O site da revista "Veja" divulgou nesta
sexta-feira (26) uma conversa que teria acontecido entre o jornalista Glenn
Greenwald, fundador do site The Intercept Brasil, e a fonte de quem ele diz ter
recebido diálogos atribuídos ao ministro Sérgio Moro e a procuradores da Operação Lava Jato.
A revista diz, no subtítulo da reportagem, que, em
conversa com Greenwald, "hacker diz não ter invadido celular do ministro
Sérgio Moro". A reportagem segue, e Veja reproduz um diálogo que afirma
ter sido repassado pelo próprio Greenwald.
No diálogo, Greenwald pergunta se a fonte havia lido
uma reportagem da “Folha de S.Paulo” com o título “Hacker invade celular de
Moro, usa aplicativos e troca mensagens por seis horas” e passa o link da
reportagem.
Em resposta, a fonte diz: “Posso garantir que não
fomos nós. Nunca trocamos mensagens, só puxamos. Se fizéssemos isso ia ficar
muita na cara”. E acrescenta: “A notícia não condiz com nosso modo de operar,
nós acessamos telegrama com a finalidade de extrair conversa e fazer justiça,
trazendo a verdade para o povo”.
(Há uma outra versão sobre a
invasão do celular de Moro. Em depoimento à Polícia Federal, o hacker Walter
Delgatti Neto, preso no dia 24, disse que acessou a conta do ministro Sérgio
Moro no Telegram mas que não conseguiu obter nenhum conteúdo. Leia mais: "Hacker conta em
depoimento como chegou a arquivos de Deltan Dallagnol e os repassou a Glenn
Greenwald e diz que não recebeu dinheiro pelo material".)
No dia em que a “Folha” publicou essa reportagem (5 de julho), o Intercept
ainda não havia iniciado a série de reportagens. A primeira foi publicada em 9 de junho.
Segundo a revista "Veja", Glenn Greenwald
disse que manteve contatos com a fonte desde o início de maio e que todos os
contatos foram feitos virtualmente. Ele disse que foi apresentado à fonte por
um intermediário e afirmou desconhecer a identidade do hacker, que teria
extraído as conversas vazadas do Telegram do procurador Deltan Dallagnol, da
força-tarefa da Lava Jato.
“A fonte me disse que não pagou por esses dados e não
me pediu dinheiro algum em troca desse conteúdo”, afirmou Greenwald à revista.
Depoimento
A Polícia Federal investiga a interceptação de mensagens de
autoridades, como o presidente Jair Bolsonaro, o presidente da Câmara, Rodrigo
Maia, o presidente do Senado (Davi Alcolumbre) e o ministro Sergio Moro
(Justiça e Segurança Pública). Quatro pessoas foram presas pela Operação Spoofing na
terça-feira (23).
Walter Delgatti, um dos quatro presos pela Polícia
Federal suspeitos de invadir celulares de autoridades e capturar registros de
conversas, disse em depoimento aos agentes que repassou dados ao jornalista Glenn
Greenwald, do site The Intercept Brasil, de forma anônima e não
remunerada, segundo informou o jornal "O Estado de S. Paulo".
Investigadores dizem que, a partir disso, vão apurar
se ele está falando a verdade ou não. O site Intercept Brasil vem divulgando reproduções de conversas por meio
de aplicativos de celular atribuídas ao ministro Sergio
Moro e a procuradores integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato em
Curitiba.
Em nota enviada na quarta-feira à noite, o site
Intercept Brasil disse que, assim como a melhor imprensa mundial, não comenta
assuntos relacionados à identidade de suas fontes anônimas. Afirmou também que
a operação deflagrada pela Polícia Federal "não muda o fato de que a
Constituição Federal garante o direito do Intercept de publicar suas
reportagens e manter o sigilo da fonte, mesmo direito garantido para toda a
imprensa brasileira".
