Revista publica diálogo de Glenn Greenwald com suposta fonte de mensagens vazadas

27/07/2019 - 08h55

O site da revista "Veja" divulgou nesta sexta-feira (26) uma conversa que teria acontecido entre o jornalista Glenn Greenwald, fundador do site The Intercept Brasil, e a fonte de quem ele diz ter recebido diálogos atribuídos ao ministro Sérgio Moro e a procuradores da Operação Lava Jato.

A revista diz, no subtítulo da reportagem, que, em conversa com Greenwald, "hacker diz não ter invadido celular do ministro Sérgio Moro". A reportagem segue, e Veja reproduz um diálogo que afirma ter sido repassado pelo próprio Greenwald.

No diálogo, Greenwald pergunta se a fonte havia lido uma reportagem da “Folha de S.Paulo” com o título “Hacker invade celular de Moro, usa aplicativos e troca mensagens por seis horas” e passa o link da reportagem.

Em resposta, a fonte diz: “Posso garantir que não fomos nós. Nunca trocamos mensagens, só puxamos. Se fizéssemos isso ia ficar muita na cara”. E acrescenta: “A notícia não condiz com nosso modo de operar, nós acessamos telegrama com a finalidade de extrair conversa e fazer justiça, trazendo a verdade para o povo”.

(Há uma outra versão sobre a invasão do celular de Moro. Em depoimento à Polícia Federal, o hacker Walter Delgatti Neto, preso no dia 24, disse que acessou a conta do ministro Sérgio Moro no Telegram mas que não conseguiu obter nenhum conteúdo. Leia mais: "Hacker conta em depoimento como chegou a arquivos de Deltan Dallagnol e os repassou a Glenn Greenwald e diz que não recebeu dinheiro pelo material".)

No dia em que a “Folha” publicou essa reportagem (5 de julho), o Intercept ainda não havia iniciado a série de reportagens. A primeira foi publicada em 9 de junho.

Segundo a revista "Veja", Glenn Greenwald disse que manteve contatos com a fonte desde o início de maio e que todos os contatos foram feitos virtualmente. Ele disse que foi apresentado à fonte por um intermediário e afirmou desconhecer a identidade do hacker, que teria extraído as conversas vazadas do Telegram do procurador Deltan Dallagnol, da força-tarefa da Lava Jato.

“A fonte me disse que não pagou por esses dados e não me pediu dinheiro algum em troca desse conteúdo”, afirmou Greenwald à revista.

Depoimento

A Polícia Federal investiga a interceptação de mensagens de autoridades, como o presidente Jair Bolsonaro, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o presidente do Senado (Davi Alcolumbre) e o ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública). Quatro pessoas foram presas pela Operação Spoofing na terça-feira (23).

Walter Delgatti, um dos quatro presos pela Polícia Federal suspeitos de invadir celulares de autoridades e capturar registros de conversas, disse em depoimento aos agentes que repassou dados ao jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil, de forma anônima e não remunerada, segundo informou o jornal "O Estado de S. Paulo". 

Investigadores dizem que, a partir disso, vão apurar se ele está falando a verdade ou não. O site Intercept Brasil vem divulgando reproduções de conversas por meio de aplicativos de celular atribuídas ao ministro Sergio Moro e a procuradores integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba.

Em nota enviada na quarta-feira à noite, o site Intercept Brasil disse que, assim como a melhor imprensa mundial, não comenta assuntos relacionados à identidade de suas fontes anônimas. Afirmou também que a operação deflagrada pela Polícia Federal "não muda o fato de que a Constituição Federal garante o direito do Intercept de publicar suas reportagens e manter o sigilo da fonte, mesmo direito garantido para toda a imprensa brasileira".

Peritos do Instituto de Criminalística da Polícia Federal estão analisando os computadores e celulares apreendidos na operação que prendeu os quatro hackers e os dados da quebra do sigilo bancário de Delgatti e dos outros três presos para apurar as movimentações financeiras entre 1º de janeiro e 17 de julho deste ano.

Os investigadores dizem que há casos em que os aparelhos foram apenas acessados e outros em que os dados foram roubados. Ainda não se sabe qual foi o caso envolvendo cada uma das autoridades vítimas de hackers.

Nesta sexta-feira, os advogados de Gustavo Elias Santos e Walter Delgatti estjveram na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, onde eles estão presos. Mas até a última atualização desta reportagem não havia confirmação de que os dois prestaram depoimentos ou que ainda serão ouvidos.

O presidente Jair Bolsonaro foi comunicado, segundo o Ministério da Justiça, por uma questão de segurança nacional. Os hackers invadiram dois celulares pessoais do presidente. Tudo indica que, apesar do ataque, não houve captura de dados.

Bolsonaro tem à disposição vários telefones: o particular, o funcional e um aparelho desenvolvido pelo serviço de inteligência, chamado de terminal de comunicação seguro. O Gabinete de Segurança Institucional afirma que não tem como controlar os telefones particulares.

"Para mim é um crime, até que fosse o seu, o do senhor aqui, qualquer um é um crime. E eu sempre tomei cuidado pela minha formação militar. De informações confidenciais ou estratégicas, não falar por telefone. Até a gente afasta o telefone ou mesmo [deixa] desligado para quando for conversar esses assuntos. Então, eu não estou preocupado", afirmou Bolsonaro nesta sexta, antes de viajar para Goiânia.

O Supremo Tribunal Federal foi avisado pelo ministro Sergio Moro (Justiça) de que ministros da corte foram alvos dos hackers. Os nomes dos ministros alvos não foram divulgados. Moro informou ter falado pessoalmente com os alvos e que mensagens SMS e Telegram foram acessadas. O STF não vai comentar o episódio. Pelo menos um ministro, Alexandre de Moraes, foi vítima de hackers.

O ministro do Superior Tribunal de Justiça, João Otávio Noronha, que também foi alertado por Moro que teve o celular invadido por hackers, disse que está tranquilo porque não tem nada a esconder e que pouco utilizava o Telegram.

O presidente do Senado e o da Câmara também foram alvos. O senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente do Senado, se declarou indignado com a invasão de privacidade. Disse que é uma afronta aos poderes da República e à população brasileira. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ficou surpreso ao saber pela imprensa que foi hackeado. Oficialmente, disse que ainda não foi notificado.

A Procuradoria Geral da República informou que, apesar dos ataques de hackers, o telefone funcional da procuradora-geral Raquel Dodge, chefe do Ministério Público Federal, não teve dados capturados. A PGR disse ainda que foram identificados ataques a aparelhos utilizados por 25 integrantes do Ministério Público em todo o país. Mas que menos da metade deles tiveram dados capturados.

A Polícia Federal divulgou na noite de quinta, na qual esclarece que as investigações "não têm como objeto a análise das mensagens supostamente subtraídas de celulares invadidos" e que o conteúdo de quaisquer mensagens "será preservado, pois faz parte de diálogos privados, obtidos por meio ilegal". Segundo a nota da PF, "caberá à Justiça definir o destino do material, sendo a destruição uma das opções".

Em uma rede social, o ministro Sergio Moro falou sobre as fragilidades nos sistemas de comunicação que permitiram a invasão dos hackers.

Sergio Moro disse que ninguém foi hackeado por falta de cautela e que não havia sistema de proteção hábil. Segundo ele, a vulnerabilidade detectada vai ser corrigida graças à investigação da Polícia Federal. O ministro também disse que as centenas de vítimas dos ataques serão identificadas e comunicadas pela polícia ou pelo Ministério da Justiça.


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  • Jornal Regional



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