Estruturação, vulnerabilidade natural e risco à contaminação
do Sistema Integrado Guarani/Serra Geral (SAIG/SG) em Santa Catarina. Esses são
os temas de três mapas que compõem um relatório produzido por pesquisadores do Projeto Rede Guarani/Serra Geral (RGSG), voltado para auxiliar
gestores públicos e cidadãos na gestão dos dois aquíferos mais importantes em
território catarinense.
“O relatório situa onde está essa água subterrânea em cada
bacia hidrográfica e qual a chance que temos em utilizá-la de modo sustentável”,
explicou o geólogo Luiz Fernando Scheibe, coordenador da rede.
Criada em meados dos anos 2000 com o apoio da Fundação de
Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), vinculada à
Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável (SDE), a RGSG é
formada por cientistas, pesquisadores, educadores ambientais e juristas de
diversas instituições (veja a lista abaixo). Seu objetivo principal é gerar
conhecimento técnico e científico visando a proteção e o uso adequado dos
aquíferos. A rede contou com o financiamento da Agência Nacional de Águas
(ANA), por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), da Caixa Econômica Federal e da Fapesc. Também houve
recursos de uma emenda coletiva da Bancada Parlamentar Catarinense em
Brasília.
A nota técnica, disponibilizada no fim do ano passado, inclui
três mapas e suas bases cartográficas digitais. Os estudos desta etapa foram
iniciados em 2016, sob a coordenação de Arthur Nanni, professor da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC) e coordenador do Núcleo
de Estudos em Permacultura. É um dos 17 produtos gerados pela
rede, entre livros, artigos científicos, vídeos, dissertações, teses e ações de
educação ambiental, acessíveis no site do projeto.
Todas as informações, assim como os links de acesso à nota
técnica e às bases cartográficas digitais, estão disponíveis nas páginas do Laboratórios de Análise Ambiental e
do Laboratório de Hidrogeologia,
ambos da UFSC. Há, inclusive, recortes para serem usados nas bacias
hidrográficas, de acordo com as áreas de atuação de cada comitê atuante na
região.
O professor Amauri Bogo, diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação e presidente em exercício da Fapesc, ressaltou a importância da pesquisa. “A gestão sustentável das águas é fundamental para o presente e para o futuro. Com o apoio da Fapesc, o Projeto Rede Guarani/Serra Geral vem fazendo um trabalho exemplar de pesquisa, levantando informações e dados cruciais e promovendo análises para nortear a tomada de decisões sobre a gestão desse recurso. Cabe ao governo e à sociedade utilizar esse conhecimento gerado da melhor forma possível”, declarou.
Um patrimônio subterrâneo
Uma gestão adequada das atividades da superfície pode
garantir a preservação das Águas Subterrâneas, um patrimônio catarinense.
O Guarani se tornou sinônimo de aquífero para pessoas leigas, mas sobre ele
está outro aquífero igualmente importante, o Serra Geral, que, por estar mais
próximo da superfície, é usado mais intensamente. Ambos estão sob vastas
porções dos territórios do Uruguai, Argentina, Paraguai e Brasil, incluindo
Santa Catarina. “Podemos dizer que são aquíferos irmãos, pois operam juntos e
abastecem cerca de 80% da população das cidades catarinenses que estão sobre
eles, numa região que movimenta 34% da economia do Estado”, explicou Nanni.
A pesquisa compreendeu a área de abrangência do SAIG/SG em
Santa Catarina, de 48.320 km². Toda essa água que está embaixo da superfície,
que apresenta idades entre 30 mil a 800 mil anos, é um recurso apenas
parcialmente renovável. “Só vamos puxar esta água uma vez. Pode ser que as
companhias, as indústrias e as cidades estejam se desenvolvendo hoje usando
esta água, mas há um limite”, informou Nanni.
Luiz Fernando Scheibe, professor titular emérito voluntário
da UFSC e atual coordenador do Projeto RGSG, ressalta a importância de conhecer
o ciclo hidrológico para fazer a gestão desse patrimônio. “A principal fonte de
abastecimento é a água da chuva, que pode ser usada imediatamente. Mas, quando
cai sobre o terreno, existem três possibilidades: pode evaporar, escorrer para
os rios, o que é muito rápido, ou infiltrar no solo. Ao infiltrar, ela pode
recarregar os aquíferos”, disse. As nascentes dos rios, por sua vez, são
recarregadas pelos aquíferos, garantindo sua continuidade durante as
estiagens.
Gestão Integrada, integradora e inclusiva
O relatório poderá ser usado pelos gestores públicos e
cidadãos para preservar essa última fronteira. “Esses mapas permitem, por
exemplo, que a Secretaria de Desenvolvimento Sustentável trace estratégias de
tomadas de decisão. Permite que as secretarias municipais de Meio Ambiente, nos
seus processos de licenciamento, possam verificar como foi a metodologia
adotada para fazer a avaliação dessa vulnerabilidade e dizer se determinado
empreendimento pode ou não ser licenciado, considerando áreas mais ou menos
vulneráveis”, explicou Nanni.
“Uma gestão integrada e
consciente do uso das águas subterrâneas, este é o objetivo da SDE/SEMA em
conjunto com a Fapesc, universidades e demais entidades parceiras. A água é
nossa vital fonte de sobrevivência e é preciso fazer esta gestão compartilhada
de forma muito responsável, principalmente se tratando destas importantes
fontes que são os aquíferos e observando suas limitações de renovação e de uso
sustentável”, avaliou o Secretário da SDE e Secretário Executivo do Meio
Ambiente (SEMA), Celso Albuquerque.
As instituições da rede
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Empresa de
Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Universidade
do Planalto Catarinense (Uniplac), Universidade do Oeste de Santa Catarina
(Unoesc), Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Universidade
Regional de Blumenau (Furb), Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó)
e Universidade do Contestado (UnC). Essas instituições receberam recursos de
equipamento e material permanente por meio do Projeto REDE GUARANI-SERRA GERAL:
SC-ICI (Infra-Estrutura, Capacitação e Intervenção), com termo celebrado entre
a ANA e a Fapesc, com intermediação da Caixa Econômica Federal.
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