Peritos do Instituto de Criminalística da Polícia Federal estão analisando os
computadores e celulares apreendidos na operação que prendeu os quatro hackers
e os dados da quebra do sigilo bancário de Delgatti e dos outros três presos
para apurar as movimentações financeiras entre 1º de janeiro e 17 de julho
deste ano.
Os investigadores dizem que há casos em que os
aparelhos foram apenas acessados e outros em que os dados foram roubados. Ainda
não se sabe qual foi o caso envolvendo cada uma das autoridades vítimas de
hackers.
Nesta sexta-feira, os advogados de Gustavo Elias
Santos e Walter Delgatti estjveram na Superintendência da Polícia Federal, em
Brasília, onde eles estão presos. Mas até a última atualização desta reportagem
não havia confirmação de que os dois prestaram depoimentos ou que ainda serão
ouvidos.
O presidente Jair Bolsonaro foi comunicado, segundo o
Ministério da Justiça, por uma questão de segurança nacional. Os hackers
invadiram dois celulares pessoais do presidente. Tudo indica que, apesar do
ataque, não houve captura de dados.
Bolsonaro tem à disposição vários telefones: o
particular, o funcional e um aparelho desenvolvido pelo serviço de
inteligência, chamado de terminal de comunicação seguro. O Gabinete de
Segurança Institucional afirma que não tem como controlar os telefones
particulares.
"Para mim é um crime, até que fosse o seu, o do
senhor aqui, qualquer um é um crime. E eu sempre tomei cuidado pela minha
formação militar. De informações confidenciais ou estratégicas, não falar por
telefone. Até a gente afasta o telefone ou mesmo [deixa] desligado para quando
for conversar esses assuntos. Então, eu não estou preocupado", afirmou
Bolsonaro nesta sexta, antes de viajar para Goiânia.
O Supremo Tribunal Federal foi avisado pelo ministro Sergio Moro (Justiça) de que ministros da corte
foram alvos dos hackers. Os nomes dos ministros alvos não foram
divulgados. Moro informou ter falado pessoalmente com os alvos e que mensagens
SMS e Telegram foram acessadas. O STF não vai comentar o episódio. Pelo menos um ministro, Alexandre de Moraes, foi vítima de hackers.
O ministro do Superior Tribunal de Justiça, João Otávio Noronha, que também foi
alertado por Moro que teve o celular invadido por hackers, disse que está
tranquilo porque não tem nada a esconder e que pouco utilizava o Telegram.
O presidente do Senado e o da Câmara também foram alvos. O
senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente do Senado, se declarou indignado
com a invasão de privacidade. Disse que é uma afronta aos poderes da República
e à população brasileira. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ficou
surpreso ao saber pela imprensa que foi hackeado. Oficialmente, disse que ainda
não foi notificado.
A Procuradoria Geral da República informou que,
apesar dos ataques de hackers, o telefone funcional da procuradora-geral Raquel
Dodge, chefe do Ministério Público Federal, não teve dados capturados. A PGR
disse ainda que foram identificados ataques a aparelhos utilizados por 25
integrantes do Ministério Público em todo o país. Mas que menos da metade deles
tiveram dados capturados.
A Polícia Federal divulgou na noite de quinta, na qual
esclarece que as investigações "não têm como objeto a análise das
mensagens supostamente subtraídas de celulares invadidos" e que o conteúdo de quaisquer mensagens "será
preservado, pois faz parte de diálogos privados, obtidos por meio ilegal".
Segundo a nota da PF, "caberá à Justiça definir o destino do material,
sendo a destruição uma das opções".
Em uma rede social, o ministro Sergio Moro falou sobre
as fragilidades nos sistemas de comunicação que permitiram a invasão dos
hackers.
Sergio Moro disse que ninguém foi hackeado por falta
de cautela e que não havia sistema de proteção hábil. Segundo ele, a
vulnerabilidade detectada vai ser corrigida graças à investigação da Polícia
Federal. O ministro também disse que as centenas de vítimas dos ataques serão
identificadas e comunicadas pela polícia ou pelo Ministério da Justiça.
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