exportadora Brazilian International Business, de
Joinville), para que apresentasse proposta para a aquisição dos aparelhos
respiradores, informando que a empresa contratada pagaria “comissão” no valor
de R$ 3 milhões.
Davi Perini
Vermelho: teria atuado em nome da Veigamed como comprador de 100 mil kits para teste de Covid-19 da
empresa Oltramed (também de Joinville), “no valor de mais de R$ 11 milhões,
valores esses de procedência absolutamente duvidosa”, segundo o MP.
Mensagens apagadas
Segundo o pedido de prisão
temporária contra Douglas Borba, o então secretário da Casa Civil teria apagado
mensagens que trocou com a servidora Marcia Regina Geremias Pauli, que foi exonerada após a divulgação da compra pela imprensa.
O histórico de mensagens do
celular de Borba, no aplicativo Whatsapp seria diferente do que o entregue por
Márcia, conforme o MP. “Demonstrando que apagou mensagem” por meio da qual
indicava o advogado Leandro Adriano de Barros como o contato para a compra dos
respiradores.
Em outro trecho da
justificativa, o pedido informa que a Casa Civil estava atrasando, “de forma
injustificada”, a tramitação de decreto que deveria apurar o caso. E tornaria
de “fundamental importância” que a investigação interna no governo estadual
fosse realizada pela CGE (Controladoria-Geral do Estado).
Leandro seria a segunda pessoa
indicada por Borba para participar do processo. Também por WhatsApp, ele teria
indicado Fábio Deambrósio Guasti, identificado como “Fábio da meuvale”, que
prometeu a entrega dos equipamentos em “tempo recorde”. O prazo dado por Guasti
seria de um primeiro lote com 100 equipamentos entre os dias 5 e 7 de abril,
desde que o pagamento fosse antecipado.
A desembargadora Vera Copetti,
relatora do processo no TJSC (Tribunal de Justiça de Santa Catarina), negou,
porém, o pedido de prisão temporária contra Borba e os demais investigados pela
força-tarefa.
“São, a meu ver, genéricas,
sem a especificação de quais condutas os investigados acima referidos estariam
adotando com a finalidade de obstruir a instrução do procedimento
investigatório, de modo que se pudesse concluir ser a segregação indispensável,
neste momento”, diz a magistrada na decisão de 7 de maio.
Mandados de busca e apreensão e
bloqueio de bens
A desembargadora autorizou
mandados de busca e apreensão contra 19 pessoas e empresas, entre elas a
Veigamed e os ex-secretários Helton De Souza Zeferino (Saúde) e Douglas Borba
(Casa Civil).
Completam a lista dos mandados
a exportadora de Joinville Brazilian Trading Importadora E Exportadora Eireli e
o responsável Rafael Ruschka Wekerlin, a empresa Factual Assessoria Contabil
Eireli, a servidora exonerada Marcia Regina Geremias Pauli, Samuel de Brito
Rodovalho, Leandro Adriano de Barros, Rosemary Neves de Araújo, Gilliard
Gerent, Fábio Deambrósio Guasti, Davi Perini Vermelho, Pedro Neves Araújo,
Pedro Theobaldo Oliveira Menezes, Germano De Lins E Lincoln, Carlos Charlie
Campos Maia, Carlos Roberto Costa Júnior e Wagner Tadeu Martins Queiroz.
Além dos mandados, foi
decretado o bloqueio financeiro de nove pessoas físicas e 16 empresas, no valor
de até R$ 33 milhões – montante da compra dos respiradores. Incluindo valores
de previdência privada e criptoativos.
Entre as pessoas físicas estão
novamente os ex-secretários Helton Zeferino e Douglas Borba, além de Rosemary
Neves De Araújo, Pedro Nascimento Araújo, Fábio Deambrosio Guasti, Samuel De
Brito Rodovalho, Davi Perini Vermelho, Gilliard Gerent e Leandro Adriano De
Barros.
As empresas com bloqueios de
bens são: Veigamed, Delta T Consultoria Empresarial Ltda., MB&AC
Representações Ltda., B-Leven Suplementos Eireli, Van Brands – Comercio
Varejista e Atacadista de Produtos Alimentícios e Cosmésticos, G8S Serviços Administrativos
e Apoio Empresarial Ltda, GSM Nutrition Industria Alimentícia Ltda, Van Zegen
Brasil Participações Empresariais Ltda, Sinotek Brasil – Importação,
Representação e Comércio de Máquinas e Equipamentos, Radio SB FM Ltda,
Remocenter Remoções E Serviços Médicos Ltda, Sued Auto Posto Ltda, Meuvale
Gestão Administrativa Ltda, Redevale Gestão De Pagamentos E Serviços Ltda,
Meuvale Gestão Administrativa Scp e Meuhesp Benefícios Ltda.
Contrapontos
A reportagem do nd+ tenta
localizar os envolvidos na investigação para contrapontos desde a tarde desta
segunda-feira.
Veigamed – Por
volta das 19h desta segunda-feira (11), a assessoria de imprensa da
empresa emitiu uma nota.
Sobre o
processo # 5010352-88.2020.8.24.0000/SC do Órgão Especial do Tribunal de Justiça
do Estado de Santa Catarina, cujo sigilo foi liberado hoje, a VEIGAMED informa
que, conquanto seus advogados ainda estejam analisando o processo em tela, pode
adiantar que os senhores Gilliard Gerent
e Fábio Deambrósio Guasti não respondem pela empresa.
A empresa reforça ainda que, neste momento, os seus esforços estão direcionados
para garantir a entrega dos 200 ventiladores pulmonares invasivos Shangrila
S510 para o governo do Estado de Santa Catarina o mais rápido possível e
informa que o primeiro lote com 50 respiradores já saiu da China e tem previsão
de chegar ao Brasil amanhã [12].
Por fim, a
VEIGAMED reitera que continuará colaborado com a Justiça do Estado de Santa
Catarina, à qual prestará todos os esclarecimentos necessários.
Douglas Borba
– No início da noite desta segunda-feira (11), a defesa do
ex-secretário se manifestou, por meio de nota.
A defesa de
Douglas Borba se manifesta no sentido de que está acessando o processo para
conhecer o seu inteiro teor; que Douglas Borba tem colaborado espontaneamente
com as investigações e permanece à disposição das autoridades para o pleno
esclarecimento dos fatos, certo de que sua conduta a frete da Secretaria da
Casa Civil sempre se pautou pela legalidade e transparência.
Helton Zeferino
– a reportagem tentou contato nesta tarde e início da
noite, mas as ligações não foram atendidas e tampouco retornadas.
Fabio
Deambrosio Guasti – a reportagem conseguiu o contato de
uma de suas cinco empresas – a Meuvale Gestao Administrativa Ltda – onde, segundo
repassado, ele não está mais no local. Deve emitir um
posicionamento nesta terça-feira (12).
Davi Perini
Vermelho – É vereador em São João de Meriti pelo DEM, não
foi localizado. A reportagem tentou contato no seu gabinete, no Legislativo,
mas o telefone não foi atendido nem retornado.
Leandro Adriano
de Barros – a reportagem tentou o seu celular, em mais de
uma oportunidade, e o telefone só foi registrado como desligado.
Samuel de Brito
Rodovalho – Até a atualização da matéria não havia sido
localizado.
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